BOA PARA BANHO !


Inea analisa água de chuveirinhos da orla e alega que não há contaminação

Foram recolhidas amostras de oito quiosques do Flamengo ao Leblon.

Pelos resultados, a água foi classificada como própria para o uso recreativo

ISABELA BASTOS



Meninas tomam banho em um chuveirinho na Praia de Ipanema

FELIPE HANOWER / O GLOBO

RIO - Uma nova análise da qualidade da água dos chuveirinhos dos quiosques das praias da Zona Sul, realizada pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), esquentou a polêmica nas areias. Ela mostra que o banho nesses pontos da orla não representa riscos à saúde. O Inea recolheu, no dia 23 de fevereiro, amostras em chuveirinhos de oito quiosques do Flamengo ao Leblon. Pelos resultados, a água foi classificada como própria para o uso recreativo. No início do mês, uma análise encomendada pelo GLOBO a um laboratório particular apontara indícios de contaminação por esgoto em parte das amostras em dez quiosques.
O Inea analisou a água de duas barracas no Flamengo, uma no Leme, duas em Copacabana, duas em Ipanema e uma no Leblon. As amostras foram testadas para presença de coliformes termotolerantes (grupo que reúne bactérias de origem fecal e ambiental) e, especificamente, para incidência de bactérias do tipo Escherichia coli e do grupo enterococos, ambas de origem estritamente fecal e que podem causar doenças gastrointestinais. Segundo o Inea, todas as amostras apresentaram concentrações abaixo do máximo permitido para o chamado uso recreativo (para limpeza do corpo e sem consumo direto, via oral).
A discrepância nas análises tem como origem a metodologia usada nos dois casos. A pesquisa do Inea tomou por base duas resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que estabelecem, entre outras medidas, os padrões de qualidade para as águas de uso recreativo. Nos dois casos, a água dos quiosques foi aprovada.
De acordo com uma das resoluções — a Conama 274/2000 —, das oito amostras recolhidas pelo Inea, o chuveirinho que registrou índice mais alto de coliformes termotolerantes (130 NMPs) teve sua água classificada como de excelente qualidade para uso recreativo.
Análise de laboratório mostrou que há riscos
Nos testes feitos pelo Inea para a presença de bactérias do tipo Escherichia coli, a água de todos os chuveiros também foi aprovada.
Ainda de acordo com o Inea, se fosse levada em conta a resolução Conama 357/2005 — que classifica os corpos hídricos e estabelece diretrizes ambientais para seu uso —, ainda assim os chuveirinhos estariam aprovados.
— O que a análise do Inea mostra é que tomar banho nas duchinhas da orla não representa risco à população. O uso desses chuveirinhos é recreativo, para se refrescar e se limpar. A água ali não é para beber. Alguns deles têm até mesmo água salobra. A quantidade de coliformes encontrada é menor do que a registrada no mar — diz o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc.
Na pesquisa anterior, feita pelo laboratório Baktron, a pedido do GLOBO, a análise tomou por base a portaria 518/2004 do Ministério da Saúde, que, entre outros itens, estabelece os padrões de qualidade da água potável, para consumo humano. Por esse método, bem mais restritivo, para serem consideradas próprias para o uso, as amostras teriam que registrar a ausência total de coliformes termotolerantes e da Escherichia coli, por exemplo. Das dez amostras coletadas pelo laboratório, sete apresentaram indícios da presença de coliformes termotolerantes e três registraram a presença de Escherichia coli.
A microbiologista Fernanda Drumond, diretora do laboratório e responsável pelas análises, sustenta que os parâmetros de balneabilidade citados por Minc e estabelecidos pelo Conama devem ser aplicados a testes com água do mar. No caso de exames com água de abastecimento pós-tratamento ou de poços, valem, segundo ela, critérios de potabilidade.
— A lei determina isso, pois é água de consumo humano. Além disso, o governo não pode ignorar que essa água entra em contato com a boca e os olhos, principalmente de crianças.
De acordo com a gerente do Departamento de Qualidade da Água do Inea, Fátima Soares, que coordenou a pesquisa do órgão, a metodologia mais adequada para analisar a água dos chuveirinhos da orla é a que leva em conta as resoluções do Conama. É com base na resolução 274/2000 que o órgão estabelece o padrão de balneabilidade das praias do Rio.
— Consideramos a água do chuveirinho como de contato primário, que é aquele contato prolongado com a pele, mas sem consumo pela boca. Como acontece com a água do mar. Mas levamos em consideração ainda o fato de que a pessoa não fica no chuveiro o tempo que gasta no mar. Então usamos duas resoluções, uma mais restritiva e outra menos, ambas para águas de contato primário. E, nos dois casos, os chuveirinhos passaram no teste. As pessoas não correm riscos nessas duchas.
Para o oceanógrafo e professor David Zee, do Departamento de Oceanografia da Uerj, o critério mais adequado para análise dos chuveirinhos é o que rege o uso recreativo das águas:
— Água de chuveirinho é para banho. Não é para engolir, assim como a do mar também não. A resolução Conama tolera alguma incidência de coliformes termotolerantes com base nesse pressuposto de que não se vai engolir. No caso de crianças, assim como se orienta a não engolir a água do mar, deve-se fazê-lo nos chuveiros também. Vale o bom senso.
Há décadas explorados sem controle por barraqueiros, os chuveirinhos instalados na areia das praias do Rio entraram na mira do Comitê Gestor da Orla. A prefeitura pretende estabelecer uma rotina de análise da qualidade da água dessas duchas, a exemplo do que o Instituto Estadual do Ambiente já faz com a água do mar. Além disso, quer proibir o uso de bombas elétricas ou movidas a combustível para puxar água do subsolo e abastecer os chuveiros. O vice-prefeito, secretário municipal de Meio Ambiente e presidente do Comitê Gestor da Orla, Carlos Alberto Muniz, disse que, até o verão de 2013, os quiosqueiros serão convocados a trocar os velhos chuveiros por modelos mais modernos, movidos a energia solar ou por bombeamento manual.
— Existe uma zona cinzenta nessa área que queremos iluminar. Estamos preocupados com os chuveirinhos e vamos disciplinar seu uso. Hoje, isso ocorre de forma inadequada. Muitas bombas são movidas a gasolina ou querosene e produzem ruído, além de gases do efeito estufa. Não há um licenciamento para as duchas. No passado, houve uma tentativa de organização, sem sucesso — diz Muniz.
A ideia, diz ele, é classificar a qualidade da água das duchas como própria ou imprópria, garantindo o seu controle sanitário.
— Já fazemos análises esporádicas da água, e a ideia é que isso se torne rotina. Já fazemos rotineiramente o monitoramento da água da Lagoa. Vamos estender essa rotina às duchas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário