ENTREVISTA COM JORGE ANTONIO BARROS

Jorge Antonio Barros, o criador dos “Mapas do Crime”, editor-adjunto da Editoria Rio do Globo e grande amigo deste blog, nos deu o prazer de uma entrevista (que nos permitam os jornalistas a pretensão).

Jorge é uma figura ímpar. Um jornalista premiadíssimo, que poderia muito bem estar sentado no trono da glória e que, no entanto, batalha por todos nós ao se dispor a manter uma ligação direta entre a imprensa e a sociedade, agregando e atendendo a todos que tenham algo a reclamar, ponderar ou sugerir.

Poderíamos nos estender indefinidamente em elogios, mas bom mesmo é ler o que ele tem a nos dizer.


O que o levou a lançar a campanha dos mapas do crime?
Desde que o blog nasceu há dois anos, ainda fora do Globo Online, eu tinha em mente que uma das funções de uma ferramenta poderosa dessas seria difundir informações que ajudam as pessoas a lidar de modo prático com a questão da criminalidade, independentemente se o poder público fizesse ou não a sua parte. Sempre acreditei que o cidadão tem algumas tarefas e uma delas é zelar pela sua segurança pessoal e trocar informações com outras pessoas com o mesmo objetivo. Eu sempre acreditei na força da associação.

Até onde os blogueiros são responsáveis por ela?
A participação dos leitores e comentaristas foi decisiva para a campanha chegar onde chegou. Eu poderia fazer uma pesquisa, bairro por bairro, mas creio que essa interatividade foi que motivou o Globo Online a apoiar a campanha, sem a gente planejar nada disso antes.

Como editor-adjunto do Globo Rio, em que esse seu blog o ajuda?
Um dos pontos que têm contribuido, indiretamente, é o fato de que eu retomei o contato com fontes que, por dever de ofício, já não falava como antes. O repórter, que vai a campo, acaba tendo mais acesso a fontes. O blog Repórter de Crime me levou de volta à rua, mesmo que seja virtualmente ou pelos olhos dos leitores. Sinto-me mais motivado para ir à rua, como fiz sexta-feira passada, por exemplo, no batalhão do Méier. Isso resulta muitas vezes em pautas exclusivas para o jornal e aí não dou no blog porque não posso furar a própria editoria onde sou o segundo, depois do editor, Paulo Motta. Meu trabalho como editor-adjunto no Globo é de certa forma bem separado da atividade de blogueiro. Mesmo que eu seja, é claro, influenciado pela opinião do Globo, como blogueiro eu tenho a minha própria e não necessariamente é a mesma do jornal. Agora, é claro, que se eu sou editor de um grande jornal como o Globo, que acompanha a questão da segurança, com o blog me sinto muito mais antenado com as percepções dos leitores de modo geral. E é o jornal que acaba ganhando mais com isso.

Qual a melhor maneira da sociedade colaborar com a redução da criminalidade?
Em primeiro lugar, a sociedade, por meio de suas entidades representativas dos mais diversos segmentos, deve passar a tratar a questão da segurança como prioridade de políticas públicas, que ela não tem hoje no país, apesar de o governo federal ter lançado um programa nacional recentemente. Não interação efetiva entre os diversos setores da segurança pública e isso só será alcançado na medida em que a sociedade realmente acordar para o problema e começar a cobrar das autoridades, inclusive por meio do voto. A sociedade deveria cobrar, por exemplo, a padronização de índices de criminalidade em todo o país, para que fique transparente quais são os estados realmente mais perigosos e que vão perder investimentos e empresas, com isso.

Até onde você acha que a sociedade pode interferir na mudança de atitude das autoridades?
O primeiro instrumento, como dissemos, é o voto. Os brasileiros têm que aprender a votar com a cabeça e não com o coração. Isso vai obrigar os marqueteiros de plantão a realmente discutirem os assuntos estratégicos e de interesse público, que acabam em segudno plano, porque as campanhas ficam sempre na questão emotiva e personalista. Na questão da segurança, especificamente, os cidadãos deveriam participar dos conselhos comunitários (a primeira porta) e as entidades representativas deveriam cobrar mais dos governantes e autoridades do setor.

Daqui para frente, com o Rio encampando sua iniciativa, quais são suas esperanças?
O meu sonho é que todos os moradores do Rio conheçam bem a cidade por meio desses mapas de crime e que com isso aumente a pressão social sobre os poderes constituídos. Eu acho que informação é fundamental para aumentar o nível de consciência das pessoas para o problema.

Muito obrigado e grande abraço.
Jorge Antonio Barros
Jornalista há 26 anos, desde 98 como editor-adjunto da Rio do Globo e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Obrigado, nosso caro amigo

3 comentários:

  1. Muito obrigado, Ricardo, grande entrevistador!
    abs
    Jorge Antonio Barros

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  2. Obrigada mais uma vez a força que tem nos dado,através do seu blog,via globo on line.
    Nosso projeto segue firme apesar de não ser aceito por algumas autoridades.Eles alegam falta de tempo e de pessoal para nos atender.Querem que façamos parte do Conselho Comunitário,onde vários bairros da Zona Sul comparecem.Ninguém se entende,cada um puxa a sardinha pro seu lado,o que não leva absolutamente à nada.Cada bairro tem seus problemas.Alegam também que tudo o que vem acontecendo é culpa da prefeitura,dando alvarás,licenças,etc...,e com isso trazendo flanelinhas,mendigos e o caos.
    Ficamos sem saber a quem recorrer,é triste ,pois pagamos nossos impostos e não temos a segurança devida,correndo riscos,com o nosso direito de ir e vir ameaçado.SOCORRO!

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  3. Jorge, muito bom, parabéns ao PSI!

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