OBELISCO





Cidade
Agora só falta o obelisco
Passarela que ligava nada a coisa
nenhuma é demolida em Ipanema

Sofia Cerqueira


Marcelo Carnaval/Ag. O Globo

Antes e depois: sem a passarela, sensação de mais espaço no cruzamento da Rua Visconde de Pirajá com a Avenida Henrique Dumont


No meio do caminho havia uma pedra. Ou melhor, um monte delas, que juntas formavam uma estranha passarela, sem escadas nem rampas para que pudesse ser usada. Depois de treze anos, para a alegria dos moradores do bairro, o Pórtico de Ipanema, no cruzamento da Rua Visconde de Pirajá com a Avenida Henrique Dumont, foi derrubado no domingo (30). Tratava-se de uma das promessas de campanha do prefeito Eduardo Paes. A operação levou sete horas e envolveu cerca de 120 pessoas. "Tiramos 140 toneladas de entulho e gastamos 36 508 reais", contabiliza o subprefeito da Zona Sul, Bruno Ramos. A passarela e o obelisco, motivos de chiadeira desde sua construção, foram incorporados à paisagem carioca em 1996 com a remodelação do bairro, a cargo do arquiteto Paulo Casé. Houve quem não gostasse da demolição. "Temo que ela abra precedente para que outros prefeitos destruam marcos urbanos a seu bel-prazer", diz o arquiteto Luiz Fernando Janot, membro do conselho superior do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). "Não quero entrar no mérito do gosto pessoal, mas pergunto: por acaso o Arco do Triunfo tem utilidade?"

Depois da derrocada do pórtico, resta agora, ainda de pé, a haste de ferro galvanizado de 25 metros de altura, equivalente à de um prédio de oito andares. "O obelisco é um monumento ao desperdício do dinheiro público", afirma a aposentada Gladys Nunes, que mora em frente ao "pirulito". O ex-prefeito Cesar Maia defende a cria: "O obelisco nada tem a ver com a passarela, que foi interrompida e ficou como decoração. Ele é um marco à memória de Ipanema". A presidente da Associação de Moradores de Ipanema (Amipanema), Maria Amélia Loureiro, pretende fazer uma pesquisa para saber o que a população quer que aconteça com o monumento restante. O empresário Rui Campos, sócio da rede Livraria da Travessa, assistiu à demolição. "Foi emocionante. O bairro ficou mais arejado", diz ele. "Quanto ao obelisco, acho até simpático. Marca a chegada à Ipanema." A jornalista Danuza Leão, moradora do bairro, era radicalmente contrária ao "conjunto da obra" até ver o obelisco sem o pórtico. "Quase bati palmas", conta. "Sabe aquela história do bode na sala? Quando ele sai, tudo começa a parecer melhor."

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