Beatriz Kuhn, fundadora do Movimento Basta!, concedeu uma entrevista à revista Carta Capital, ainda não publicada.
Ei-la, na íntegra, fornecida pela própria Beatriz:
Ei-la, na íntegra, fornecida pela própria Beatriz:
Movimentos da sociedade civil nem sempre conseguem ir além da mobilização, da conscientização. Que avaliação você faz do Basta nestes dois anos?
Os movimentos sociais surgem da necessidade de se pressionar por mudanças. Se a cidadania no Brasil não fosse patológica - como é - os movimentos da sociedade civil não precisariam ir além de mobilizar e conscientizar para emplacar as mudanças desejadas, como ocorre em muitos paises.
Os espanhóis, por exemplo, derrubaram a eleição certa do Ashnar para a presidência, na véspera. Usando o celular eles combinaram de mudar o resultado previsto nas urnas. No Brasil, por mais indignada que as pessoas estejam ela tem muita dificuldade de se unir e atuar coordenadamente essa indignação. A Sociedade Civil está de tal forma engessada emocionalmente que assistiu a desmoralização do escândalo e não foi capaz de fazer nada.
Portanto, o BASTA! precisou ir além da idéia de mobilização, conscientização e união para tentar as mudanças desejadas e seguiu por um outro caminho, mais longo e mais trabalhoso, mas que levaria ao mesmo resultado.
Consultamos os melhores especialistas em Segurança do país e criamos um Projeto Piloto de Segurança para ser implantado em Sta. Teresa.
A queda nos índices de violência obtida pelo Piloto levou Ipanema a “exportar” o projeto. Os resultados positivos se devem ao fato de reunir-se, quinzenalmente, num mesmo Comitê Gestor, representantes da Policia Militar e Civil, Prefeitura, Ministério Publico, associações de moradores e organizações não-governamentais, empresários e movimentos sociais do bairro. Unidos em torno de um objetivo comum, sentam para conversar, cobrar, informar e sugerir. A isso se chama co-governança.
O BASTA! existe há três anos e quatro meses. Só o fato de ter sobrevivido esse tempo já é uma vitória para uma cidadania tão adoentada como a nossa.
O Movimento está vivo e ativo porque foi capaz de contornar o sintoma da passividade da Sociedade Civil e encontrou um outro viés - que não a mobilização de multidões - para poder pressionar e realizar seu propósito de mudança.
O Basta tem como questão central a violência e a segurança em uma cidade em que este é o principal problema – ou um dos principais. Na sua opinião, como o problema da segurança tem sido tratado nos níveis municipal, estadual e federal?
O BASTA! está sem duvida focado na questão da segurança, mas tem total clareza de que o que subsidia a violência é a miséria, a corrupção, a omissão, a impunidade e a incompetência.
Nas três esferas do poder os homens públicos trabalham em prol de seus interesses privados gerando o inaceitável estado em que se encontram os direitos mais elementares do cidadão: faltam-nos segurança, saúde e educação.
Como você avalia a iniciativa do Cansei, em São Paulo, que reúne uma série de insatisfações, tais como caos aéreo, carga tributária, corrupção, violência e outros temas?
Uma vez que a paralisia diante do caos é um sintoma patológico da cidadania brasileira, a reação dos paulistas é bem vinda, positiva e saudável. O surgimento do movimento - mesmo que com um nome tão infeliz e sendo acusado de ser articulado pelo PSDB, que em Brasília curiosamente não faz oposição - é oportuno e seguramente traduz o sentimento de qualquer brasileiro que não tenha sido lobotomizado pela fome e pela ignorância. Estamos todos de saco cheio “do caos aéreo, da carga tributaria, da corrupção, da violência e outros temas”.
Os movimentos sociais surgem da necessidade de se pressionar por mudanças. Se a cidadania no Brasil não fosse patológica - como é - os movimentos da sociedade civil não precisariam ir além de mobilizar e conscientizar para emplacar as mudanças desejadas, como ocorre em muitos paises.
