Enviado por Bruna Talarico -
Em mergulho na Lagoa Rodrigo de Freitas, mais do que enxergam os olhos
De braços abertos, o Cristo Redentor parece dar a bênção a uma das paisagens mais emblemáticas do Rio de Janeiro. A Lagoa Rodrigo de Freitas, palco de um dos maiores projetos de despoluição de sistema lagunar em perímetro urbano do Brasil, é cercada por imóveis de luxo, veículos em trânsito intenso e uma grande movimentação de pedestres; cariocas e turistas. Mas, em seu centro, tudo é paz. Não se ouvem buzinas, carros parecem brinquedos em miniatura e saltos de peixes provocam o único barulho a quebrar o silêncio. Nessa viagem, fomos muito além de um passeio de pedalinho: munidos de cilindros, máscaras e coragem, mergulhamos fundo, literalmente, em um dos mais belos — e inexplorados — cartões-postais da cidade. Nas próximas linhas, saiba o que encontramos.
“Vocês estão com as vacinas em dia?” A pergunta feita na ensolarada terça-feira da semana passada pelo instrutor de mergulho Rodrigo Figueiredo, fundador da escola XDivers, em Ipanema, calou a euforia nervosa da repórter e do fotógrafo. Figueiredo, um dos poucos mergulhadores que conheceram as profundezas da Lagoa Rodrigo de Freitas — há dez anos, ele foi atrás, sem sucesso, de um Rolex roubado do economista Jorge Garcia e supostamente jogado na água —, estava preocupado.
— A visibilidade lá dentro é quase zero. Você não enxerga nada, não dá para ter ideia do que está embaixo. Eu não entraria sem vacina, sempre existe algum risco — alertou, enquanto separava os equipamentos necessários para o mergulho: cilindros, máscaras, nadadeiras e roupas de neoprene.
Depois de ter mergulhado na Baía de Guanabara, o fotógrafo Marcelo Piu concluiu que sua imunidade não seria problema. Eu, mesmo vacinada após participar de reportagens sobre enchentes em Duque de Caxias, confesso que fiquei um pouco assustada. A água da Lagoa, apesar de refletir um Rio de Janeiro abençoado, é mesmo bem escura.
A bordo de uma pequena embarcação a motor, cedida por Hugo e Harri Klein, irmãos que cuidam dos pedalinhos do Corte do Cantagalo, fomos atrás de áreas propícias para mergulho. A profundidade média, checada por um aparelho de Figueiredo, é de três metros e meio em grande parte da Lagoa. Nas margens próximas a Ipanema — onde uma estrutura da EBX, empresa de Eike Batista que mantém o programa Lagoa Limpa, de recuperação ambiental —, ela chega a quase sete metros. Era o lugar que estávamos procurando.
O primeiro contato com a água, no entanto, aconteceu perto do Jardim de Alah, que divide Ipanema e Leblon e é palco da troca de água do sistema lagunar com o mar. Ali, dois pescadores jogavam suas tarrafas. Apenas com máscaras, nos lançamos na água. Os pés roçaram o chão, arenoso, e a temperatura estava fria. Alguns peixes prateados, com aproximadamente cinco centímetros de comprimento, boiavam mortos ao lado de algumas garrafas vazias. Lixo jogado pelo homem.
— Por que você não mergulha e tenta pegar um pouco de areia? — sugeriu Figueiredo, enquanto o fotógrafo Marcelo Piu se dedicava a registrar as investidas dos pescadores, que pouco ou nada recolhiam da água.
O primeiro mergulho assusta. A visibilidade, realmente, é quase nula. A escuridão e o silêncio desorientam os sentidos. “Para onde é a superfície?” é a primeira pergunta, que chega quase junto a uma constatação: a roupa de neoprene está molhada, e meu corpo inteiro está em contato com a água.
A areia recolhida do fundo é densa, parece massa de modelar granulada. De cor escura, é misturada a uma lama grossa.
— Essa argila ou lama misturada à areia é matéria orgânica em decomposição. Mesmo se o entorno não tivesse sido urbanizado e esgoto sem tratamento nunca tivesse sido lançado na água, esse material existiria. Ele chega arrastado pelas chuvas do Maciço da Tijuca ou é produzido pela própria lagoa — explicou, um dia depois, o biólogo Mario Moscatelli.
