Facções marcam território na areia
Mario Hugo Monken, Jornal do Brasil
RIO - O apartheid forçado por facções criminosas nas favelas vai de ônibus até a praia. A regra predomina nas areias de Ipanema e Leblon em fins de semana de calor e sol forte, e aí, é cada um no seu quadrado.
Segundo o comandante do 23º BPM (Leblon), tenente-coronel Sérgio Alexandre do Nascimento, mesmo não tendo envolvimento com o crime, os banhistas de comunidades carentes ocupam a praia de acordo com a facção que domina o lugar onde vivem. Se passar para o lado de um grupo de favela rival, vai haver briga, afirma o oficial
– Funciona que nem as torcidas de futebol. É como se um flamenguista fosse para o lado de um vascaíno – declarou
Após duas confusões ocorridas no final de semana passado no Arpoador e no Jardim de Alah, a Polícia Militar mapeou toda a movimentação dos banhistas e preparou esquema especial para os dias em que as praias ficarem lotadas.
De acordo com o comandante, moradores de favelas dominadas pelo Comando Vermelho (CV) se concentram em dois pontos. Um deles é na Praia do Arpoador, local preferido de quem vem dos morros do Cantagalo, em Ipanema, e do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, que formam um complexo.
O outro é no Leblon, em frente a Avenida Afrânio de Mello Franco, que recebe pessoas vindas de comunidades da Zona Norte, como Jacarezinho e Manguinhos, devido a pontos de ônibus.
Segundo Sérgio Alexandre, quem mora em locais controlados pela Amigos dos Amigos (ADA) na Zona Norte costuma ficar no trecho do Jardim de Alah já que é a parte frequentada por Cruzada São Sebastião, Rocinha e Vidigal.
Ele explica que, quando há mistura de comunidades rivais nas areias, é porque os jovens marcam antes brigas pelo site de relacionamentos Orkut.
– Quando tem briga entre grupos é por causa de facção.
Segundo ele, as confusões podem acontecer no Arpoador, no trecho entre as ruas Farme de Amoedo e Teixeira Mello, em Ipanema, e no Jardim de Alah.
– O pessoal da Cruzada São Sebastião sempre se estranha com o do Jacarezinho. Antigamente, quando eram da mesma facção, não havia isso – disse um gari que trabalha no posto 10.
No Arpoador, principalmente, depois do posto 7, frequentadores ouvidos pelo JB disseram que moradores de várias comunidades – independente de facção – frequentam o trecho e que viram brigas.
– Aqui tem gente que vem do Morro do Urubu e outras comunidades de facções rivais. Ficamos de olho para ver se vai ver briga. Se um passar perto do outro grupo e for reconhecido, pode dar confusão – afirma um PM que trabalha na cabine no Arpoador.
No final de semana passado, ocorreram dois arrastões, um no Arpoador, que terminou com a detenção de um adolescente de 17 anos, e outro no Jardim de Alah, que resultou também na captura de outro menor. Houve muita correria e pânico.
Esquema de policiamento
O comandante revela ao JB já ter elaborado um esquema especial de policiamento para os fins de semana de sol forte.
Segundo ele, aos sábados, 17 carros com 38 policiais circularão pela orla, além de 18 PMs a pé pelo calçadão – um total de 56.
Aos domingos, o número de carros será o mesmo, mas haverá mais 16 policiais a pé.
O oficial acrescenta que outros efetivos vão monitorar a chegada dos ônibus à Ipanema e ao Leblon. Ele disse que, caso os coletivos estejam superlotados, os PMs orientarão os passageiros a descerem aos poucos, de modo a evitar aglomerações nos pontos finais.
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