COUNTRY CLUB


Country Club barra sobrenome tradicional Guinle

  • Mesmo assim, estabelecimento está aberto a dinheiro novo

LAURA ANTUNES (
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Sinais dos tempos. A sede do Country, em Ipanema: mesmo com critérios rigorosos de admissão de sócios, o clube já abriu as portas ao donos do chamado “dinheiro novo”
Foto: Gabriel de Paiva/ 16-01-2009 / O Globo
Sinais dos tempos. A sede do Country, em Ipanema: mesmo com critérios rigorosos de admissão de sócios, o clube já abriu as portas ao donos do chamado “dinheiro novo” Gabriel de Paiva/ 16-01-2009 / O Globo
RIO — Comprar um título de sócio do Country Club do Rio de Janeiro sai pela bagatela de R$ 680 mil. O custo da taxa de transferência desse título ao novo sócio: mais R$ 200 mil. Valor da mensalidade para frequentar o grupo de 805 membros: R$ 1.200. Não ser barrado pelas lendárias bolas pretas do conselho diretor: não tem preço. O clube fundado por executivos ingleses em 1916, de frente para o mar de Ipanema, considerado o mais seletivo da cidade, parece viver tempos esquizofrênicos. Mesmo tendo perdido a importância aristocrática do passado — quando era frequentado pela elite da sociedade, políticos e diplomatas — e decidido aceitar em seus quadros alguns nomes estranhos aos quatrocentões cariocas — como o ex-dono das lojas Brasil e criador de gado nelore, Jonas Barcellos, mineiro radicado no Rio —, o Country continua mantendo seu ritual de aprovação, tido por muitos como constrangedor e humilhante, para barrar até mesmo nomes de tradicionais famílias cariocas.
Ser endinheirado, ter classe, prestígio e educação não garantem nada. No ritual, o candidato tem a foto e nome expostos numa parede de pedra por 60 dias, antes de ser avaliado pelo conselho de 24 membros. Sozinho, nem berço conta. Que o diga a atriz Guilhermina Guinle, cuja família tradicional pertence ao quadro de sócios desde a fundação do clube. Alguns dos Guinle chegaram a dirigir o Country. Pois ela, que frequenta o lugar desde criancinha, teve o nome vetado em janeiro, como noticioua coluna de Ancelmo Gois. A artista é casada com o advogado tributarista Leonardo Pietro Antonelli, irmão da atriz Giovanna Antonelli. Há duas versões para as cinco bolas pretas que a atriz recebeu.
— Entre os conselheiros, há advogados renomados. O que se comenta é que eles fazem ressalvas ao perfil profissional do marido da atriz — diz uma sócia.
Outro sócio, porém, já acredita que o próprio estilo de vida da artista a prejudicou:
— Sua super exposição na mídia não combina com o perfil discreto do clube.
O veto surpreendeu a mãe da atriz, a arquiteta Rosa May Sampaio. Segundo ela, Guilhermina é bisneta de Carlo Cesar de Oliveira Sampaio, que era casado com a inglesa Rosa May Goodwin, uma das fundadoras do clube.
— Só pode ter sido inveja! — alfineta Rosa.
Procurado pelo GLOBO, o casal não se pronunciou sobre a saia justa.
A executiva Luciana Rique, herdeira do grupo de shoppings Iguatemi, desistiu de enfrentar o crivo do conselho e retirou seu nome, que seria avaliado na mesma reunião. Comenta-se que ela ouviu os conselhos de amigos e temia dar com “a cara na pedra”. O termo é uma piadinha interna pelo fato de o nome e foto do candidato ficarem na tal parede de pedra. Os fofoqueiros de plantão apostam que a moça foi prejudicada pela vida de celebridade que leva. Procurada pelo GLOBO, ela preferiu o silêncio. Uma candidata que passou recentemente pelo crivo do conselho foi a arquiteta Marcia Müller.
— Fico feliz — limitou-se a dizer.
Os conselheiros usam três cores de bolas para avaliar os nomes: pretas (veto), brancas (abstenção) e vermelhas (aprovação). Bastam três pretas para sepultar o candidato. Se ele for parente de um sócio, há uma dose de misericórdia: só poderá ser vetado por cinco bolas pretas. A votação é secreta. Um conselheiro, que participou da reunião que guilhotinou Guilhermina, jura não saber os motivos do veto:
— Tanto a atriz como sua família receberam elogios. Quem discorda não pede a palavra. Apenas deposita a bola preta na caixa.
Quem tem estilo de vida “espetaculoso” não é bem visto. Revistas como “Caras” e “Quem” nem circulam ali. Reza a lenda que uma das maiores ousadias foi cometida, há alguns anos, por Ariadne Coelho, ex-mulher do falecido Rei das Quentinhas. A moça tentou e não passou. O conselheiro diz que os critérios de seleção são subjetivos e levam em conta não só o candidato, mas a família:
— Não há restrições a quem aparece na mídia por sua profissão. O que não pode é manter-se em evidência sem ter uma atividade produtiva.
Fins de casamentos costumam ser motivo de baixarias, como relembra, às risadas, uma sócia:
— É comum, após a separação, o cônjuge que ficou sem o título tentar comprar outro e voltar a frequentar com a atual mulher. A ex boicota e há brigas. Uma culminou até com tapa na cara em público.
Há quem diga que o clube se moderniza. Em entrevista à revista “Piauí”, uma sócia justificou: “aqui tem árabe, judeu e acho que até um preto”. Por outro lado, em plena era da internet móvel, celulares foram banidos ano passado.
E há a pronúncia. Para quem tem a pretensão de se tornar sócio, não pronuncie nunca “Cáuntry” (com som aberto) para um membro do clube. Pega mal. Diga “Cântry”. E fica a dica.
O endereço que já foi ícone da aristocracia
Fundado por ingleses bem-nascidos que viviam no Rio, o Country já foi ícone máximo de uma elite influente quando o Rio abrigava a capital do país. Embora os critérios de seleção de sócios sempre tenham sido rigorosos, com o passar dos anos, o clube começou a abrir as portas para o chamado “dinheiro novo”. Leia-se abastados que não carregam sobrenomes ilustres. Sinal dos tempos, apesar do olhar atravessado dos sócios puristas.
Algo mais mudou no clube. Se antes era disputado por quem queria ver e ser visto, hoje, o clube não atrai os jovens das famílias de sobrenomes tradicionais. Eles não fazem questão de frequentar o endereço, como os avós faziam. Nomes poderosos da política e da diplomacia também não mais circulam com frequência por lá. Dos 805 sócios, 250 vão efetivamente ao clube, instalado num terreno de 12 mil metros quadrados de área verde, no posto 10. Aliás, uma circulada pelo Country e vem uma ponta de decepção, pois, em termos de luxo, as instalações estão longe de fazer jus à tanta fama. Duas piscinas, sauna e academia estão à disposição dos sócios, que, muitas vezes, têm em casa conforto maior...





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