Antes de ler a carta da Dra. Mafalda
Carvalho, Professora Doutora da Universidade de Coimbra, endereçada à Maitê Proença, algumas observações sobre as
razões da missivista:
1) Maitê
Proença disse no programa "Saia Justa" ( NET- net canal 41 ) umas
gracinhas sobre a inteligência dos portugueses. Fez comentários descabidos sobre
a História de Portugal, sobre tradições portuguesas que ela desconhece, sobre o estuário do Rio
Tejo, reduziu Sintra a uma vilazinha, criticou e ridicularizou o
atendimento a seu PC pelo pessoal do hotel onde estava hospedada... e por aí
afora.
2) O programa passa em Portugal e causou
um grande mal estar
lá na "terrinha". Quando foi execrada
pelos portugueses, no seu pedido de desculpas ainda disse que o povo Português
não tem senso de humor. Que foi
"apenas" uma brincadeirinha.
3) É o que dá quando a pessoa fala sem
conhecimento de causa. Esta professora portuguesa além de escrever muito
bem, acabou com Maitê Proença e de
quebra, com os nossos representantes em Brasília, protagonistas de um vasto
anedotário.
4) Leia até o fim, pois
a postura da Professora é excelente e nós..... temos que ficar caladinhos....
5) É isso que dá, alguém despreparado
emitir conceitos sobre assuntos que não domina, com apoio dos alienados das
redes
de TV Brasileira, que se consideram o máximo em cultura .. 6) E temos
que engolir calados e com humildade o desabafo
dessa senhora portuguesa, generalizando e
nivelando todos os brasileiros. Mesmo porque ela não diz nenhuma inverdade.
7) A
que ponto chegamos! Não temos mais nem o direito de
nos indignar. Pobre Brasil! É o declínio
moral de uma Nação.CARTA-RESPOSTA DE UMA PROFESSORA E DOUTORA PORTUGUESA
PARA MAITÉ PROENÇA
Exma.. Senhora:
Foi com indignação que vi a ‘peça
cómica’ que fez em Portugal e passou no programa Saia Justa em que participa.
Não que me espante que o tenha feito – está à altura da imagem que há
muito tenho de si, pelo que me tem sido
dado ver pelos seus desempenhos – mas sim pelo facto da
TV Globo ter permitido que tal ignorância fosse para o ar.
Só para
que possa, se conseguir, ficar um pouco mais esclarecida: A ‘vilazinha’ de
Sintra é património da Humanidade, classificada pela UNESCO e unanimemente
reconhecida como uma das mais belas e bem preservadas cidades históricas do
mundo;
Em Portugal, onde existem pessoas que olham para o mouse do seu
computador como se de uma capivara se tratasse, foi onde
foi inventado o serviço pré-pago de
telefones móveis (os celulares) – não existia nenhum no mundo que sequer se
aproximasse e foi também o que inventou o sistema de passagem nas portagens
(pedagios, se preferir), sem ter que parar – quando passar por alguma, sem ter
que ficar na fila, lembre-se que deve isso aos portugueses.
É um dos
países do Mundo com maior taxa de penetração de computadores e serviços de
internet em ambiente doméstico. É o único país do mundo
onde TODAS as crianças que frequentam a escola têm acesso directo a um
computador (no próprio estabelecimento de ensino) – e em Portugal TODAS as
crianças vão à escola... Muitas delas até têm um computador próprio,
para seu uso exclusivo, oferecido ou
parcialmente financiado
pelo Ministério da Educação – já ouviu
falar do Magalhães? É natural que não... mas saiba que é uma criação nossa, que
está a ser adquirida por outros países. Recomendo-o vivamente – é muito simples
e adequado para quem tem poucos conhecimentos de informática.
Somos tão
inovadores em matéria de utilização de tecnologia informática e web nas escolas,
que o nosso caso foi recomendado por especialistas americanos, como exemplo a
seguir, a Barack Obama, que é só o Presidente dos Estados Unidos –ao Sr. Lula da
Silva tal não seria oportuno, porque ele considera que a Escola não é
determinante no sucesso das pessoas (e, no Brasil , a julgar pelo próprio, tem
toda a razão).
A internet à velocidade de 1 Mega, em Portugal há muito
que é considerada obsoleta – eu percebo que não entenda porquê, porque no Brasil
é hoje anunciada como o grande factor diferenciador a transmissão por cabo que
já não nos interessa. Já estamos noutra – estamos entre os países do mundo com a
rede de fibra óptica mais desenvolvida.E nesse contexto 1 Mega é mesmo uma
brincadeira.
O ditador a que se refere – o Salazar – governou,
infelizmente, ‘mais de 20 anos’, mas para a próxima, para ser mais precisa,
diga que foram 48 (INFELIZMENTE, é mais
do dobro de 20). Ainda assim, e apesar do muito dano que nos causou a sua
governação, nós, portugueses, conseguimos em 35 anos
reduzir praticamente
a ZERO a taxa
de analfabetos e baixar para cifras irrisórias o
nível de mortalidade infantil e de
mulheres no parto onde
estamos entre os melhores do
mundo.
Criar uma rede viária que é das mais avançadas do mundo – em
Portugal, sem exceder os limites de velocidade e sem correr risco de vida,
fazemos 300 km em duas horas e meia (daria tanto jeito que no Brasil também
fosse assim!).
Melhorar muito o nível de vida das pessoas, promovendo
salários e condições de trabalho condignos. Temos ainda muito para fazer nesta
matéria, mas já não temos pessoas fechadas em elevadores, cuja função é apenas
carregar no botão do andar pretendido – cada um de nós sabe como fazê-lo e
aproveitamos as pessoas para trabalhos mais estimulantes e úteis; também já não
temos trabalhadores agrícolas em regime de escravatura – cada pessoa aqui tem um salário, não trabalha a troco de um
prato de
comida.
Colocar-nos na vanguarda mundial das energias renováveis, menos
poluentes, mais preservadoras do planeta; enquanto uns
continuam a escavar petróleo, nós estamos a instalar o maior parque de
energia eólica do mundo (é a energia produzida a
partir do vento).
Poderia também
explicar-lhe quem foi Camões, Fernando Pessoa, etc., cujos túmulos viu no
Mosteiro dos Jerónimos, mas eles merecem muito mais.
Ah!, já agora,
deixe-me dizer-lhe também que num ponto estou muito de
acordo consigo: temos muito pouco sentido de humor. É verdade. Não acharíamos graça nenhuma se tivéssemos deputados a
receber mesada para votarem num certo sentido, não nos divertiria muito se
encontrassem dirigentes políticos com dinheiro na cueca, não nos faria rir ter
senadores a construir palácios megalómanos à conta de sobre-facturação do
Estado, não encontramos piada quando os políticos favorecem familiares e usam o
seu poder em benefício próprio. Ficaríamos, pelo contrário, tão furiosos, que os
colocaríamos na cadeia. Veja só – quanta falta de humor. Mas, pelo
contrário, fazem-me rir as sessões plenárias do senado brasileiro. Aqui em Portugal , e estou certa que em toda a Europa, tal
daria um excelente programa de humor.
Que estranho, não
é?
Para terminar só uma sugestão: deixe o humor para quem no Brasil o
sabe fazer com competência (e há humoristas muito bons no Brasil ).. Como
alternativa, não sei o que lhe sugerir, porque ainda
não a vi fazer nada que verdadeiramente me indicasse
talento...
Peço desculpa por não poder contribuir.
Mafalda
Carvalho - Professora Doutora da Universidade de Coimbra
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