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Estudo diz que população tem preconceito contra quem mora na favela

João Pequeno, JB Online


RIO - Ao pesquisar a percepção dos moradores das comunidades pobres de Manguinhos e dos bairros urbanizados de todas as áreas da cidade sobre a relação entre favela e “asfalto” e as obras do chamado PAC-Favelas, o Instituto Brasileiro de Análises Sócio-Econômicas (Ibase) concluiu que a cidade não está tão “partida”, ao menos quando se trata de opiniões sobre temas como violência e serviços públicos.

O que mais muda são os motivos de reclamação, como constatou nesta terça-feira o Jornal do Brasil nas ruas de Manguinhos e de Ipanema.

A pesquisa, elaborada junto com a Fundação Getúlio Vargas, será lançada oficialmente nesta quarta-feira, às 9h30, na Fundação Instituto Oswaldo Cruz, em Manguinhos.


A segurança pública – serviço mais criticado na pesquisa – teve nota 2,9 tanto em Manguinhos quanto no asfalto, com características diferentes, porém.

O vendedor ambulante Marco Aurélio da Silva, 27 anos, está entre os 22% dos moradores de Manguinhos que á tiveram amigos vítimas da violência policial – contra 13% do asfalto. Para ele, “na favela, todo parece igual para a polícia, seja ou não seja bandido”.

– Muitos amigos já levaram tapa na cara sem motivo – afirmou.

Já em Ipanema, o medo é maior com roubos de automóveis, crime que 20% de seus entrevistados sofreram ou conhecem pessoas que sofreram. A administradora aposentada Ieda Alonso, 75, admite ter corrido um risco “que não devia” duas vezes ao arrancar com o carro para fugir de assaltos.

– Meu filho teve dois automóveis roubados – acrescenta.

Recebendo nota 5,1 em Manguinhos e 5,3 no asfalto, o transporte coletivo teve reclamações opostas de cada lado.

Voltando do trabalho na Ilha do Governador, a doméstica Maria Regina Oliveira, 64, reclamava dos “20 minutos” que precisa esperar pelo ônibus 634 (Saens Peña-Freguesia), único que lhe serve.

Já na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, a designer gráfica Beatriz Mathias, 40, observava o excesso de linhas entupindo o trânsito da Rua Visconde de Pirajá, enquanto se queixava da má iluminação no local, tocando em outro item mal avaliado tanto pelas pessoas do asfalto (nota 5,2) quanto pelas da favela (4,4).

Para Dulce Pandolfi, diretora do Ibase, as avaliações semelhantes são explicadas porque “a expectativa é muito diferente. A favela pensa em um padrão; o asfalto, em outro”.

O Ibase e a FGV também levantaram que moradores de ambos os “lados” concordam que há muito preconceito contra moradores de favelas e negros, em proporções de 65% a 78%. Os moradores de Manguinhos ouvidos pelo JB – todos negros – disseram nunca ter sido vítimas de discriminação, porém.

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