VERDADE PURA - MAURO VENTURA

O exército de pedintes, de várias "patentes", nas ruas do Rio: crianças, adolescentes, mulheres, homens, velhos, mães.

"Estava no Centro da cidade e havia parado numa lanchonete. Enquanto esperava o suco, guardava o troco na carteira. Foi quando um homem (forte, com uns 20 anos) se aproximou e pediu dinheiro. Balancei a cabeça negativamente. Começou, então, o diálogo surreal:
- Mas por que não? Eu vi o dinheiro que você guardou.
- E daí que você viu o dinheiro? Eu não vou te dar.
- Mas eu vi que você tem dinheiro.
- Amiguinho, isso não quer dizer que eu tenha que te dar alguma coisa.
- Mas eu tô morrendo de fome (fazendo cara de choro).
- Você não tem casa, não?
- Não.
- Por quê?
- Porque não. Me dá o dinheiro aí, moço.
- Moleque, eu já disse que não vou te dar dinheiro nenhum! (meu suco chegou).
- Então me dá o suco?
- Tá de sacanagem? Já disse que não.
- Por favor, moço. Paga um suco pra mim. Tô morrendo de fome.
- (Já irritado) Moleque, cai fora que não vou te dar porra nenhuma.
Ele foi embora. Depois fiquei com culpa na consciência por ter sido um pouco agressivo com ele e também porque poderia ser verdade que ele estivesse com fome. No dia seguinte, passando no mesmo local, esse mesmo pedinte acabara de ser preso por uma viatura da polícia. Não sei o que aconteceu, pois eu já o vi dentro da Patamo. A culpa que havia sentido no dia anterior desapareceu na hora.
Dois pontos que eu gostaria de colocar acerca desse episódio:
1. Esses pedintes acham que todos têm a obrigação de dar dinheiro a eles. Como a maioria das pessoas dá (por medo, pena ou por achar que estão fazendo algo de bom para a sociedade), eles vão ficando pelas ruas e não se dão ao trabalho de querer algo diferente do que ficar perambulando.
2. O Estado é, infelizmente, omisso em ajudar esse pessoal. Isso já é sabido há tempos. Mas esses pedintes também não querem nada com a "hora do Brasil". Precisa-se de bom material humano, que seja polido com educação e princípios. Pau que nasce torto não necessariamente tem que morrer torto. Eles não querem seguir regras, horários ou ter empregos. Ou seja, não querem sair dessa vida. Querem viver pelas ruas sem regra, sem horários, sem obrigações, pedindo sem o menor pudor e na maior cara-de-pau. Acho que, dando dinheiro, estou fazendo um desfavor à sociedade, contribuindo para que eles continuem nas ruas.
Há alguns anos, saiu no GLOBO que um suposto mendigo que ficava pedindo dinheiro na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, era proprietário de 5 imóveis!!!!!!! Isso mesmo! 5 (CINCO) imóveis no subúrbio. Descobriram que esses imóveis foram todos comprados com o dinheiro que as pessoas davam de esmola nas ruas!!!!!! Aquilo me revoltou, pois tem tanta gente pobre que morreu sem nunca ter comprado 1 quartinho sequer trabalhando honestamente e dando um duro enorme!!! E esse mendigo, abusando da boa fé das pessoas, comprou 5!
Aproveitando esse gancho, há alguns meses estava em Ipanema (na mesma praça) tomando um açaí. Ao lado da lanchonete e perto de mim, havia um mendigo sentado na rua, pedindo dinheiro. Um senhor se aproximou dele:
- Pra que você quer dinheiro? - perguntou o senhor.
- Pra comer. Não como há vários dias.
- Não vou te dar dinheiro, mas posso te oferecer um trabalho. Quer?
- Trabalho? Eu vou fazer o quê?
- Você começa de faxineiro. Vou ter dar roupa nova também.
- Quanto que eu vou ganhar?
- No começo te pago 400 reais.
- 400 reais? Só? Eu tiro três vezes mais aqui na rua.
O senhor ficou olhando espantado o mendigo e, sem dizer uma palavra, foi embora.
É um absurdo isso. Sinceramente, a culpa não é só do Estado, que é omisso, e dessas pessoas que abusam da boa-fé dos outros. É também das pessoas que dão esse dinheiro!
Toda hora tem gente pedindo dinheiro e as pessoas dão."

Um comentário:

  1. Sábado passado, quando cheguei à praia, havia uma “comunidade” de vagabundos conhecidíssimos de todos que vivem nos arredores da Vinicius fazendo uma verdadeira farra bem em frente à rua, debaixo dos coqueiros. Só como referência, uma das presentes era aquela parideira que vive com um esparadrapo no nariz, uma barriga emprenhada e um recém-nascido no colo.

    Nem bem me instalei e meninos, entre 4 e 10 anos, começaram a pentelhar vendendo de tudo, enquanto os irresponsáveis que os usavam enchiam a cara de cachaça e maconha, ainda embaixo dos coqueiros. É isso que se chama Ipabacana? Esses marginais freqüentam a área há anos, sem sequer serem chamados à atenção por qualquer autoridade. A argumentação é sempre que nada pode ser feito contra eles só por vagabundagem. Eu pergunto: exploração infantil não é crime? Esse tal de ECA - essa merda criada por Siro Darlan - além de ser péssimo é mal interpretado pelos órgãos mantenedores da lei e da ordem. Não há prova mais cabal de exploração de menores do que isso. O pior é que esse horror acontece todo fim de semana.

    Aliás, perturbação da ordem pública também é crime. Qualquer vagabundo que se instale em algum lugar que impeça ou constranja a livre circulação pode e deve ser enquadrado. Por que ninguém o faz? Será que é porque não rola uma bufunfa para os policiais, ou será porque, muito pelo contrário, os vagabundos estão cheios da grana e sempre sobra algum para um suborninho amigo?

    Ipabacana é o cacete!

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