Preta Gil está pronta para conduzir mais de cem mil foliões, com o Bloco da Preta, pela Praia de Ipanema
Preta Gil coloca seu bloco na rua, neste domingo, em Ipanema / Foto: Extra / Luis Alvarenga
Carol Campanharo
Com ela, o babado é forte, a confusão é grande e a gritaria, maior ainda. Preparadíssima para arrastar mais de cem mil foliões, neste domingo, pela Praia de Ipanema, com o Bloco da Preta, Preta Gil é só alegria com a boa fase, que, segundo a própria, não vai passar nunca mais. Reunindo multidões de fãs em seus shows pelo Rio e Brasil afora, participações na TV (ela esteve recentemente em "Ti ti ti", fez show no "Big Brother Brasil" e participa do conselho "Bate-bola BBB" do "Mais você") e um papel superespecial escrito para ela num filme, a cantora quer mesmo é puro babado pela frente. Mas isso, no palco e trabalhando. Porque na intimidade e entre amigos, Preta não é tão expansiva quanto se pensa, e se diz "mais careta do que todo mundo" que ela conhece.
— Tenho 36 anos, não sou mais garota. Vivi bem a minha adolescência, só nunca fui de fazer merda. Nunca bebi, nunca fumei, nunca cheirei, nunca experimentei drogas. Então, sou careta. A minha "porralouquice" sempre esteve na minha animação. Sempre fui a mais animada do grupo, a que reunia todo mundo e tinha a energia de fazer festa em casa diariamente. Casei aos 17 anos e fiquei casada até os 29, com três maridos diferentes (risos). Depois, passei anos na solteirice, namorei bastante, me experimentei. Mas não fiz nada que agredisse nem a mim nem ao meu corpo. Hoje, no relacionamento e no momento em que estou, muitas coisas não cabem mais, como as farras e as noitadas — conta Preta, enquanto posa para as fotos desta reportagem no Sheraton Rio Hotel & Resort, no Leblon.
No auge de sua carreira musical, que começou em 2002, a cantora fez 210 shows no ano passado (cerca de 18 por mês), lotando grandes casas da cidade, como Vivo Rio e o extinto Canecão, e vem se mantendo numa linha crescente. Desde que 2011 começou, ela não parou sequer um fim de semana. Os dias que tem para descansar, dedica ao maridão, o mergulhador Carlos Henrique Lima, e ao filho, Francisco, de 16 anos.
— Sou uma mãe superultramegapresente. Chego a ser exagerada. Se ele vai a uma festa, quando chegar, pode ser às 4h da manhã, tem que entrar no meu quarto e dar uma baforada na minha cara. Até acho minha caretice demasiada, diferente da educação que tive. Meus pais não eram tão radicais assim. Mas, antes de ele fazer 18 anos, eu dou as regras. Nunca recriminei meus amigos. Lido com as drogas desde muito pequena, em casa. Alguns amigos do meu pai fumavam maconha. Só acho que drogas não são bem-vindas em nenhum momento da vida. Mas Francisco é tranquilo, tenho muita sorte. Sou uma pessoa abençoada por Deus — afirma a filha do cantor Gilberto Gil.
Preta Gil / Foto: Luis Alvarenga / Extra
E bota abençoada nisso! Quem começou a fazer show (o "Noite Preta") cantando para 150 pessoas e reúne agora, três anos depois, mais de duas mil nos ensaios de seu bloco, semanalmente, no Circo Voador, apenas com a divulgação feita pelos fãs que conquistou, só pode ter sorte mesmo. Além de talento, é claro:
— Acho que devo isso ao meu público, que fez e faz até hoje um trabalho bem bacana de boca a boca. Mas não vou tirar os meus méritos e os da minha banda. Criei um método de show muito divertido. Canto MPB, mas dentro do que considero música popular brasileira tem vários gêneros. Não deixo de cantar coisas da moda, porque o povo gosta. Escuto muito "Nossa, ela mistura axé, pagode, funk (de "Baba baby", da Kelly Key, até "Sina", do Djavan), e pior que eu gostei". O "Noite Preta" tem essa essência, é um rompimento do rótulo e do preconceito. As pessoas saem satisfeitas por isso.
