Esgoto volta a poluir águas da Lagoa.
Integrantes da Associação de Moradores do Jardim Botânico (AMA-JB) entraram com uma representação no Ministério Público estadual denunciado a poluição. Utilizando um barco cedido por pescadores, no dia 22 de julho, o presidente da associação, Heitor Wegmann Jr., disse ter visto grande quantidade de esgoto saindo das tubulações de onde deveria sair apenas água. Na quarta-feira, pela manhã, uma água cinzenta e com odor forte continuava sendo despejada na lagoa.
RIO-ÁGUAS IDENTIFICOU AMÔNIA EM AMOSTRAS
A Fundação Rio-Águas informou que realizou vistoria nesta quarta-feira do espelho d’água da Lagoa e identificou a presença de amônia (indicativo de presença de esgoto) nos pontos 20 e 22 — ambos na altura da Rua Joana Angélica — , de acordo com teste feito com o reagente de Nessler. Conforme procedimento nestes casos, o órgão informou o fato à Secretaria municipal de Meio Ambiente, à Cedae e também ao Instituto estadual do Ambiente (Inea).
Pescadores que trabalham na Lagoa, no entanto, desmentem o que foi dito na nota. Um deles, Alexandre de Oliveira, diz que vê a sua rede ficar vazia a cada noite de trabalho. Segundo os pescadores, nos dois pontos citados pela Cedae o esgoto tem vazado constantemente.
— Quando passo de barco vejo uma grande quantidade de detritos no canal do Jardim de Alah com um forte mau cheiro. A situação começou a piorar após fevereiro deste ano. Em janeiro, eu conseguia tirar aproximadamente 200 quilos de pescado por noite. Houve uma redução muito grande, que ficou mais grave em junho. Agora, não passa dos dez quilos de peixe — reclamou Alexandre.
O presidente da AMA-JB, Heitor Wegmann Jr., que percorreu os pontos novamente na quarta-feira pela manhã, disse que o ponto de saída 27 continua lançando muito esgoto.
Carlos Antônio Ribeiro, que costuma pescar na altura do Jardim de Alah para consumo próprio, também denunciou o despejo de esgoto. Na quarta-feira, pela manhã, ele conseguiu pegar algumas poucas e pequenas tainhas na rede que jogou:
— Nos últimos dias, o cheiro tem ficado insuportável e uma água cinzenta está sendo despejada no canal. Isso está afugentando os peixes.
EIKE INVESTIU R$ 23 MILHÕES
Com o projeto, a Cedae recuperou troncos coletores e elevatórias, e o grupo EBX, de Eike Batista, investiu R$ 23 milhões em iniciativas como a criação do Centro de Controle Operacional de Esgoto, a retirada de 28 mil metros cúbicos de sedimentos e a dragagem de 97.300 metros cúbicos de detritos. A empresa atuou na Lagoa de setembro de 2008 a dezembro de 2012. Mas, em junho do ano passado, a reportagem do GLOBO mostrou que a Comissão de Saneamento da Alerj havia mapeado despejo clandestino em 17 das 95 galerias de águas pluviais que desembocam na Lagoa.
O Plano de Gestão da Sustentabilidade dos Jogos Rio 2016, divulgado em março do ano passado, registrou avanço na qualidade da água: “Resultados de recuperação ambiental já foram constatados, através da queda do indicador de coliformes fecais por mililitro de água (nmp/ml), que saiu de aproximadamente 16.000npm/ml em 2006 para 1.300nmp/ml em 2008 e para 400nmp/ml em 2009″.
PALAVRA DE ESPECIALISTA
A VISÃO DE: Franscisco Esteves, biólogo especialista em lagoas e pesquisador da UFRJ
‘Não é essa maravilha que alguns gestores descrevem’
“Algumas ações foram realizadas nos últimos anos com o objetivo de melhorar as condições da Lagoa Rodrigo de Freiras. Contudo, o estágio de degradação era muito grande; são anos e mais anos de poluição. As ações não foram suficientes. Na Lagoa ainda persiste uma quantidade muito grande de matéria orgânica de origem humana. Mesmo que todo o esgoto parasse de chegar ao corpo hídrico, ainda existe muito material depositado no fundo que consome oxigênio.
“Qualquer vento, qualquer alteração meteorológica, qualquer possibilidade de movimentação da coluna d’água implica mortandade de peixes. É como uma pessoa com obesidade mórbida e que para de comer feijoada. Não basta. Ela tem que fazer uma lipoaspiração, tirar o excesso de gordura. O mesmo precisa acontecer na lagoa. Caminho frequentemente em frente à sede náutica do Vasco e observo o crescimento de uma vegetação típica de locais onde há despejo de matéria orgânica.
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