ANCELMO GOES

Enviado por Ana Luiza Archer - 08.05.2012


Adeus à praça

Não tem quem passe pela Praça N. Sra da Paz em Ipanema e não se encante com a sua beleza, suas árvores centenárias e seu clima bucólico no meio de um bairro tão agitado, numa cidade, como disse nosso prefeito Eduardo Paes, em recente palestra, “com um monte de gente, poluição, carros e concreto, muito concreto”. Pois, neste cenário, nossa praça parece um oásis. Crianças e idosos passam horas no local, os primeiros brincando e os últimos se distraindo e apreciando as brincadeiras. Praça é assim mesmo, deve ter essa ambiência de paz.

A Praça N. Sra da Paz é, e sempre foi, o coração do bairro. Muitos de nós temos inúmeras recordações do local. Eu mesma lembro de brincar escalando a estátua do Pinheiro Machado para depois me sentar nos seus ombros. Lembro dos meus filhos pequenos tomando sol no carrinho, assim como me lembro da minha filha mais velha caída no lago, empurrada pelo caçula travesso. Nossas lembranças são muitas e em breve estarão expostas em fotos pela praça. E por que a exposição? Ora, porque inacreditavelmente vão destruir a Praça N. Sra. da Paz.

E a praça é tombada! No entanto, está sendo “destombada” pela prefeitura e 113 árvores serão retiradas pelo governo estadual para receber o metrô, na Estação N. Sra da Paz.

Destruirão a praça da nossa comunidade. Estaremos privados da sua beleza e tranqüilidade durante as obras e, principalmente, depois dela, pois por ter uma dinâmica acelerada, diversa da dinâmica de uma praça, esta estação acabará com a sua ambiência de paz. Ora, saídas de metrô em lojas e centros comerciais são comuns no mundo todo e trazem benefícios ao comércio. Temos quatro galerias comerciais importantes no entorno da praça, sem falar em imóveis que poderiam ser desapropriados para essa construção a exemplo da Estação Siqueira Campos. Por que não?

Estamos às portas da Rio + 20 e esta discussão não é só do bairro. Ela é muito mais ampla, temos de aprender com a nossa experiência histórica. Especialistas em mobilidade urbana, o Clube de Engenharia, o Ministério Público, 27 associações de moradores e amigos lutaram tenazmente pelo traçado original da Linha 4, que ligaria a Barra da Tijuca ao Centro, via Humaitá e Jardim Botânico. Teríamos um metrô em rede, a exemplo das cidades mais avançadas no mundo em mobilidade urbana. Mas não. Sabe-se lá o porquê, cismaram que o trajeto deve ser este linhão, que na verdade é uma extensão da linha 1. Com ele, todos os nossos problemas estarão resolvidos. Será? Em Ipanema, tudo indica que o metrô já passará lotado... Não podemos aceitar isso.

Não há dúvida de que este tipo de política pública autoritária, incapaz de encontrar soluções conjuntas, criativas e inovadoras para seus problemas e que desrespeita a memória local resulta em uma sociedade desagregada, sem história, sem interesse. E como também afirmou nosso prefeito na palestra acima citada, “deve-se pensar no verde, no verde, no verde... A cidade do futuro terá de ser ambientalmente envolvente...”.

Sr. prefeito, quando vamos sair desse discurso e iremos à prática?



Nenhum comentário:

Postar um comentário