André Luiz Barros, Jornal do Brasil
RIO - “O jardineiro conversava com as flores e elas se habituaram ao diálogo.”
O poeta Carlos Drummond de Andrade, autor desses versos, estava certo. Em Ipanema, moradores levaram a poesia a sério e adotaram uma alternativa para deixar as calçadas floridas e interagir com a natureza, criando um ar de primavera o ano todo. Uma rua em especial está ganhando aromas e cores por conta dessa iniciativa.
Há dois anos, a associação comercial batizada de Quadrilátero do Charme em Ipanema, formada por lojistas das redondezas das ruas Anibal de Mendonça, Joana Angélica e avenidas Vieira Souto e Epitácio Pessoa, fez o plantio de 2100 mudas de orquídeas em 350 árvores das proximidades de seus restaurantes e bares. Hoje, o principal ponto para vê-las é a menos badalada Rua Redentor.
O projeto teve adesão dos moradores. Hoje, os jardineiros são os próprios porteiros, que dividem o trabalho na recepção dos prédios com os cuidados dados às flores da rua. Com a chegada da primavera, em setembro, a Redentor deve ganhar um colorido especial e pode até ficar marcada pelas orquídeas, assim como a Rua Paissandu, no Flamengo, tornou-se famosa por suas monumentais palmeiras imperiais, que demarcavam o passeio da Família Real rumo à Praia do Flamengo.
Porteiros-jardineiros
Os porteiros João Santos e Joarez Távora, que trabalham na rua Redentor, acompanharam a colocação das plantas nos últimos anos. Algumas delas inclusive, eles mesmos que plantaram, a pedido de suas patroas.
– Nossas patroas costumam comprar as orquídeas para suas casas, e assim que as flores caem, elas nos pedem para colocá-las sobre as árvores – conta João.
Joarez também considera a idéia interessante e os cuidados com as flores já faz parte do seu cotidiano enquanto zelador.
– Eu mesmo coloco as plantas em cima das árvores. Uma vez por mês ponho um remédio para evitar pragas, e rego sempre – afirma o porteiro.
Segundo o biólogo José Ricardo Palmeiro, no entanto, o hábito de molhar as orquídeas demasiadamente pode prejudicar o desenvolvimento da planta.
– As orquídeas são flores da Mata Atlântica, que vivem da umidade do próprio meio ambiente. Regá-las frequentemente pode acabar encharcando a raiz do vegetal causando sua morte – diz Palmeiro.
O biólogo conta também que as orquídeas são plantas epífitas, ou seja, apenas utilizam outras árvores como suporte, não se nutrindo da seiva da árvore, como parasita.
Bem adaptadas
Além disso, elas se adaptam bem ao clima do Rio, e algumas vivem inclusive nas praias da cidade.
Ao contrário do que se pensa, essas flores são de fácil adaptação ao meio urbano, desde que não fiquem em exposição direta ao sol.
A floração ocorre durante todo o ano, dependendo da espécie. A moradora Sarah Cristina, 39 anos, mora há nove anos no bairro de Ipanema e, apesar de nunca ter plantado nenhuma orquídea na rua, é a favor da iniciativa.
– É demais caminhar pelas ruas e poder ir admirando lindas flores pelo caminho. O mais interessante é saber que meus vizinhos colaboram com a preservação da natureza, quem sabe não planto a minha essa semana - brinca a moradora.
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