Mas não é só o preconceito musical que Preta Maria vem quebrando: o social e o sexual também. Carioca nascida e criada em Ipanema, por onde passa ela mistura naturalmente a galera de Mesquita, Méier, Barra e Leblon, e acha incrível. Com um forte público gay, seu show é ainda sinônimo de espaço onde se pode "dançar homem com homem e mulher com mulher", como Preta faz questão de lembrar no palco.
— Eles (gays) se sentem à vontade. Ali não é um lugar onde serão hostilizados, até porque eu os instigo. O lema da "Noite Preta" é "Permita-se!". Sou contra guetos, totalmente a favor da inclusão. Sou uma mulher negra e, quando mais nova, nunca me senti diferente ou excluída da sociedade. Queria me incluir em todas as rodas. Vejo casais gays e casais hetero se beijando quando me apresento, e acho que essa é a evolução da sociedade. Temos que ter tolerância, respeitar a escolha do outro, não julgar antes de conhecer. Não é demagogia, nem quero que soe como uma coisa piegas, mas, de fato, desejo que as pessoas sejam felizes e respeitem umas às outras. E no meu mundinho, isso acontece — garante.
Sempre muito bem-resolvida, Preta tem a mesma segurança de quando diz não à homofobia ao falar dos seus 80 quilos. Em formas fora dos padrões de beleza vigentes, ela tem certeza de que é gostosa, está com a saúde em dia, só faz dieta para cuidar da voz e não perde a oportunidade de tentar convencer mulheres como ela a se aceitarem.
— Sou a típica mulher brasileira. E, sim, me acho fonte de inspiração para as mulheres mais cheinhas como eu — conta Preta, concordando que talvez seja a musa, a "Gisele Bündchen das gordinhas": — Teve uma época em que pesava 58 quilos e era profundamente infeliz. De que adianta? Poderia emagrecer se quisesse, mas não estou a fim. Não quero me sacrificar com remédios e cirurgias que não resolvem nada, são apenas paliativos.
A época a qual se refere foi quando, aos 27 anos, depois de vender sua empresa e largar a carreira como produtora, quis cantar.
— Precisei fazer terapia. Entrei numa depressão profunda, achei que estava ficando maluca. Na terapia, descobri que era infeliz porque negava minha essência artística. Então, minha alta médica foi quando subi pela primeira vez no palco. Acho que bati lá no fundo do poço, mas acreditei que era capaz e voltei com tudo — comemora ela, já anunciando a novidade: — Em 2012, é certo que o Bloco da Preta estará em Salvador.
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— Tenho 36 anos, não sou mais garota. Vivi bem a minha adolescência, só nunca fui de fazer merda. Nunca bebi, nunca fumei, nunca cheirei, nunca experimentei drogas. Então, sou careta. A minha "porralouquice" sempre esteve na minha animação. Sempre fui a mais animada do grupo, a que reunia todo mundo e tinha a energia de fazer festa em casa diariamente. Casei aos 17 anos e fiquei casada até os 29, com três maridos diferentes (risos). Depois, passei anos na solteirice, namorei bastante, me experimentei. Mas não fiz nada que agredisse nem a mim nem ao meu corpo. Hoje, no relacionamento e no momento em que estou, muitas coisas não cabem mais, como as farras e as noitadas — conta Preta, enquanto posa para as fotos desta reportagem no Sheraton Rio Hotel & Resort, no Leblon.
No auge de sua carreira musical, que começou em 2002, a cantora fez 210 shows no ano passado (cerca de 18 por mês), lotando grandes casas da cidade, como Vivo Rio e o extinto Canecão, e vem se mantendo numa linha crescente. Desde que 2011 começou, ela não parou sequer um fim de semana. Os dias que tem para descansar, dedica ao maridão, o mergulhador Carlos Henrique Lima, e ao filho, Francisco, de 16 anos.
