SUFOCO - METRÔ

Superlotação e desrespeito pioram acesso de deficientes físicos ao metrô


Cláudio Motta


RIO - Quando o metrô está superlotado, até mesmo a solidariedade fica sem espaço. Portadores de deficiência física dizem que os transtornos para usar o meio de transporte ficam ainda piores. O GLOBO acompanhou a atendente comercial Maria da Conceição de Oliveira Santo, que tem dificuldades de locomoção decorrentes de poliomielite (infecção que pode causar sérias lesões no sistema nervoso e afetar os membros, sobretudo os inferiores). Antes, ela pegava o metrô, sentada, no Estácio. Agora, precisa ir até a Central e, de lá, seguir para o Engenho da Rainha, torcendo para que alguém lhe ceda um lugar.
- De tão cheio que está o vagão, muitas vezes as pessoas sequer conseguem me ver. Outros, mesmo vendo que tenho deficiência, não cedem o lugar, nem mesmo os que são reservados para idosos, gestantes e deficientes físicos - reclama.

" "Vim em pé, num vagão muito quente, insuportável" "
Depois de enfrentar o vagão superlotado e viajar em pé, Maria da Conceição precisa se sentar um pouco nos bancos da estação Engenho da Rainha, para seguir até sua casa:

- Cheguei muito cansada. Vim em pé, num vagão muito quente, insuportável, cheio. Isso é todos os dias. Quem não tem deficiência já sofre. Para alguém como eu, é pior ainda.
O analista de sistemas Daniel Magalhães usa uma cadeira de rodas para se locomover. Ele pegou o metrô na quinta-feira na estação Carioca. Os vagões, de acordo com Daniel, não são preparados para receber deficientes físicos. A entrada também não é uma operação simples. É difícil passar de cadeira de rodas sobre o vão entre o trem e a plataforma.

- Desde que houve a ligação direta entre as linhas 1 e 2, a situação ficou pior. Os vagões não são adaptados para receber um cadeirante. Quando o metrô está mais cheio, é mais complicado - disse Daniel.

Ana Cláudia Monteiro, cadeirante e gerente do Instituto Brasileiro de Direitos das Pessoas Com Deficiência (IBDD), reclama da acessibilidade no metrô. De acordo com ela, em apenas quatro estações - Siqueira Campos, Cardeal Arcoverde, Cantagalo e Ipanema -, o cadeirante não precisa de auxílio para chegar à plataforma.

- Mesmo nas estações que têm acessibilidade, a distância entre o trem e a plataforma é um problema. Isso faz com que seja necessário auxílio em todas as estações para embarque e desembarque. Desde que houve a inauguração da estação Ipanema, o metrô está mais cheio e confuso. Há funcionários que não sabem como lidar com o cadeirante - disse Ana. Empresa diz que faz campanhas educativas

A concessionária Metrô Rio informou que não tem como obrigar os passageiros a cederem seus lugares, mesmo os que são prioritariamente destinados aos portadores de deficiência. Campanhas são feitas para que os usuários sejam solidários.
A estação Ipanema e a ligação direta entre as linhas 1 e 2 foram inauguradas em 21 de dezembro. Já no primeiro dia de operação, houve grandes transtornos. No último dia 10, O GLOBO mostrou que a situação no metrô estava pior.

Uma inspeção realizada na quinta-feira pelo Crea, pelo deputado estadual Alessandro Molon (PT) e pelo Sindicato dos Metroviários reprovou o metrô. Uma CPI poderá ser aberta. Molon pedirá à Justiça, na segunda-feira, a anulação do prazo maior dado à concessionária ou a construção da via que permitirá à Linha 2 ir do Estácio à estação Carioca.

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