CARNAVAL 2009

Enviado por Juliana Rangel -

Entrevista: secretário detalha choque de ordem

Aos 34 anos, o novo secretário municipal de Turismo do Rio, Antonio Pedro Figueira de Mello, já assumiu o cargo em meio a polêmicas. Há algumas semanas, anunciou um "choque de ordem" no carnaval carioca e criticou os blocos que estão transformando o carnaval do Rio em um grande negócio. Segundo ele, anúncios em carros de som e ventarolas terão que ser devidamente autorizados pela secretaria de Fazenda. Dizendo-se mal-interpretado em suas primeiras declarações, afirma que todos os blocos, inclusive os pequenos, terão suas solicitações para desfile atendidas, mas precisarão que seus horários e dias de cortejo passem pelo crivo das subprefeituras, numa tentativa de evitar congestionamentos nos bairros.

Dentro das novas regras, os blocos maiores terão prioridade: "Não dá para um bloco que nasceu ontem querer desfilar no dia do Bola Preta na Rio Branco", diz. Mello promete não transformar o carnaval de rua do Rio em um evento comercial, e fala que seu objetivo está longe de tirar dos festejos a espontaneidade típica do Rio.
O intuito é fazer com que a CET Rio e a Comlurb sejam avisadas dos desfiles, para que possam cuidar do trânsito e lavar a rua. O secretário também avalia que não será possível oferecer muito mais banheiros químicos além dos 830 já disponibilizados pela Prefeitura no ano passado. Mas, afirmando-se folião de rua - no ano passado foi ao Boitatá, mas já pulou no Carmelitas e no Me Esquece - garante que nunca faz xixi atrás do carro, mesmo quando era apenas um mero folião.

"Não basta a Prefeitura fazer a parte dela e colocar banheiro químico. É preciso a ajuda da imprensa para que haja um movimento de conscientização. Para que os foliões procurem não fazer das ruas um grande banheiro. Existe sempre um bar por perto...", defende.

Veja a íntegra da entrevista exclusiva do secretário ao Nosso Blog.

O choque de ordem virou um tema polêmico entre nossos leitores. Como ele está sendo desenhado? Num primeiro momento fomos mal interpretados. Não tem polêmica. Estivemos hoje com a Sebastiana (liga que reúne vários dos maiores blocos do Rio) e mostramos nosso interesse. No momento em que o prefeito criou um grupo de trabalho era para tentar criar, na Prefeitura, um procedimento em conjunto com os blocos para que o carnaval de rua não se perca. Vamos participar com os serviços que temos para que a cidade não sofra. O carnaval tem crescido de maneira desordenada. Estamos finalizando uma proposta para levar para o prefeito analisar. Mas a ideia é que os blocos tenham seus pedidos de autorização feitos às subprefeituras de cada bairro, para que elas possam participar dessa organização, junto com a CET Rio, a Guarda Municipal e a Comlurb. Até agora, os blocos mais organizados informavam sobre seus desfiles. Mas a maioria não fazia solicitação nenhuma à Prefeitura. O que encontramos era um grande caos de blocos saindo no mesmo dia, no mesmo horário e fazendo coisas que iam acabar dando problema. Queremos saber onde os blocos estão desfilando para não criar uma pororoca de blocos. Para que a Comlurb entre limpando as ruas depois dos desfiles e a CET Rio entre dizendo que ruas estarão fechadas.
O senhor falou inicialmente em contrapartidas dos blocos. Como será isso? No domingo teve um bloco que saiu na Delfim Moreira e que era praticamente um bloco comercial. O caminhão era todo adesivado, havia distribuição de abanadores com marca de cervejaria... Isso foi uma maneira que as empresas de cerveja e telefonia viram de fazer uma publicidade que é ilegal. Não estamos criando taxa nenhuma, mas existe uma taxa antiga.
Qualquer publicidade em espaço público tem que ter autorização na Secretaria de Fazenda. Elas (as empresas) aproveitaram para colocar sua marca e alguns blocos começaram a ser criados visando a uma maneira de ter lucro financeiro. Eu peguei um abanador foi distribuído no bloco, mas dizia: "distribuição interna". Sabemos que não era.

O senhor costuma frequentar os blocos do Rio? Em quais gosta de sair? Eu sempre fui folião.

Agora, esse trabalho vai dificultar um pouco a minha vida de folião. Mas sempre que eu puder ter um momento de prazer, estarei prestigiando (os blocos), como secretário ou pessoa física. No ano passado fui ao Boitatá, mas também já fui no Carmelitas, e num que sai perto da minha casa, o Me Esquece. Como folião, o senhor já passou pelo constrangimento de ter que fazer xixi atrás de um carro? A questão do banheiro público... Quando estou nos blocos, tem sempre bares por perto e eu vou ali. Quando tem banheiro químico, vou no banheiro químico.
Vamos ter 830 banheiros químicos, que já vêm do governo anterior. Não vamos conseguir fazer um aumento. Temos mais de 400 blocos, é impossível atender a todos. Mas vamos estruturar de forma que consigamos fazer um grande atendimento. Agora, as pessoas muitas vezes fazem xixi do lado de fora do banheiro químico. Já vi empurrarem o banheiro até a pessoa tombar junto com ele na areia. Se você colocar "banheiro químico" no Google vai ver loucuras que existem no carnaval.
Não basta a Prefeitura fazer a parte dela e colocar banheiro químico. É preciso a ajuda da imprensa para que haja um movimento de conscientização. Para que os foliões procurem não fazer das ruas um grande banheiro. Existe sempre um bar por perto...

E a Comlurb, irá lavar as ruas depois da passagem dos blocos? Essa é a nossa idéia. Antes, o bloco saía e a Comlurb não sabia. E a cidade virava um caos. A gente está criando as normativas e os procedimentos e vamos ter condição de fazer uma normatização, de saber de onde o bloco está saindo, para que a Comlurb possa fazer a limpeza necessária. A gente diz que cidade só é boa para turismo se for boa para o cidadão carioca. Os leitores ficam assustados com a possibilidade de que os blocos virem algo comercial, com abadás ou com a criação de corredores para os desfiles, como em Salvador... A nossa medida é exatamente para que isso não aconteça. Para que não tenha problemas e não tenhamos que fazer um corredor para os blocos.
O carnaval do Rio é essa maravilha porque acontece de forma espontânea. O Bib Bip sai do Bip Bip. A Banda de Ipanema não vai mudar seu local, o Bola não vai deixar de sair na Rio Branco. É cultural, e isso é o que há de mais magnífico no nosso carnaval. Lá (na Bahia) é algo comercial, e aqui é uma manifestação espontânea. O que a gente quer é exatamente não deixar que isso aconteça. Tem gente aproveitando para ganhar dinheiro. Mas bloco é uma coisa popular, algo que é natural. Não pode se transformar em um investimento.

Todos os blocos, mesmo os pequenos, conseguirão suas autorizações para desfilar?
Sem dúvida nenhuma. Mas todos terão que se dirigir à subprefeitura e solicitar a autorização. Dizer: "vou desfilar e gostaria de sair dia tal, no horário tal". O subprefeito tem lá todas as listas e vai analisar. É uma das coisas que vamos fazer: criar uma normativa para que as pessoas peçam as autorizações com antecedência. Quem chegar primeiro vai se beneficiar. Agora, os blocos antigos têm o seu posto. Não dá para um bloco que nasceu ontem querer desfilar no dia do Bola Preta na Rio Branco.

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