PROTESTO


PROTESTO: MERCADORIA BARATA


MOTIVO: O Rio de Paz obteve informação de fonte segura, que o próximo relatório do Instituto de Segurança Pública, referente às mortes violentas no mês de Setembro de 2009 no Estado do Rio de
Janeiro, revelará que em 1 000 dias (Janeiro de 2007 – Setembro de 2009) houve 20.000 assassinatos, o que significa que entre Janeiro de 2007 e Setembro de 2009, 20 cidadãos fluminenses foram mortos por dia. Veja os números oficiais:

ESTATÍSTICA OFICIAL DO INSTITUTO DE SEGURANÇA PÚBLICA

AUTO DE RESISTÊNCIA
2007 – 1.330
2008 – 1.137
2009 (Janeiro-Agosto) - 723
TOTAL (Janeiro 2007-Agosto 2009) - 3 190

HOMICÍDIO DOLOSO
2007 – 6.133
2008 – 5.717
2009 (Janeiro-Agosto) - 4 027
TOTAL (Janeiro 2007-Agosto 2009) - 15.877

POLICIAIS MORTOS
2007 - 32
2008 - 26
2009 (Janeiro-Agosto) - 24
TOTAL (Janeiro 2007-Agosto 2009) - 82

LATROCÍNIO
2007 - 192
2008 - 235
2009 (Janeiro-Agosto) - 144
TOTAL (Janeiro 2007-Agosto 2009) - 571



TOTAL DE MORTES VIOLENTAS (JANEIRO 2007 - AGOSTO 2009) - 19.720

LOCAL, DIA e FORMA DO PROTESTO: Mais uma vez usaremos a Praia de Copacabana nesse próximo sábado (24/10). A procissão, com carros de supermercado (20) trazendo voluntários dentro (como se estivessem mortos) e sendo empurrados também por voluntários (vestidos de preto), partirá da Rua Figueiredo de Magalhães e se dirigirá até a Avenida Princesa Isabel, onde será montado o novo Painel da Violência (agora, sustentado pelo braço dos voluntários do Rio de Paz) e serão formadas 2 filas indianas com os carrinhos de supermercado.

HORÁRIO: A procissão terá início às 9h30, partindo da Rua Figueiredo de Magalhães (utilizaremos apenas um pequeno pedaço da Avenida Atlântica, sem interrompermos o trânsito). Ao chegarmos à Avenida Princesa Isabel, formaremos 2 filas indianas com os carrinhos de supermercado, fixando o Painel da Violência ao fundo e entre as fileiras. Alguns voluntários portarão bandejas com 20 000 grãos de feijão, a fim de que pedestres possam mensurar o que significam 20 000 assassinatos. Ali ficaremos até às 13h.



O QUE QUEREMOS:

1. Chamar a atenção do todo da sociedade para o fato de que a diminuição da violência do Rio, não é tarefa apenas da Secretaria de Segurança Pública, mas do todo da população.

2. Levantar a questão: Por que essas mortes não foram evitadas? O que elas revelam sobre a política de segurança pública do nosso estado?

3. Pedir que as nossas autoridades públicas implementem as 15 propostas do Manifesto Rio de Paz pela Redução de Homicídio no Brasil.

4. Solicitar uma audiência com a secretaria de segurança, na qual representantes da sociedade civil na companhia da imprensa, possam apresentar suas principais indagações e demandas quanto ao tema da segurança pública no nosso estado.

5. Deplorar a cultura da banalização da vida (os carros de supermercado serão usados em razão de um episódio emblemático ocorrido essa semana no Rio, quando o corpo de um cidadão fluminense foi achado dentro de um desses carrinhos - uma verdadeira metáfora sobre o que está acontecendo no nosso estado).


NOSSA OPINIÃO:

A Olimpíada da Vida no Rio de Janeiro

Após mais um fim de semana de terror, somos confrontados pela antiga pergunta: o que é necessário para que o Rio de Janeiro consiga diminuir a violência? A resposta está na postura que fez com que a cidade atingisse a meta de sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Afinal, o que ocorreu e foi decisivo para que o pouco provável se concretizasse? Todos perceberam que sediar as Olimpíadas era algo tão importante, e ao mesmo tempo tão difícil, que trataram de fazer todo o necessário para superar um desafio aparentemente acima da linha do possível. As três esferas do governo se uniram, com cada parte fazendo aquilo que lhe competia em um projeto factível. Paralelamente, a população foi convidada a participar. Um painel que contava a adesão popular à realização dos jogos foi posto na Praia de Copacabana e informações claras sobre o planejamento foram constantemente divulgadas.

A constatação óbvia é de que a Secretaria de Segurança Pública não pode permanecer solitária contra o crime. Podemos dizer, em sã consciência que esses homens podem sozinhos dar fim à presença do crime organizado nas centenas de favelas da região metropolitana do Rio que se encontram sob domínio de narcotraficantes e milicianos? O que eles podem fazer pelos milhares de jovens pobres, fora da escola, sem referência de pai, com uma demanda incomensurável de auto-estima e prontos a ocuparem os postos deixados pelos companheiros assassinados?

Podemos ter nossas diferenças com a atual gestão da segurança pública do Rio, mas não podemos ser injustos a ponto de dizer que a responsabilidade é somente das autoridades, civis ou militares. O fracasso é de todos nós. É toda a sociedade que está lidando irresponsável e impassivelmente com um problema que já representou, apenas no atual governo, 20 mil mortes violentas. Nenhum povo jamais venceu desafio social na base do voluntarismo vaidoso de uns poucos que alimentam seus complexos de Messias. À nossa sociedade cabe assumir a responsabilidade, acompanhar de perto os fatos, pressionar o poder público mediante os canais já estabelecidos pelo Estado Democrático de Direito e aprender a ir às ruas para lutar pelos seus direitos.

Ao governo do Estado cabe ser humilde. O atual governo se orgulha da ocupação de quatro comunidades que estavam sob controle do crime organizado e de haver rebatizado um certo modelo de policiamento comunitário. Mas o que falar de João Hélio, João Roberto e outras crianças assassinadas; dos milhares de casos de desaparecidos; dos policiais mortos em confrontos desnecessários; das execuções perpetradas por policiais, dos homicídios à luz do dia em vias públicas?

O governo do Estado precisa vir a público dar explicações e apresentar sua política de segurança pública. Nós, cidadãos, temos o direito de saber como essa polícia pretende usar o monopólio do uso da força e também o de dizer o que não nos é conveniente, sob hipótese alguma, em termos de procedimento policial. Além disso, é preciso que o governo assuma sua incapacidade de sozinho trazer solução para o maior desafio social que temos atualmente. Em suma, cabe à sociedade ser mais responsável e humana, e ao governo, mais transparente e humilde. Caso contrário, na olimpíada da vida seremos campeões mundiais em número de mortos.


Antônio Carlos Costa
Diretor executivo do Rio de Paz

Nenhum comentário:

Postar um comentário