CORNETEIRO DE PIRAJÁ



Intolerância esculpida


“Nas últimas décadas, a decadência da cidade levou por água abaixo esse nível de intervenção pública. Chega o prefeito e põe uma escultura de um caricaturista porque acha engraçado, um amigo do governador ou uma senhora beneficente doa uma escultura. O Rio virou a casa da mãe Joana.” Essas são palavras do artista plástico Carlos Zilio, publicadas no Segundo Caderno do jornal O Globo, que circulou no dia 19 de julho, domingo, em artigo assinado por Suzana Velasco a respeito da polêmica discussão sobre a criação de uma política de ocupação das áreas públicas do Rio de Janeiro por monumentos e obras de arte. O fato é encabeçado por um abaixo-assinado organizado por artistas, críticos e profissionais de artes que consideram de qualidade duvidosa a proliferação de esculturas pela cidade. O grupo, que fez parte de uma comissão formada na segunda gestão de César Maia, que foi extinta por não ter suas reivindicações atendidas, há tempos insiste em manter o assunto em pauta.
Obviamente que num país democrático como o Brasil esse tipo de discussão é válida, mas me parece que o assunto merece maior abrangência, principalmente nas considerações adotadas pela tal comissão que aponta algumas das estátuas que estão espalhadas pelo Rio, muitas delas já famosas, como o Pixinguinha da Travessa do Ouvidor, o Drummond, de Copacabana, e o Corneteiro de Pirajá, de Ipanema, como inapropriadas pelo fato de não terem “influência neoclássica” como o D. Pedro I da Praça Tiradentes, citada na matéria. Quer dizer, na visão conservadora da tal comissão, obras de artistas como Otto Dumovich – autor das esculturas de Pixinguinha, Braguinha e Cartola – e Victor Henrique Woitschach, o Ique – autor do famoso Corneteiro de Pirajá – não estariam hoje nas ruas.
Reitero que toda discussão democrática é válida, porém me incomoda muito o desprezo de alguns grupos em relação a estilos que diferem dos clássicos, especialmente aqueles criados por notórios caricaturistas que enveredam para outras manifestações artísticas, estigmatizados no papel de fazedores de graça, tornando a obra de um desenhista de humor algo descartável. Pode-se gostar ou não de uma obra de artes, mas considerar que o Corneteiro de Pirajá está exposto em Ipanema, na esquina da Rua Visconde de Pirajá com a Garcia D’Ávila, só porque o ex-prefeito César Maia achou engraçado, me parece uma tese sem muita consistência. Pode-se discutir a incumbência de uma peça dessas e, principalmente, se ela atrapalha a vida dos transeuntes, mas comparar a obra de alguns de nossos artistas com algo semelhante a uma peça de Playmobil soa bastante desrespeitoso.
Atingido diretamente pela polêmica, o caricaturista Ique, que é chargista do Jornal do Brasil há mais de 20 anos, sentiu-se ofendido e afirmou em seu blog que seu corneteiro tem critério e embasamento estético, gráfico e histórico. Conta de maneira irreverente, como acontecido, a história de um corneteiro herói. Foi trabalho de uma pesquisa profunda da história do Brasil, do bairro de Ipanema e das personalidades que deram seus nomes às ruas, como Visconde de Pirajá, Garcia D’Ávila, Maria Quitéria e outros. Além disso, Ique afirma que toda expressão de arte é subjetiva, é sentimento, emoção, conteúdo e interpretação. “Quem é o Deus capaz de julgar isso, e atirar a primeira pedra? Deus não, desculpem, deuses: Os deuses da comissão. Só eles. Se a arte não fosse subjetiva e pudesse agradar de maneira diferente a todas as pessoas, como é que sobreviveriam ou teriam admiradores artistas "abstratos" como Zillio, Magalhães e Cocciarale, membros da comissão?”, pergunta Ique em seu blog.
Não resido em Ipanema. Sou nascido e criado na Zona Norte do Rio, nas imediações do Grande Méier. Portanto, não faço a menor idéia se os moradores do famoso bairro da Zona Sul carioca aprovam ou não a permanência do corneteiro nas esquinas próximas às suas residências, mas pelo que foi divulgado eles não foram consultados também sobre sua retirada, e não me parece que os contribuintes elegeram a tal comissão para representá-los. Infelizmente, fica no ar a sensação de que a intenção real é inibir a chegada de novos escultores que não façam parte desse grupo, que de certa forma parece brigar pelos espaços públicos para impor suas próprias obras ou linguagens.
Por mim, o corneteiro as peças de Otto Dumovich ficam onde estão.
Só para lembrar: o Pequeno Jornaleiro, escultura que está afixada entre a Rua Sete de Setembro e a Avenida Rio Branco, é de autoria de Fritz, que, assim como Ique, é outro dos nossos excepcionais caricaturistas.

Na imagem, o amigo internauta pode ver a matéria na íntegra e tirar suas próprias conclusões.
Postado por Zé Roberto Graúna

4 comentários:

  1. Concordo com você, essas esculturas são patrimônio nacional,federal e municipal.Essas bichas querem destruir a história do Rio de Janeiro!O Drummond, já e história em Copacabana(onde vivo) e muitas esculturas tem que ser prezaervadas para podermos mostrar aos nossos filhos,netos...

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  2. Concordo com você, essas esculturas são patrimônio nacional,federal e municipal.Essas bichas querem destruir a história do Rio de Janeiro!O Drummond, já e história em Copacabana(onde vivo) e muitas esculturas tem que ser prezaervadas para podermos mostrar aos nossos filhos,netos...

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  3. acho que esses 'artistas' do parque laje estao defendendo o territorio deles com medo da concorrencia -afinal estas esculturas fazem o maior sucesso e agradam a todos;o que ja nao acontece com as 'obras' do grupinho mal humorado!é´muita inveja e preconceito da parte reclamona.

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  4. romero brito ofereceu uma escultura pera ipanema.é um artista conhecido internacionalmente e suas obras valem muito(entre outros artistas a cantora madonna pagou uma fortuna por uma pintura dele)entao eu pergunto:esse pessoal quer mandar na nossa cidade?quem sao eles?prefeitos eleitos por quem?

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