Mario Hugo Monken, Jornal do Brasil
RIO - Imagine a cena: um homem para um táxi em frente a uma banca de jornal, desce do veículo, entra na banca, assalta o proprietário e vai embora no mesmo carro. Aconteceu quarta-feira, por volta das 7h, com o jornaleiro Luiz Alves Araújo, de 54 anos, que foi vítima de um roubo em seu estabelecimento, na esquina das Ruas Francisco Sá e Conselheiro Lafaiete, em Copacabana.
Mais curioso ainda, segundo conta o jornaleiro, é que o ladrão de quarta-feira foi o mesmo que o atacou no mês passado. Ele fez o registro de ocorrência, mas nada adiantou. Disse estar com muito medo.
– Esse ladrão encostou a arma na minha cintura e mandou passar tudo. Estava bem vestido – declarou.
Assim como Luiz Alves, os comerciantes da Zona Sul vivem um clima de insegurança. As estatísticas do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que, nos quatro primeiros meses deste ano, o número de roubos a estabelecimentos comerciais na região cresceu 53% em relação ao mesmo período do ano passado. De janeiro a abril, foram 138 ocorrências contra 90 em 2008. E, após isso, os casos continuam acontecendo com frequência.
– Já estou até esperando ser assaltada de novo. Não tem policiamento aqui – disse a comerciante Rose Gamino.
No início de junho, dois ladrões invadiram a sua joalheria, na Rua Francisco Sá, e lhe deram um prejuízo de cerca de R$ 30 mil. Seu marido, Vicente Gamino, que estava na loja na hora, foi obrigado a se trancar no banheiro.
Os números do ISP mostram que a área policiada pelo 23º BPM (Leblon), que reúne Leblon, Ipanema, Gávea, São Conrado e Lagoa, teve 20 casos a mais que em 2008. Na região de Copacabana e do Leme, circunscrição do 19º BPM (Copacabana), houve 14 casos a mais, assim como na região vigiada pelo 2º BPM (Botafogo), que compreende Flamengo, Botafogo, Glória, Catete, Cosme Velho, Urca e Laranjeiras.
O número de roubos pode ser ainda maior do que o divulgado pelo ISP, já que muitas vítimas não registram queixa nas delegacias:
– Em Ipanema, os comerciantes, principalmente os idosos, não procuram a polícia por medo de represálias – afirmou Carlos Monjardim, presidente da Associação Comercial de Ipanema e do Leblon (Aciple).
– Sei que muitos não vão a delegacia porque a maioria dos roubos não é de valores expressivos – confirmou Evelyn Rosenzweig, da Associação Comercial do Leblon.
Atrás de Viagra
As farmácias têm sido alvos bem comuns, e o produto do roubo é normalmente o mesmo: Viagra, estimulante sexual. A titular da 15ª DP (Gávea), Bárbara Lomba, disse investigar pelo menos três roubos a estabelecimentos na Rua Marquês de São Vicente.
Sua colega da 14ª DP, Tércia Amoedo, confirma a tendência:
– Na minha área, houve aumento considerável. Passou de 19 para 32 casos. Principalmente farmácia. Já identifiquei uns cinco roubos aqui. Buscam Viagra e outros remédios controlados – explicou ela, citando também os restaurantes como alvo: – Eles são atacados principalmente no final do expediente, quando têm poucos vigias.
O comandante do 23º BPM, tenente-coronel Henrique Lima Castro também cita os postos de gasolina como alvos. A polícia tenta identificar se quadrilhas organizadas estão por trás de tantos roubos.
A delegada Bárbara Lomba afirmou que uma dupla seria responsável pelos assaltos na sua área e já pediu a prisão deles. Tércia Amoedo disse não acreditar.
– São ações de aventureiros e malandros. Nada orquestrado. Muitos conseguem roubar até fazendo ameaça – sustentou.
A joalheira Rose Gamino acredita que há quadrilhas atuando:
– A mesma dupla que assaltou minha loja roubou também, na mesma época, uma casa de ferragens na Francisco Sá e uma farmácia na Júlio de Castilhos.
No inicio do mês passado, a polícia capturou um trio responsável por, pelo menos, três assaltos, com uso até de granas: duas lotéricas, no Catete e em Copacabana, e uma joalheria em Copacabana
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