ENTREVISTA


Entrevista com Beltrame
( http://extra.globo.com/geral/casodepolicia/posts/2010/05/11/secretario-de-seguranca-diz-que-poder-publico-demorou-acompanhar-upp-290564.asp )

Secretário de Segurança diz que poder público demorou a acompanhar UPP

Em entrevista ao EXTRA, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, criticou o ritmo que a prefeitura do Rio vinha adotando em levar para as comunidades pacificadas os demais serviços públicos. Só agora, explica Beltrame, a prefeitura está mais engajada, ainda que não tenha, segundo ele, um planejamento com o da Secretaria de segurança, que pretende implantar mais 43 Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) até o fim de 2014.

Na mesma entrevista, que você pode conferir abaixo, Beltrame contou que permanecerá em um eventual segundo governo de Sérgio Cabral, caso seja convidado. Completando 30 anos de polícia este ano - ele foi policial federal -, o secretário confirma que as UPPs foram o divisor de águas de seu governo, mas prefere não fazer delas plataforma política. "Não tem UPP pirotécnica", explica. Quando perguntam sobre quais serão as outras cinco UPPs deste ano - já anunciou três unidades no Salgueiro, Andaraí e Macacos - o secretário dá um risinho.

Não é um homem de gargalhadas. Foge das perguntas cujas respostas considera estratégicas com um vago "Mais pra frente". Mas, ao defender que as UPPs são um divisor de águas em sua passagem pelo governo, o gaúcho que há três anos e quatro meses aportou no Rio de Janeiro em um cenário de sucessivos ataques de traficantes, para intimidar o novo governo, garante que está no caminho certo. Para ele, o poder paralelo está com os dias contados. Só alerta que não é agora. Bem ao seu estilo, prefere dizer que é "mais pra frente"

Na visita que representantes da empresa Souza Cruz fizeram à Ladeira dos Tabajaras, para avaliar o patrocínio da sede da UPP de lá, o senhor comentou que estava na expectativa sobre o ritmo de trabalho da prefeitura, no sentido de levar às comunidades pacificadas os demais serviços públicos. Acha que melhorou essa prestação?

Está mais rápido, estão mais engajados. A UPP me trouxe uma lição. Como o problema nesses lugares era a segurança, diziam que o professor não ia dar aula porque o tráfico não deixa, a saúde não vai porque não sei o que e pro aí vai. Agora vemos que o problema não é só segurança. Os outros serviços de uma certa forma ficavam também escudados na carência de segurança. Assim como a segurança não tinha estrutura, os serviços públicos do município também não tinham. Usava-se muito como desculpa e ficava represado o outro serviço. Agora, eles estão indo, mas não tem um ordenamento até o fim do ano, como eu tenho.

Num eventual segundo mandato do governador Sérgio Cabral, o senhor permanece?

Permaneço. Acho que está muito longe. Um mês aqui (na Secretaria de Segurança) é muita coisa. Mas, se me convidar e a minha equipe topar, eu topo.

Continua firme com a ideia de nunca concorrer a um cargo público?
É um assunto em que eu não penso. Gosto muito do que eu faço, estou muito envolvido com o que eu faço aqui. Estou envolvido com as pessoas, esse grupo. Não me atrai. Ser candidato a alguma coisa implica chegar lá na frente e ter que abrir mão do que a gente pensa para ter que votar pelo voto de um partido. Quando eu penso, penso isso, que eu não vou poder ser efetivamente eu e ser efetivamente o que eu acho. São coisas que eu não consigo entender. O governador tem sido fantástico nesse aspecto, porque o planejamento das UPPs não está atendendo a uma rota política, não tem UPP pirotécnica.

Nesses três anos e quatro meses à frente da Secretaria, qual foi o pior momento da sua gestão?
O caso João Hélio e, do lado insitucional, a morte daqueles quatro policiais queimados. No João Hélio, chegávamos aqui e pela maneira absurda que aconteceu, e os policiais, que são meus colegas. Quando a gente sai para cada operação, a gente fica diferente, e é normal que isso aconteça. Quando vejo isso, lembro-me do tempo que saía para certos trabalhos. Quando se volta, a satisfação de ter voltado. Esses colegas também sentiram aquela adrenalina de ir pelo trabalho, mas não tiveram essa satisfação. Já o João Hélio, é a questão da sociedade, como secretário, como pai. Foi um momento difícil.
Toda operação para implantação de UPPs tem que ter uma ação prévia?
Temos que produzir inteligência e atuar. A Polícia Civil foi lá no dia 18 de março e fez um trabalho bom, prendeu algumas pessoas. Só no Morro São Carlos hoje (a entrevista foi feita na última sexta-feira, 7 de abril, quando a polícia fez uma operação na favela), nós já passamos de dez presos. Isso vai sendo, esporadicamente, e as pessoas dizem que não prende. Como não prende? A Polícia Civil investiga e ela sempre vai na frente da UPP. Hoje, está tendo uma operação da Polícia Civil no São Carlos. Não quer dizer que seja para UPP. Está planejado para ter, mas não posso garantir. Uma investigação tem começo, mas não tem fim. Quando ela está pronta, ela vai acontecer. É como na Providência. Ela estava de um jeito que a gente até fez antes. A 4ª DP, o 5º Batalhão, eles foram fazendo operações seguidas ali. Íamos deixar para perto da formatura (última formatura de 1.020 PMs), mas estava tão acéfalo o negócio criminoso que eu disse: "Vamos nos assenhorar logo disso aqui, para evitar qualquer problema depois".

Quando se entrará no Complexo do Alemão?

Não há nem o ano específico. Em 2010, não será. Pode ser em 2011 ou 2012. Nós temos que pegar áreas fundamentais antes de fazer lá. Se nós tivermos informações qualificadas, como tivemos em 2008, nós vamos de novo. Naquela ocasião, pegamos 15 mil cartuchos de 762, prendemos pessoas importantes, pegamos uma quantidade muito boa de armas.

Se eu tiver boa informação, não vou?

Eu vou. Se fizer isso, estou prevaricando. O pior é ter a boa informação, saber onde as coisas estão e não agir. Hoje, está tendo uma informação difícil, sabia que tinha submetralhadoras, foi lá e pegou. A operação é difícil, mas nós temos que saber. Se eu tiver meias informações, em função de um banho de sangue. Mas se eu tenho informações concretas, informação quente, a gente tem que ir. Lá no Alemão, está cheio de gente armada. A gente chega e eles correm para as casas de moradores. Se soubermos que tem um paiol, nós vamos.

Vão morrer inocentes?

Nós não queremos que isso aconteça, mas nós temos que entrar. Se em abril de 2007, morreram 19, em 2012 serão muito mais. Não vou mais lá porque não tenho uma boa informação. Pelo tamanho, o Complexo é o maior desafio. É uma cidade de 150 mil pessoas, maior que muito município brasileiro. É uma área densa de pessoas, sabendo o nível de criminalidade que tem certas pessoas ali, com um histórico de certas pessoas. A ocupação se tivermos que fazer com até 4 mil homens, vamos fazer. Se precisar, eu trago gente do interior e da Força Nacional.

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