QUE CALOR !



Estratégias

Calor no Rio: lojas e restaurantes recorrem ao charme e à tecnologia para não perder clientes

Hugo Naidin

RIO - "Que calor, né?". Um dos comentários mais usados no combate à falta de assunto entre estranhos obrigados a dividir um mesmo espaço se transformou numa séria preocupação entre comerciantes. Diante da temperatura que não para de aumentar - deixando as pessoas cada vez mais inertes, menos dispostas a sair à rua -, o que fazer para cativar a freguesia? O custo às vezes alto de aparelhos de ar-condicionado, somado ao seu baixo rendimento em espaços ao ar livre, têm levado donos de lojas e restaurantes da cidade a buscarem soluções mais sutis e até charmosas para não deixar que o consumo, assim como a maquiagem das mulheres, derreta.

No Cria da Terra Gourmet, restaurante orgânico na Rua Aníbal de Mendonça, em Ipanema, um poderoso (e um tanto espaçoso) ventilador que borrifa água, instalado no teto da varanda, em vez de comprometer a decoração, se transformou na atração do lugar. Segundo o gerente Paulo Cesar, mesmo pessoas do lado de fora do restaurante param na calçada tentando tirar uma casquinha:
- Eu não queria fechar a varanda porque iria enfraquecer a proposta do restaurante, mas, por outro lado, o ar-condicionado também não estava dando conta. Agora, as pessoas da rua ficam paradas olhando para o vento, esticam a mão para tentar pegar um pouco da água... Mesmo tendo mesa vaga afastada, alguns clientes preferem ficar na fila esperando para sentar próximas ao ventilador. E ele tem ainda uma vantagem essencial: a água não chega a molhar o cabelo das mulheres. Só os turistas não se incomodam de sentar sob o sol - diz o gerente, acrescentando que o aparelho custou pouco mais de R$ 1 mil, e que ele próprio fez a instalação.
" Mesmo tendo mesa vaga afastada, alguns clientes preferem ficar na fila esperando para sentar próximas ao ventilador. E ele tem ainda uma vantagem essencial: a água não chega a molhar o cabelo das mulheres "
Mesmo tendo mesa vaga afastada, alguns clientes preferem ficar na fila esperando para sentar próximas ao ventilador. E ele tem ainda uma vantagem essencial: a água não chega a molhar o cabelo das mulheres
Já o Sushi Leblon, na Rua Dias Ferreira, um dos mais tradicionais restaurantes japoneses da cidade, investiu em tecnologia para manter a fama de ser também um dos mais frios. Além de três ar-condicionados em uso constante e um de reserva, a dona Marina Hirsch adquiriu recentemente um termômetro a laser em formato de pistola que indica com precisão a temperatura em cada canto do lugar. E, como a casa é mantida a, no máximo, 21ºC - enquanto a maioria dos restaurantes fica nos 24ºC, considerada uma "temperatura ambiente" -, as clientes também recebem echarpes. Afinal, ninguém quer comer suando - nem batendo queixo.
- Sempre tivemos muito cuidado com a temperatura, mesmo antes deste verão, porque, além de lidarmos com peixe, que é um alimento frágil, acreditamos que as pessoas comem e bebem melhor no frio que no calor. Para quem reclama que está frio demais, oferecemos as pashiminas (echarpes), porque evitamos ao máximo aumentar a temperatura do restaurante. As mulheres vêm para cá arrumadas, maquiadas; nós não podemos deixar que esse "clima" se perca. Mas quem passa do lado de fora e vê as pessoas comendo agasalhadas estranha! - comenta Marina, dona também do Zuka, do outro lado da rua, que conta com os mesmos recursos do Sushi no combate ao calor. Loja italiana usa leques japoneses
Os donos de restaurantes não são os únicos queimando a cabeça para espantar o calor e atrair a freguesia. A marca de roupa italiana Pianura Studio, que chegou ao Brasil em setembro último, com uma loja no Shopping da Gávea, talvez preferisse um boas-vindas um pouco menos caloroso. Assustada com as altas temperaturas, a dona Moana Alfieri, descendente de italianos, passou a dar leques a suas clientes. Em estilo japonês, eles vêm com uma fita colorida para serem pendurados na bolsa ou no braço.
- As pessoas já saem daqui planejando onde usar. Uma cliente disse que, com o leque, já podia voltar a andar nas lojas de rua; utraoutra falou que vai levar para todos os blocos de carnaval - conta Moana.
No Atelier Clementtina, loja de acessórios de moda na Rua Lopes Quintas, no Jardim Botânico, as clientes encontram chá gelado de frutas vermelhas com hortelã. Aos fundos da loja, uma varanda fechada com um pequeno riacho quase faz as mulheres esquecerem o calor pelo qual passaram até chegarem ali.
- Todo mundo chega reclamando do calor. Isso nos levou até a mudar o horário do nosso serviço de manicure, que antes era ao meio-dia, e agora começa às 15h. Qualquer agrado é bem-vindo - diz a designer Fabiana Pomposelli, dona do local.
Os mimos não se dirigem apenas às mulheres. Os homens também são recebidos com lencinhos umedecidos tanto no descontraído bar Ponto da Bossa Nova, na Rua Domingos Ferreira, em Copacabana, como no sofisticado Eça, na Avenida Rio Branco. Ali, preso aos ternos e às gravatas apertadas que compõem a paisagem do Centro da cidade, o público masculino se torna uma vítima especialmente sofrida do calor.
- O cointissue (tipo de lenço) é compactado e, ao contato com a água bem gelada, se hidrata e fica molhadinho, perfeito para refrescar os rostos dos executivos. Está fazendo o maior sucesso - diz a sommelière do Eça Deise Novakoski, que compra o produto em São Paulo. Onde, aliás, dias de puro sol seriam muito bem-vindos.

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