Favela 247 – Está em cartaz até o próximo dia 14, na Estação Ruben Braga, no Mirante da Paz, em Ipanema, a exposição
Passarela da memória, que conta, através de microbiografias, as histórias dos primeiros moradores do Maciço do Cantagalo. Os painéis, batizados de
Mulheres guerreiras e
Velhos ilustres, trazem confissões, confidências e relatos de superação de seis homens e 12 mulheres moradores das favelas locais. Ao lado do banner de Valter Pereira, a doméstica Cláudia da Paz, 48 anos, conta, orgulhosa, a história do sogro. “Hoje ele mora em Cabo Frio, mas ainda é bastante querido aqui. Ele ajudou muito a comunidade, até mesmo a erguer casas e barracos”, conta, em
matéria do site da UPP RJ. A história de Pereira, que chegou ao Cantagalo com 14 anos, remete à época em que os temporais quase varriam os barracos e que era preciso descer para o asfalto para comprar mantimentos.
Por Alfredo Mergulhão, da UPP RJ
Exposição reúne histórias de moradores do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho
A mostra “Passarela da Memória” reúne a nova e a velha geração das comunidades
“Olha mãe, o seu Cirino!”, disse o pequeno Alexander, de 13 anos. Roseli Rocha, de 38 anos, vinha logo atrás com os três irmãos do adolescente. Todos estavam impressionados ao perceber o senhor Nélson Cirino, morador do Cantagalo há 65 anos.
Seu Cirino é uma referência na comunidade e, por esse motivo, está representado na exposição “Passarela da Memória”. Idealizada pelo Museu de Favela (MUF), em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, a mostra está aberta ao público na Estação Ruben Braga, no Mirante da Paz, em Ipanema.
“É muito bom revê-los aqui. Acho um reconhecimento importante e acontece em boa hora. Algumas pessoas mostradas na exposição já morreram e precisam ser lembradas”, disse Roseli, que é dona de casa. Ela atravessou o corredor que dá acesso ao elevador Estação Ruben Braga mostrando as fotos aos filhos Alexander, Ian, Vítor e Ticiane.
Roseli parou em frente ao banner que conta a história de Nelson Cirino, que se recorda da época em que a iluminação no Cantagalo era feita com lamparina de querosene, os barracos eram de tábuas e os caminhos de barro.
Cirino é um dos seis homens pioneiros da comunidade com microbiografias apresentadas. Há também os registros das histórias de 12 mulheres. Não é sem motivo que os painéis receberam os nomes de “Mulheres guerreiras” e “Velhos ilustres”. Tratam-se de confissões, confidências, histórias emocionantes e relatos de superação daqueles que primeiro ocuparam os morros do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, pacificados desde dezembro de 2009.
A doméstica Cláudia da Paz, de 48 anos, tratou de apresentar logo um “velho ilustre” que faz parte da sua família. O sogro dela, Valter Pereira, também estampa um dos banners do painel. “Hoje ele mora em Cabo Frio, mas ainda é bastante querido aqui. Ele ajudou muito a comunidade, até mesmo erguer casas e barracos”, conta.
Pereira chegou ao Cantagalo com 14 anos e sua história remete à época em que os temporais quase varriam os barracos, quando era difícil morador de favela conseguir emprego e para comprar mantimentos tinha que ir para o asfalto.
Se antes era difícil ter um fogão, hoje praticamente todas as casas das comunidades têm computadores. E é possível comer fora de casa também, como no Bar da Bica, famoso pelos pastéis de carne e queijo. Bica é o apelido de Rosemere Napoleão, de 50 anos. “Olha, essas mulheres são guerreiras porque chegaram aqui há mais de 40 anos. São da época em que nós éramos tratados como lixo. Elas foram verdadeiras batalhadoras”, afirma.
Dona Bica aponta para uma mulher em especial. É a tranceira afro Diva José Vieira, de 48 anos, nascida e criada no Cantagalo. “Ela já fez muita trancinha no meu cabelo, mas agora eu cortei tudo e não tem jeito mais”, diz Bica, que está com a pensão cheia de chilenos que vieram assistir à Copa do Mundo da Fifa.
A exposição é o resultado do esforço coletivo dos integrantes do MUF, em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro. As entrevistas foram realizadas pela jornalista, pesquisadora de memórias e diretora social Rita de Cássia Santos, com apoio da diretora cultural Márcia Souza. Ambas do MUF e moradoras do Cantagalo. A escolha e seleção dos personagens foram realizadas pelo Colegiado do MUF, integrado por moradores das favelas.