MAURO VENTURA



O som ruidoso da britadeira invadiu todo o ambiente. Espiei o relógio. Era uma da manhã de quinta-feira. Olhei da varanda e não consegui identificar a fonte de tanto barulho. Desci, apenas para descobrir que eram operários da prefeitura, trabalhando três horas além da Lei do Silêncio no recapeamento da orla de Ipanema. Tirei fotos e perguntei quem tinha autorizado aquele absurdo. Os dois funcionários disseram que havia um engenheiro responsável, mas que ele estava em outro lugar.
Outra moradora também apareceu e disse que tinha chamado a polícia. Ficamos esperando, até que veio uma patrulhinha. Não era a que tinha sido avisada, mas servia. O PM perguntou pela ordem de serviço e pelo responsável. Um dos operários, sem rádio ou celular, disse que ia a pé chamá-lo, mas que ia demorar porque ele estava longe.
Enquanto esperávamos, apareceu outra patrulhinha. Também não era a que foi chamada. Os primeiros policiais foram atrás do supervisor e os outros ficaram aguardando. Até que finalmente o engenheiro apareceu.
Perguntei por que estavam usando uma britadeira a uma da manhã.
- Temos que fazer a essa hora para não causar engarrafamento. - É justo. Mas por que não começa lá pelas 21h, quando o trânsito já melhorou, e vai até umas 23h? - Porque vai ter a Maratona do Rio, dia 18, e temos que aprontar a tempo.
- Mas se sabia que ia ter essa maratona por que não começaram as obras antes?
Nisso, chegou o carro de polícia que tinha sido chamado. Já era o terceiro que aparecia. Um dos PMs pediu a ordem de serviço.
O homem sacou uma folha de papel (fotos abaixo), que autorizava a interdição de vias de Ipanema e Leblon. Era datado do dia 20 de abril. Detalhe: não dizia a data de interdição, não detalhava o horário, não falava quais vias, não mostrava quem tinha autorizado e não vinha assinado.
Na última linha, lia-se: "Autorizar a interdição de uma faixa de trânsito em ambos os sentidos das seguintes vias."
O policial perguntou: - E onde está a segunda folha, que diz quais são as vias?
- Não tenho - admitiu o engenheiro, que se identificou como Marco Antônio.
Uma hora após eu descer para reclamar, finalmente a obra foi parada - apenas para recomeçar na noite seguinte, embora um pouco mais cedo.
Algumas coisas me chamaram a atenção. Primeiro: três patrulhinhas terem estado no local do "crime".
Segundo: a prefeitura não ver nada demais em descumprir acintosamente a Lei do Silêncio, apresentando um documento fajuto como justificativa. Se não tivéssemos interferido, a britadeira teria se estendido por toda a madrugada.








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