SERÁ ???


Eduardo Paes afirma que obelisco de Ipanema pode ser derrubado


Jornal do Brasil


THAILA FRADE E CARLOS BRAGA - 'Primeiro preciso saber o que a população pensa em relação àquele monumento'. Essa foi a resposta do prefeito Eduardo Paes, na entrevista publicada ontem pelo Jornal do Brasil sobre o balanço dos cem dias de governo, ao admitir que derrubaria o obelisco de Ipanema, uma das maiores polêmicas herdadas de Cesar Maia. Talvez nem seja preciso fazer pesquisa. A rejeição é praticamente unânime.


O presidente do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas, Jeferson Salazar, também integrante do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Rio de Janeiro (Crea), até afirma que o Obelisco se incorporou à paisagem urbana de Ipanema. Mas ressalta:


– A pergunta que deixo é se há necessidade de um monumento naquele ponto.


A diretora de Urbanismo da Associação de Moradores de Ipanema, Gretel Machado Fagundes, reforça o coro dos que questionam o monumento.


– O obelisco poderia ficar bom em qualquer outro canto, mas naquele ponto qualquer obra seria questionável. Toda obra que não tem função prejudica.


Em setembro do ano passado, às vésperas da eleição municipal, moradores fizeram uma manifestação pedindo a retirada da passarela.


– Torço para derrubarem, se não as duas obras, pelo menos a passarela, que é antiestética e, sem manutenção, está toda enferrujada – afirma a presidente da Associação dos Moradores de Ipanema,Maria Amélia Loureiro. – No ano passado, a prefeitura chegou a orçar a retirada da passarela, que ficaria em R$ 20 mil. Mas, como já era fim de governo, acabou deixando de lado. Temos um abaixo-assinado com mil adesões pela retirada daquilo.


Só o autor defende sua obra:


– O obelisco é uma marca de memória do Bar 20, que foi sinal de identidade de Ipanema – explica o ex-prefeito.


Curiosamente, Cesar, que fez a obra sem consultar a população, agora defende a pesquisa.
– Seria interessante informar aos mais velhos a respeito e perguntar se vale a pena cultuar essa memória ou não.


Construído em 1996, na interseção da Rua Visconde de Pirajá com a Avenida Henrique Dumont, o obelisco fazia parte do projeto Rio Cidade 2, que previa a reurbanização de 15 bairros, entre eles Ipanema. Com desenho assinado pelo arquiteto Paulo Casé (procurado pela reportagem, mas não encontrado), desde então ser tornou alvo de polêmica, seja pelo valor – R$ 100 mil na época, quantia questionada pela sociedade e pelos opositores do então prefeito – seja pela funcionalidade e necessidade da obra para o bairro. O desenho incluiu uma passarela, que acabou inutilizada, porque invadia a privacidade dos moradores dos prédios em volta, e hoje liga o nada a coisa nenhuma.


– Toda criação é solitária e o Paulo é um excelente arquiteto, mas o valor estético é questionado pela comunidade, já que não vê nele uma representação do bairro – aponta o arquiteto Francisco Rebello. – Se o obelisco for demolido, ainda assim há necessidade de um marco no local, o que poderia ser obtido com um concurso de arquitetos e urbanistas, para que apresentassem as sugestões que melhor atendessem à população.


Além de as qualidades estéticas do monumento serem questionadas de maneira quase unânime, a serventia é desconhecida. Ninguém sabe dizer ao certo qual seria a função da obra. Acabou contribuindo para atravancar o fluxo do trânsito. A estrutura de ferro galvanizado, com 22 metros de altura, foi plantada bem no meio da Rua Visconde de Pirajá.


Paulo César Ribeiro, professor de engenharia de transporte da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), garante que, do ponto de vista da engenharia de tráfego, seria melhor que o obelisco jamais tivesse sido instalado. Ele até concorda com a permanência da obra caso fosse bem sinalizada, o que, segundo Ribeiro, não é o caso.


– A sinalização dele anda meio desgastada, pode vir a causar algum problema. Do ponto de vista da engenharia de tráfego, não é muito recomendado ter um obstáculo no meio de qualquer via. Pode surpreender motoristas que não estão acostumados. Um turista que não conhece a cidade não espera que surja um meio-fio no meio da avenida.


Trambolho é o apelido mais carinhoso que os moradores das redondezas deram ao obelisco. A jornalista Mônica Cotta lembra que na época da construção todo mundo reclamou.


– Não teve ninguém contente com o monumento, foi uma revolta geral. Ficou uma coisa muita feia, motivo de chacota. Quando pego táxi, a minha referência é 'em frente ao monumento horrível do Cesar Maia'. Fora os apelidos, que não vou citar.


Moradores, anônimos ou famosos, pedem demolição


As reclamações dos moradores quanto ao obelisco não são estéticas, e sim práticas. Problemas como a segurança do trânsito, os custos de manutenção, os vendedores ambulantes e até os pombos que se alojaram no arco são citados por moradores anônimos ou ilustres, motoristas e comerciantes das cercanias.


A presidente da Comissão de Amigos do Jardim de Alah, Gladys Nunes, apoia a demolição total do monumento e denuncia os problemas que atraiu para os arredores.


– Estou torcendo para que se coloque tudo abaixo. Tanto o prefeito quanto o governador estão cientes de nossa opinião. Não só o obelisco, mas o entorno está abandonado, tornando-se nocivo pela sujeira que se acumula.


A presidente da comissão é apoiada pelo advogado Talib Brahim.


– O obelisco só trouxe problemas para a região. É insegurança, sujeira, desvalorização dos imóveis e descaracterização da área. Apoio que ele vá abaixo.
Comerciantes e motoristas de táxi que fazem ponto nas redondezas destacam os problemas frequentes de segurança.


– Acho que deveriam derrubar tudo. Atrapalha o comércio, as pessoas instalam barracas em volta, tapa as fachadas das lojas, prejudicando a localização pelos fregueses, e essas colunas todas também acabam servindo de banheiro para os moradores de rua que se instalam na região – reclama o comerciante Haroldo Félix.


Trânsito preocupa


A segurança no trânsito é citada por motoristas de táxi que fazem ponto na praça.
– Não é raro haver acidentes e até uma linha formada pelo para-choques dos carros que sobem a mureta é visível. Outro problema grande é quando chove, já que a tinta colorida no piso faz os carros deslizarem – alerta o taxista Paulo Alexandre.


O trânsito também foi citado pelo ator Alexandre Borges, que destaca a importância do obelisco na divisão do fluxo de carros e ônibus, mas questiona a funcionalidade do conjunto arquitetônico.
– Na época, a intenção era muito boa, já que organizou o trânsito que havia no local, mas acabou que ficou sem serventia, pois a passarela foi interditada. Sou a favor de que se coloquem abaixo a passarela e o monumento. Tinha uma boa intenção, mas uma obra daquele tamanho tem de ser bem pensada – critica.

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