Monumentos do Rio estão na Berlinda após queda de passarela em Ipanema
João Pequeno, JB Online
RIO - Além do obelisco, agora alvo preferencial de associações de moradores do Leblon e de Ipanema após a demolição da passarela, no domingo, monumentos como o busto do ex-presidente Getúlio Vargas (1882-1954) e o novo Museu da Imagem e do Som na Avenida Atlântica, que ainda nem saiu do papel, foram postos na berlinda por arquitetos que se dividiram sobre as derrubadas, mas concordaram em condenar a falta de planejamento e discussão sobre obras cujos gastos acabam se tornando dinheiro público jogado fora.
A construção do novo MIS na Atlântica “não deve ir à frente”, na avaliação de Artur José Macedo de Oliveira, da Câmara de Arquitetura do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ).
– Será que um gasto que, socialmente, não atenderá a toda a população, vai ser para turista. – argumentou.
Oliveira classificou a demolição da passarela como “inevitável”.
– Não havia outra alternativa. Desde o início, a população foi contra. Agora, deveriam tirar o conjunto todo, com o obelisco.
Para o membro da Câmara de Arquitetura do Crea, os gastos com a demolição deveriam ser bancados por quem determinou a construção “contra a vontade das pessoas”.
– Não o Casé, que fez um projeto encomendado pela prefeitura, mas quem a comandava, no caso, o Cesar Maia – disse, acrescentando que também gostaria de ver o Rio sem o viaduto da Avenida Perimetral. – Seria melhor fazer um mergulhão, como na Praça 15.
A arquiteta e urbanista Denise Pinheiro pegou mais leve, mas não deixou de criticar a passarela.
– Ela realmente ficou perdida. O detalhe é que eles não terminaram. Mas imagina se agora virar moda demolir toda obra de que as pessoas falam mal? Não acho que a solução seja essa, mas planejar melhor. Um bom exemplo é a Cidade da Música. O dinheiro gasto não deve ser derrubado. Há de se terminar, achando bom uso – ponderou.
Até o fechamento desta edição ex-prefeito Cesar Maia não havia respondido o e-mail do JB.
Professor da PUC e sócio do escritório Archi 5 Arquitetos Associados – autor dos projetos Rio Cidade de Vila Isabel e da Glória –, Alder Catunda é contra a demolição do obelisco, mas diz que a passarela formava “uma redundância de arcadas com os pilares dos prédios em volta, fora a invasão de privacidade”.
– O obelisco, acho até legal. Marca o centro do Bar 20, e, para mim, não atrapalha o trânsito, porque a rua ali é mais larga. Pode ter gente que não goste, mas ele já faz parte da memória carioca. Técnicos não são meros desenhistas da opinião pública – argumentou, sem apontar nenhum monumento que quisesse ver demolido.
Carlos Fernando de Andrade, superintendente regional do Instituto do patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) não vê méritos emocionais na obra.
– Um valor cultural é atribuído pela história ou pela comunidade. Aquele obelisco não foi aprovado pelos moradores, nem teve tempo de entrar para a história. Não veria problema em ele ir abaixo – afirmou, apontando o busto do ex-presidente Vargas como seu alvo preferido, sem se referir ao contexto histórico e político do ex-presidente, mas por estética.
– A cabeça, do tamanho que está, é medonha.
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