Os espanhóis, por exemplo, derrubaram a eleição certa do Ashnar para a presidência, na véspera. Usando o celular eles combinaram de mudar o resultado previsto nas urnas. No Brasil, por mais indignada que as pessoas estejam ela tem muita dificuldade de se unir e atuar coordenadamente essa indignação. A Sociedade Civil está de tal forma engessada emocionalmente que assistiu a desmoralização do escândalo e não foi capaz de fazer nada.
Portanto, o BASTA! precisou ir além da idéia de mobilização, conscientização e união para tentar as mudanças desejadas e seguiu por um outro caminho, mais longo e mais trabalhoso, mas que levaria ao mesmo resultado.
Consultamos os melhores especialistas em Segurança do país e criamos um Projeto Piloto de Segurança para ser implantado em Sta. Teresa.
A queda nos índices de violência obtida pelo Piloto levou Ipanema a “exportar” o projeto. Os resultados positivos se devem ao fato de reunir-se, quinzenalmente, num mesmo Comitê Gestor, representantes da Policia Militar e Civil, Prefeitura, Ministério Publico, associações de moradores e organizações não-governamentais, empresários e movimentos sociais do bairro. Unidos em torno de um objetivo comum, sentam para conversar, cobrar, informar e sugerir. A isso se chama co-governança.
O BASTA! existe há três anos e quatro meses. Só o fato de ter sobrevivido esse tempo já é uma vitória para uma cidadania tão adoentada como a nossa.
O Movimento está vivo e ativo porque foi capaz de contornar o sintoma da passividade da Sociedade Civil e encontrou um outro viés - que não a mobilização de multidões - para poder pressionar e realizar seu propósito de mudança.
O Basta tem como questão central a violência e a segurança em uma cidade em que este é o principal problema – ou um dos principais. Na sua opinião, como o problema da segurança tem sido tratado nos níveis municipal, estadual e federal?
O BASTA! está sem duvida focado na questão da segurança, mas tem total clareza de que o que subsidia a violência é a miséria, a corrupção, a omissão, a impunidade e a incompetência.
Nas três esferas do poder os homens públicos trabalham em prol de seus interesses privados gerando o inaceitável estado em que se encontram os direitos mais elementares do cidadão: faltam-nos segurança, saúde e educação.
Como você avalia a iniciativa do Cansei, em São Paulo, que reúne uma série de insatisfações, tais como caos aéreo, carga tributária, corrupção, violência e outros temas?
Uma vez que a paralisia diante do caos é um sintoma patológico da cidadania brasileira, a reação dos paulistas é bem vinda, positiva e saudável. O surgimento do movimento - mesmo que com um nome tão infeliz e sendo acusado de ser articulado pelo PSDB, que em Brasília curiosamente não faz oposição - é oportuno e seguramente traduz o sentimento de qualquer brasileiro que não tenha sido lobotomizado pela fome e pela ignorância. Estamos todos de saco cheio “do caos aéreo, da carga tributaria, da corrupção, da violência e outros temas”.
Os críticos ao Cansei apontam nele a predominância da elite paulistana. Como você enxerga o comportamento da elite carioca em relação a problemas como a segurança e outras mazelas do país?
Pretender desvalorizar um movimento por ele ter nascido da elite é um argumento mofado de velhos comunistas do séc. passado, que gostam de dizer que a elite não pode reclamar porque ela é responsável pelo que aí está. O curioso é que quando ela quer fazer alguma coisa os velhos comunas são os primeiros a querer calá-la.
Além do mais, pretender que um movimento não venha da elite é uma bobagem. Todos os Movimentos vem da elite. Os movimentos mais populares têm sempre uma elite intelectual que os articula. Claro, não poderia ser diferente. São justamente aqueles que tiveram uma educação privilegiada que podem e devem propor mudanças.
No Rio, assim como em São Paulo, a elite continua fazendo muito aquém do que deve e pode fazer. O fato de ser mais privilegiada só lhe trás mais obrigações.
Beatriz Kuhn é psicanalista, arqueóloga e fundadora do Movimento BASTA!
Duvido que a Carta da Capital publique essa entrevista. Esse pasquim só aceita as nojeiras elogiosas ao governo do Apedeuta.
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