JORGE ANTONIO BARROS

Enviado por Jorge Antonio Barros

- 02.03.2011 04h11m

.desordem urbana

Carnaval antigo com gente do século XXI

O carnaval ainda nem começou e o Ministério Público estadual já bagunçou o coreto da Polícia Federal, ao desqualificar o inquérito que indiciou o ex-chefe da Polícia Civil, Allan Turnowski, por quebra de sigilo funcional. Mas não é desse bafafá que quero falar hoje, não. Vou escrever em defesa dos que acabam sendo vítimas de uma paixão carioca chamada carnaval de rua. Sem dúvida é instituição do Rio de Janeiro, que foi retomada como um revival cheio de patrocínio público e privado, que tornou-se mal sucedido porque a cidade não é mais aquela do carnaval de 40 ou 50 anos atrás. Muitos cariocas insistem em reviver a maravilhosa folia de outros carnavais, numa época em que a cidade tinha menos habitantes, menos automóveis e se respeitava ao menos as moças de família. Hoje ninguém dá a mínima de botar os "documentos" pra fora e fazer xixi pelas esquinas, a bebedeira é o principal combustível dessa alegria de ocasião e o direito de ir e vir - de quem não quer brincar - é tratado com profunda indiferença. Não são poucas as vezes que se lê na cara dos foliões: "Quem mandou não gostar de carnaval? Ah vá tomar no Grajaú"

No fim de semana passado os blocos deixaram um rastro de destruição, que não poupou portarias de edifícios e nem mesmo estações do metrô. Na de Ipanema, soube que teve bêbado urinando até na linha do trem. A quantidade de lixo deixada por todo canto é o sinal mais visível de que a grande maioria desses carnavalescos não está nem aí pra hora do Brasil. O sentimento individualista que toma essas hordas de arruaceiros é flagrante. Não há mais limites para a diversão e o entretenimento. O espaço público é tratado como o quintal de casa, e quem não quer brincar fica exposto a toda essa fúria carnavalesca.

Com todo esforço para botar ordem na festa, a prefeitura sempre adia uma solução para o carnaval seguinte. Ontem o prefeito anunciou que vai mandar para o Centro uma parte dos blocos que desfila pela Zona Sul. Em 2012. Carnaval de rua no Méier ninguém quer. Praia combina com cerveja que combina com bloco na orla, em domingo de sol. O efeito dessa mistura foi o caos em Ipanema, domingo passado.

A coordenadora do Projeto Segurança de Ipanema, Ignez Barreto, denuncia a venda ilegal de bebidas alcóolicas durante a passagem dos blocos no bairro:

- O fato é que os blocos foram inflados com gordos patrocínios, há muito deixaram de ser inocentes blocos de bairro. A cerveja vendida livremente (é ilegal) faz com que uma multidão de 70.000 pessoas alcoolizadas se transforme numa bomba relógio incontrolável. Outro fato que chama atenção é que a cerveja vendida por ambulante – é ilegal – ambulante só poderia ter autorização pra vender refrigerante, água, suco e mate expõe e induz crianças e adolescentes ao vício do álcool que acaba levando também para outras drogas.
É claro que uma situação como esta não pode continuar.

Ignez propõe que cada morador do bairro se transforme numa espécie de fiscal da ordem, fotografando, escrevendo em mídias sociais como o Twitter e o Facebook. No mundo árabe, as redes sociais ajudaram a derrubar governos. No Rio, elas ajudam mesmo é a turbinar blocos pouco conhecidos.

Os blocos que traduzem a irreverência e o bom humor do carioca - a começar pelos nomes engraçadíssimos - não devem se ofender com a necessidade de um pouco de ordem nessa zona. Nem chegaria a defender choque de ordem nos blocos porque carnaval e ordem são duas coisas que definitivamente não combinam. O que acho importante é que se reflita sobre os direitos de quem não quer sambar. E dessa forma cheguemos a um denominador comum. Do contrário, será preciso se criar uma passarela de blocos, como a pista do Aterro do Flamengo. Já pensou que monótono seria a pessoa vestir a camisa listrada e ter que pegar um ônibus no domingo de carnaval? "Tá indo aonde?" "Vou sair no meu bloco, ali no Aterro". Até que não seria má ideia. Que tal no carnaval de 2016?

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