De braços abertos, o Cristo Redentor parece dar a bênção a uma das paisagens mais emblemáticas do Rio de Janeiro. A Lagoa Rodrigo de Freitas, palco de um dos maiores projetos de despoluição de sistema lagunar em perímetro urbano do Brasil, é cercada por imóveis de luxo, veículos em trânsito intenso e uma grande movimentação de pedestres; cariocas e turistas. Mas, em seu centro, tudo é paz. Não se ouvem buzinas, carros parecem brinquedos em miniatura e saltos de peixes provocam o único barulho a quebrar o silêncio. Nessa viagem, fomos muito além de um passeio de pedalinho: munidos de cilindros, máscaras e coragem, mergulhamos fundo, literalmente, em um dos mais belos — e inexplorados — cartões-postais da cidade. Nas próximas linhas, saiba o que encontramos.
“Vocês estão com as vacinas em dia?” A pergunta feita na ensolarada terça-feira da semana passada pelo instrutor de mergulho Rodrigo Figueiredo, fundador da escola XDivers, em Ipanema, calou a euforia nervosa da repórter e do fotógrafo. Figueiredo, um dos poucos mergulhadores que conheceram as profundezas da Lagoa Rodrigo de Freitas — há dez anos, ele foi atrás, sem sucesso, de um Rolex roubado do economista Jorge Garcia e supostamente jogado na água —, estava preocupado.
— A visibilidade lá dentro é quase zero. Você não enxerga nada, não dá para ter ideia do que está embaixo. Eu não entraria sem vacina, sempre existe algum risco — alertou, enquanto separava os equipamentos necessários para o mergulho: cilindros, máscaras, nadadeiras e roupas de neoprene.
Depois de ter mergulhado na Baía de Guanabara, o fotógrafo Marcelo Piu concluiu que sua imunidade não seria problema. Eu, mesmo vacinada após participar de reportagens sobre enchentes em Duque de Caxias, confesso que fiquei um pouco assustada. A água da Lagoa, apesar de refletir um Rio de Janeiro abençoado, é mesmo bem escura.
A bordo de uma pequena embarcação a motor, cedida por Hugo e Harri Klein, irmãos que cuidam dos pedalinhos do Corte do Cantagalo, fomos atrás de áreas propícias para mergulho. A profundidade média, checada por um aparelho de Figueiredo, é de três metros e meio em grande parte da Lagoa. Nas margens próximas a Ipanema — onde uma estrutura da EBX, empresa de Eike Batista que mantém o programa Lagoa Limpa, de recuperação ambiental —, ela chega a quase sete metros. Era o lugar que estávamos procurando.
O primeiro contato com a água, no entanto, aconteceu perto do Jardim de Alah, que divide Ipanema e Leblon e é palco da troca de água do sistema lagunar com o mar. Ali, dois pescadores jogavam suas tarrafas. Apenas com máscaras, nos lançamos na água. Os pés roçaram o chão, arenoso, e a temperatura estava fria. Alguns peixes prateados, com aproximadamente cinco centímetros de comprimento, boiavam mortos ao lado de algumas garrafas vazias. Lixo jogado pelo homem.
— Por que você não mergulha e tenta pegar um pouco de areia? — sugeriu Figueiredo, enquanto o fotógrafo Marcelo Piu se dedicava a registrar as investidas dos pescadores, que pouco ou nada recolhiam da água.
O primeiro mergulho assusta. A visibilidade, realmente, é quase nula. A escuridão e o silêncio desorientam os sentidos. “Para onde é a superfície?” é a primeira pergunta, que chega quase junto a uma constatação: a roupa de neoprene está molhada, e meu corpo inteiro está em contato com a água.
A areia recolhida do fundo é densa, parece massa de modelar granulada. De cor escura, é misturada a uma lama grossa.
— Essa argila ou lama misturada à areia é matéria orgânica em decomposição. Mesmo se o entorno não tivesse sido urbanizado e esgoto sem tratamento nunca tivesse sido lançado na água, esse material existiria. Ele chega arrastado pelas chuvas do Maciço da Tijuca ou é produzido pela própria lagoa — explicou, um dia depois, o biólogo Mario Moscatelli.
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