MAURO VENTURA

Enviado por Mauro Ventura -

Barraqueira

Na porta de casa, o reboque da Secretaria de Ordem Pública trata de remover a kombi caindo aos pedaços, lotada de cadeiras de praia e isopores. Quatro funcionários e dois guardas municipais participam da operação.

Do outro lado da rua, uma mulher, revoltada, desabafa com um homem.

- Os repórti todo estão me ligando. Avisa que vai ser em frente ao Caesar Park, na segunda-feira de manhã. Vamos encher de gente e fechar a rua. Arruma uns cartazes e umas faixas. Vamos escrever: "Senhor prefeito, queremo trabalhar."

A mulher era uma barraqueira - não porque ela estivesse armando um barraco. Afinal, lembro-me da vez em que escrevi, numa coluna no "JB", que fulano "armou um barraco". Uma leitora me enviou um e-mail indignado, reclamando da expressão pejorativa. Disse que eu tinha sido preconceituoso com os moradores da favela. Um tanto quanto politicamente correta demais a leitora, não?

Continuando. Ela era barraqueira, porque vivia de sua barraca na praia. E agora seu ganha-pão estava em cima de um reboque.

A manifestação é contra o choque de ordem na orla. O problema é que a praia sempre viveu ao Deus-dará. Barraqueiros e banhistas se acostumaram a fazer o que bem entendessem, e estava mais do que na hora de se combater os abusos. Claro que a prefeitura tem cometido excessos - como a retirada dos brinquedos do Baixo Bebê - mas eles podem e devem ser corrigidos. O que ela não pode é deixar como está.

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