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Rio, 23/06/2012

À Promotoria de Tutela Coletiva do Ministério Público Federal
Ref: estação de metrô na Praça N. Sra. da Paz

Prezado Sr. Promotor da República  - Dr. Maurício Andreoulo Rodrigues,

O Projeto de Segurança de Ipanema – PSI, movimento voluntário e apartidário de moradores do bairro, vem por meio desta, em nome de mais de 16.000 moradores e usuários de Ipanema levar a seu conhecimento o repúdio da população ao modo de como o Governo do Estado do Rio de Janeiro pretende fazer a estação de metrô N. Sra. da Paz, obra financiada com recursos oriundos o Governo federal através do BNDEs.

- Na proposta do Governo, a obra para se fazer a estação N. Sra. da Paz  seria feita no subsolo da praça e a céu aberto. Este procedimento obrigaria a retirada de 309 de árvores, sendo que a maioria delas quase centenárias.  Está sendo proposto a retirada e o posterior replante destes indivíduos em uma operação muito polêmica e de êxito impossível segundo a opinião de vários engenheiros ambientais consultados. O resultado seria um dano definitivo e irreversível  ao meio ambiente e à sustentabilidade do bairro.
O arvoredo da praça N. Sra. da Paz é um importante fator de oxigenação do local, aliado na despoluição do ar e de grande importância para a manutenção da temperatura ambiente, além de ser o berço e alimento de rica fauna e biodiversidade.

- Outro aspecto preocupante desta obra é a maneira como estão sendo planejadas as saídas desta estação. Segundo o projeto do Governo do Estado as saídas  seriam localizadas  rentes às grades e ao lado dos dois portões centrais da praça nas Ruas Visconde de Pirajá e Barão da Torre.
O número de usuários desta estação seria de 40.000 pessoas /dia. A praça, desta forma, se transformaria em trânsito perdendo totalmente as suas características de uso comunitário, quintal de nossas crianças, lugar de encontro dos idosos e deficientes e descanso dos que trabalham, estudam ou passeiam pelo bairro, seguros da  acolhedora tranqüilidade proporcionada pela exuberância de uma cobertura verde ímpar.
A localização destas saídas como estão sendo propostas, acarretaria também outro grande problema – as crianças do bairro encontram na praça uma liberdade única e necessária de expansão. Ali elas correm, jogam bola, brincam de pique esconde, sobem nas árvores etc. Como garantir a sua segurança em um local com duas saídas de escape rápido que pode estimular diversos tipos de violência?
 Estas saídas também seriam desfavoráveis ao comércio de rua. Ipanema é um bairro com comércio de rua forte, variado e inovador. Os usuários do metrô têm de sair nas calçadas onde estão as lojas e não na praça. A estação de metrô Jardim de Alá, localizada no subsolo da Rua Ataulfo de Paiva e não no do Jardim de Alá, terá sua saídas na Ataulfo de Paiva nas esquinas da Borges de Medeiros e Afrânio de Mello Franco favorecendo o Shopping Leblon e o Rio Design, exatamente os maiores concorrentes do comércio de Ipanema.

 A Praça N. Sra. da Paz é tombada há mais de trinta anos. Só isso deveria ser suficiente para que nunca se pensasse na possibilidade de sua  desfiguração.

 A população de Ipanema, moradores e usuários querem o metrô, mas  não a estação da maneira como está sendo proposta sem levar em consideração a preservação de uma cobertura verde importante e também do uso do local como praça, patrimônio da comunidade.
 Um abaixo assinado, trabalho totalmente voluntário feito pelos moradores do bairro em condomínios, praça, porta de igreja, calçadão, porta das escolas, cabeleireiros, academias de ginástica etc., coletou mais de 16.000 assinaturas, exatamente dentre o público alvo desta estação.
Ficou explícita a vontade unânime da população pela preservação do verde e do uso de sua praça.

A proposta da população para a construção desta estação é a seguinte: uso do método shield que consiste em fazer a obra usando  maquinário que vai furando e fazendo o concreto  ao mesmo tempo. É um tipo de obra totalmente subterrânea. Não seria preciso mexer em nenhuma folha das árvores da praça. Ela também não traria impacto de poeira, barulho e interrupção do trânsito para os moradores. Esta técnica é perfeitamente viável, já tendo sido experimentada em diversas obras públicas no Brasil e em vários lugares do mundo.

 A outra sugestão se refere às saídas que teriam, necessariamente, de serem localizadas afastadas do entorno imediato da praça nas calçadas da Rua Visconde de Pirajá  nas esquinas de Maria Quitéria e Joana Angélica, mas do outro lado da rua, nunca junto à praça.

 Entendemos que as nossas sugestões são muito razoáveis, atendem ao Governo que quer trazer o metrô até este ponto do bairro, aos usuários interessados, e aos moradores, não só de Ipanema , mas também de toda a cidade uma vez que esta praça é um patrimônio de todos. E ela seria integralmente preservada.

 Já levamos esta sugestão ao Governo,   inclusive publicamente, no programa Globo- Comunidade que foi ao ar dia 24/06/2012. 
Convidamos igualmente os técnicos da Casa Civil do Governo do Estado sob cuja responsabilidade está o desenvolvimento de todo este projeto, para  que venham à Ipanema debater com a população a nossa opção de obra de modo a se chegar a um consenso. Uma intervenção desta magnitude não pode ser resolvida só no âmbito dos gabinetes. A população tem de ser ouvida. A Linha 1, que agora se denomina Linha 4 foi discutida em duas audiências públicas como manda a legislação. O assunto Estação N. Sra. da Paz sequer foi tocado nestas ocasiões.

 A nossa cidade paga um preço altíssimo pela perda de seu patrimônio artístico, arquitetônico, cultural, histórico e ambiental, por não ter entendido, em tempo, que o crescimento é necessário e bem-vindo, mas ele tem de vir respeitando as características e o patrimônio de cada bairro.
O resultado é lastimável: bairros como Glória, Catete, Laranjeiras e tantos outros são hoje locais empobrecidos e degradados.
 A Praia de Botafogo é outro triste exemplo de um local com o cartão postal mais lindo do mundo e hoje é uma simples passagem, que se deseja a mais breve,  desfigurada que foi pelo viaduto que a cortou ao meio, pela insana derrubada de seus casarões e pelo descaso dedicado aos seus outrora lindos jardins.
 A exceção que confirma a regra é o bairro de  Santa Teresa, preservado à custa da luta de sua população, que hoje é um pólo turístico importante, da cidade, apesar de distante da praia.

Infelizmente,  Rio de Janeiro está trocando as suas praças por estações de metrô. Praças como Gen. Osório, Cardeal Arcoverde, Largo do Machado Saenz Penha, e Afonso Penna, todas perdidas como espaço comunitário e de forma desnecessária como se verifica em relação à praça N. Sra. da Paz.

 Desrespeitar o tombamento é apagar a memória do bairro. Uma sociedade sem memória está impedida de aprender com a própria experiência e encontrar soluções inovadoras e criativas para seus problemas.

Entendemos que o bom senso deve regular as intervenções de modo a preservarmos a ambiência e características de cada espaço, sem engessar a cidade. A construção de uma estação de metrô na praça N. Sra. da Paz, pulmão do nosso bairro, não precisa ser feita da forma como está sendo proposta em obra a céu aberto e com entradas e saídas junto ao entorno imediato da praça.
Pedimos a intervenção do Ministério Público Federal para que ajude a população na sua luta pela preservação de seu espaço.


Atenciosamente,



 Maria Ignez Barretto – coordenadora do Projeto de Segurança de Ipanema

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