— Sou uma mãe superultramegapresente. Chego a ser exagerada. Se ele vai a uma festa, quando chegar, pode ser às 4h da manhã, tem que entrar no meu quarto e dar uma baforada na minha cara. Até acho minha caretice demasiada, diferente da educação que tive. Meus pais não eram tão radicais assim. Mas, antes de ele fazer 18 anos, eu dou as regras. Nunca recriminei meus amigos. Lido com as drogas desde muito pequena, em casa. Alguns amigos do meu pai fumavam maconha. Só acho que drogas não são bem-vindas em nenhum momento da vida. Mas Francisco é tranquilo, tenho muita sorte. Sou uma pessoa abençoada por Deus — afirma a filha do cantor Gilberto Gil.
Preta Gil / Foto: Luis Alvarenga / Extra
E bota abençoada nisso! Quem começou a fazer show (o "Noite Preta") cantando para 150 pessoas e reúne agora, três anos depois, mais de duas mil nos ensaios de seu bloco, semanalmente, no Circo Voador, apenas com a divulgação feita pelos fãs que conquistou, só pode ter sorte mesmo. Além de talento, é claro:
— Acho que devo isso ao meu público, que fez e faz até hoje um trabalho bem bacana de boca a boca. Mas não vou tirar os meus méritos e os da minha banda. Criei um método de show muito divertido. Canto MPB, mas dentro do que considero música popular brasileira tem vários gêneros. Não deixo de cantar coisas da moda, porque o povo gosta. Escuto muito "Nossa, ela mistura axé, pagode, funk (de "Baba baby", da Kelly Key, até "Sina", do Djavan), e pior que eu gostei". O "Noite Preta" tem essa essência, é um rompimento do rótulo e do preconceito. As pessoas saem satisfeitas por isso.
Mas não é só o preconceito musical que Preta Maria vem quebrando: o social e o sexual também. Carioca nascida e criada em Ipanema, por onde passa ela mistura naturalmente a galera de Mesquita, Méier, Barra e Leblon, e acha incrível. Com um forte público gay, seu show é ainda sinônimo de espaço onde se pode "dançar homem com homem e mulher com mulher", como Preta faz questão de lembrar no palco.
— Eles (gays) se sentem à vontade. Ali não é um lugar onde serão hostilizados, até porque eu os instigo. O lema da "Noite Preta" é "Permita-se!". Sou contra guetos, totalmente a favor da inclusão. Sou uma mulher negra e, quando mais nova, nunca me senti diferente ou excluída da sociedade. Queria me incluir em todas as rodas. Vejo casais gays e casais hetero se beijando quando me apresento, e acho que essa é a evolução da sociedade. Temos que ter tolerância, respeitar a escolha do outro, não julgar antes de conhecer. Não é demagogia, nem quero que soe como uma coisa piegas, mas, de fato, desejo que as pessoas sejam felizes e respeitem umas às outras. E no meu mundinho, isso acontece — garante.
Sempre muito bem-resolvida, Preta tem a mesma segurança de quando diz não à homofobia ao falar dos seus 80 quilos. Em formas fora dos padrões de beleza vigentes, ela tem certeza de que é gostosa, está com a saúde em dia, só faz dieta para cuidar da voz e não perde a oportunidade de tentar convencer mulheres como ela a se aceitarem.
— Sou a típica mulher brasileira. E, sim, me acho fonte de inspiração para as mulheres mais cheinhas como eu — conta Preta, concordando que talvez seja a musa, a "Gisele Bündchen das gordinhas": — Teve uma época em que pesava 58 quilos e era profundamente infeliz. De que adianta? Poderia emagrecer se quisesse, mas não estou a fim. Não quero me sacrificar com remédios e cirurgias que não resolvem nada, são apenas paliativos.
A época a qual se refere foi quando, aos 27 anos, depois de vender sua empresa e largar a carreira como produtora, quis cantar.
— Precisei fazer terapia. Entrei numa depressão profunda, achei que estava ficando maluca. Na terapia, descobri que era infeliz porque negava minha essência artística. Então, minha alta médica foi quando subi pela primeira vez no palco. Acho que bati lá no fundo do poço, mas acreditei que era capaz e voltei com tudo — comemora ela, já anunciando a novidade: — Em 2012, é certo que o Bloco da Preta estará em Salvador.
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