Falta de banheiro público deixa carioca no aperto

Com poucos sanitários e conservação precária, população recorre ao ‘jeitinho’

POR CHRISTINA NASCIMENTO

Rio - O Carnaval em que os mijões ficaram na mira foi também o que trouxe à tona a discussão para um problema na cidade: a falta de banheiros públicos. Percurso diário de milhares de pessoas, a Avenida Rio Branco é exemplo de local em que ficar apertado significa sufoco, para quem não quiser usar o tradicional ‘jeitinho’ e pedir abrigo em banheiros de bares e restaurantes. A situação se repete na praça Serzedelo Correia, em Copacabana, e se estende a lugares mais frequentados, como as imediações da Central do Brasil e a Rodoviária. Um dado, no entanto, a prefeitura já tem para acreditar que os mijódromos estão em falta: em quatro dias de folia, o Rio bateu o recorde de xixi coletados nos sanitários da empresa holandesa que cedeu 30 modelos para a experiência no período de folia. Foram, ao todo, 25 mil litros de urina. O município estuda comprar unidades semelhantes para espalhar pela cidade. Cada um custa, em média, R$ 3,8 mil.
Carlos Ferreira perdeu suas moedas de R$ 0,50 sem conseguir usar o banheiro público instalado pela empresa contratada pela prefeitura, em Copacabana Foto: Deisi Rezende / Agência O Dia
“Às vezes, a gente é obrigado a fazer xixi na rua, porque não tem um banheiro público por perto. Não estou dizendo que isso seja certo, mas, em algumas ocasiões, não resta outra opção”, desabafou o taxista Roberto José dos Santos, 52 anos. Para o aposentado José Carlos Ferreira, 64, o pior são os sanitários que ficam em cabines e não funcionam. “Já perdi muito dinheiro com esses banheiros. Você coloca a moeda de R$ 0,50 e fica a ver navios, porque a porta não abre”, reclama ele. A Clear Channel, que ganhou a licitação por 20 anos para instalar os banheiros admitiu problemas nas cabines e disse sofrer por ação de vândalos. “Roubam torneiras, o cofre com as moedas, as bombas. A cabine no Largo da Carioca é, disparado, a que é mais depredada”, afirma o gerente de operações da empresa, Marcelo Cavalcante. Na Avenida Rio Branco, fazer xixi é uma espécie de via crúcis, porque por todo o percurso não há banheiros. Nas ruas paralelas, as cabines disponíveis estão quase sempre quebradas ou sujas. “A todo momento, passa alguém aqui e pergunta onde tem banheiro. Aconselho a fazer o que faço: pedir em alguma lanchonete”, conta o jornaleiro Marcos Paulo dos Santos, 31, que trabalha na Rio Branco. A cabeleireira Fátima Lima Duarte, 50, sabe bem o que é ficar apertada na avenida. Na última vez, ela teve que caminhar 20 minutos. Só conseguiu banheiro no Terminal Américo Fontenelle, na Central.
Lá, no entanto, a reclamação é outra. O banheiro existe e deveria ser gratuito. Mas o masculino, segundo a Associação Assistencial do Microempresário da Área da Central (Aamedac), é ‘administrado’ por moradores de rua. Na quinta-feira, quando a reportagem de O DIA esteve no local, quatro rapazes, que recolhiam dinheiro para caixinha na recepção e varriam a água, confessaram que não eram funcionários da Companhia de Desenvolvimento Rodoviário e Terminais do Estado do Rio de Janeiro (Coderte). “Cada um dá o quanto quiser aqui e a gente dá uma geral ”, disse um dos ‘administradores’.
O publicitário Sidney Avelino, 29 anos, contribuiu com R$ 0,30 e achou justo, já que, na Central teria que gastar R$ 1. “ Não iria fazer na rua”, explicou. A Coderte informou que já determinou a apuração dos fatos. E, se constatadas as denúncias, os envolvidos serão imediatamente denunciados à polícia. A empresa esclareceu que abriu procedimento administrativo visando, se confirmada as denúncias, a imediata exclusão dos quadros os empregados que estejam envolvidos na fraude.

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