PRAIA DE IPANEMA

..Uruguaia faz da praia de Ipanema o seu escritório no Brasil


Por Rafaella Javoski (rafaella.javoski@oglobo.com.br)
Agência O Globo – 1 hora 12 minutos atrás....Email

Foi durante a ditadura no Uruguai que Gloria Falero saiu do país. Preso político, seu marido conseguiu vir para o Brasil, e, pouco tempo depois, ela embarcou rumo ao Rio de Janeiro com os dois filhos. Trinta anos depois, Gloria é uma das barraqueiras mais conhecidas do Posto 9, e seus sanduíches, de frango, carne e linguiça, são um sucesso.

Durante algum tempo, o casal contou com a ajuda da Organização das Nações Unidas (ONU), mas, após o período de ditadura, ao optar por permanecer na capital fluminense, não pôde mais contar com esse benefício.

O primeiro emprego do casal de uruguaios, que teve mais um filho no Brasil, foi numa churrascaria. Descontentes com os baixos salários, porém, ambos tomaram a iniciativa de trabalhar na praia. E estão no mesmo ponto desde então, muito satisfeitos.- No começo, poucas pessoas vendiam comida na praia e muitos estranhavam quando oferecíamos algo. Mas, aos poucos, conquistei os clientes e hoje conheço alguns pelo nome - conta Gloria.

Moradora da Tijuca, ela não esconde a paixão por Ipanema, para onde vai nos dias de sol. Com a experiência de anos de praia, a ambulante comenta a mudança no perfil dos frequentadores das areias.

- A faixa etária dos banhistas tem diminuído; o público fica cada vez mais jovem - compara a uruguaia, que já vem atendendo os filhos de muitos dos antigos clientes.

Com um sotaque que entrega a nacionalidade estrangeira, Gloria lembra que nos primeiros meses sentiu dificuldade com a língua, já que não conhecia o português. E a solidariedade carioca foi essencial para que, aos poucos, vencesse o obstáculo. Hoje ela conversa com facilidade, e admira a música brasileira.

- Adoro o Zeca Pagodinho, já fui a muitos shows dele - afirma ela.

O bronzeado, por razões óbvias, está sempre em dia, e o samba, na ponta da língua. Mas há ainda outra característica que faz essa gringa mais carioca do que muitas garotas de Ipanema: o know how para fazer caipirinha. Questionada sobre o segredo do preparo, ela disfarça:

- Gosto tanto daqui que aprendi rápido a fazer a caipirinha brasileira. Faço tudo com amor porque trabalho contente. Não dá para ficar aborrecida com essa vista.

Apesar da saudade dos que ficaram no Uruguai, ela garante que não deseja voltar a morar em seu país:

- Isso não. Sou feliz aqui.



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