NA CONTRAMÃO DOS BLOCOS-IPANEMA


CARNAVAL – Blocos: na contramão de Ipanema

Sex, 12 de Fevereiro de 2010 22:22


“Ruas emporcalhadas, fedidas, repletas de lixo, completamente abarrotadas de pessoas embriagadas e, por conseqüência, um confinamento no apartamento”. Esse é o Carnaval para alguns moradores de Ipanema. Apesar dos blocos carnavalescos serem uma unanimidade no bairro, há outra realidade não muito alegre para ser considerada.
Enquanto a maioria dos foliões aguarda ansiosamente o desfile dos tradicionais blocos de rua – marca registrada do Carnaval do Rio de Janeiro – Ignez Barretto, coordenadora do Movimento Projeto de Segurança de Ipanema, não poupa palavras para revelar uma série de fatores “inconcebíveis”, enfrentados pelos moradores da região no Carnaval.
Trânsito fechado, ruas abarrotadas, barulho e o forte cheiro de urina são as principais queixas.Dobro de blocos
Levando em consideração que o período de desfiles dos blocos em Ipanema, assim como em todo Rio de Janeiro, ultrapassa os quatro dias de folia, torna-se ainda mais possível entender o que Ignez explica: “De 30/01 até 21/02, os blocos estão nas ruas do bairro. Ao todo, serão 32 – o dobro do caos do ano passado –, que teve 14. O bairro não consegue comportar tanta gente”. Apesar de haver uma considerável evolução na organização dos desfiles dos blocos de rua, que, inclusive, foram devidamente credenciados, não parece ser o suficiente.
A sugestão do Movimento Projeto de Segurança de Ipanema era restringir a passagem dos blocos para a quantidade razoável de dois ao dia. “É uma questão de respeito aos moradores”, afirma Ignez. “O problema não é a passagem dos blocos, pois muitos de nós gostamos até de sair neles. Simplesmente, é o excesso, principalmente de pessoas. Não há limites para a circulação dos blocos, para o volume do som e, principalmente, um policiamento eficaz para controlar o comportamento dos foliões. Apesar das melhorias na estrutura montada pelos organizadores, o bairro fica abarrotado e ainda torna-se refém desse conceito equivocado de carnaval de rua [leia-se mictório a céu aberto]”, completa. Muvuca
No último sábado (06/02), a tradicional banda de Ipanema, que completa 25 anos de Carnaval, apresentou mais um irreverente desfile, levando novamente mais de 50 mil pessoas para o bairro. Apesar de não ter ocorrido nenhum fator negativo e, até mesmo, ter uma organização elogiada em alguns jornais, a coordenadora do Movimento Projeto de Segurança de Ipanema não se contenta. “Apesar da estrutura apresentada não ser das melhores, o desfile ocorreu normalmente. Isso porque, foi apenas um desfile e não seis. Se tivessem mais, os banheiros espalhados pela orla não iriam comportar e, também, não haveria um controle rígido por parte dos policias, que já chegaram atuar com bombas da gás para controlar a multidão. Enfim, quando há excesso de blocos não há controle e as ruas se tornam um verdadeiro caos”, afirma Ignez.
Barrados no baile
Em busca de soluções, o Movimento Projeto de Segurança de Ipanema encaminhou uma reclamação formal ao Ministério Público. A promotora Ana Paula Petra, que analisa a situação dos blocos, ressaltou a falta de contingente da PM para assegurar um divertimento decente aos foliões de Ipanema, determinando à Secretaria de Turismo o cancelamento dos desfiles sem autorização dos órgãos de segurança. Assim, foram barrados os blocos Do You Like Brazilian Music? e Verde Amerelo & DJ Brasil.
“De acordo com o planejado, nenhum evento poderá ocorrer sem a devida autorização do 23º BPM e do CBMERJ. Caso não obtenham essas licenças de segurança, a Riotur não poderá conceder autorização para que os blocos realizem seus desfiles”, declarou a promotora. “Atendemos aos pedidos dentro do possível, porém, temos um limite operacional. Não podemos simplesmente remanejar policiais para Ipanema”, completa o capitão Ivan Blaz, relações-públicas da PM.
A promotora ainda fez críticas ao Decreto 30.659, que regulamenta os desfiles na cidade do Rio de Janeiro. No documento enviado à Riotur, ela foi categórica: “O prefeito não pode extrapolar os limites de sua competência, fazendo letra morta das leis de segurança”, escreveu. Já o secretário municipal de Turismo, Antonio Pedro, defende o decreto: “É o mais evoluído. Temos uma legislação especifica de blocos; as normas da PM precisam ser revisadas”, rebateu.
Apesar do clima de discussão e de ainda restarem muitas reclamações, os fatos não comprometem a alegria dos foliões. Ao contrário, o debate entre moradores e autoridades colabora para uma maior organização do tradicional Carnaval de rua no Rio de Janeiro.
Se todos caminharem em uma única direção, assim como os foliões atrás dos blocos, os desfiles só tendem a se fortalecer como uma experiência cada vez mais agradável, aumentando o prestígio dessa esperada festa popular.

(Felipe Kopanski/Especial para BR Press)

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