JORGE ANTONIO BARROS

Enviado por Jorge Antonio Barros -

a guerra do rio

Porque a banda podre pode estar por trás da reação do tráfico

A reação do tráfico à ocupação policial com a finalidade de implantação de mais uma Unidade de Polícia Pacificadora, em Copacabana, é um sinal de que o projeto do governo do estado está no caminho certo: golpear com firmeza as finanças, o ponto mais sensível de qualquer pessoa ou organização. Segundo estimativas feitas pela polícia, chega a R$ 1 milhão e 200 mil o faturamento mensal dos pontos de venda de drogas do Pavão-Pavãozinho (Copacabana) e Cantagalo (Ipanema).

Ligadas pela encosta que está por trás dos edifícios de classe média, essas favelas estão em área nobre da Zona Sul do Rio e a clientelela do tráfico ali tem alto poder aquisitivo. É formada por muita gente boa de classe média e principalmente turistas. O acesso ao Pavão-Pavãozinho se dá pela Ladeira Saint Roman, onde anos funcionou a redação do Pasquim. Desde a década de 80, o Pavão sempre teve traficantes que faziam bem o papel de Robin Hood, para cooptar os moradores. Um deles foi Tom Zé que, ao ser preso, arrastava praticamente toda a comunidade para o asfalto, pedindo sua libertação. O tráfico conseguiu ali uma base social importante. E isso vai requerer também muito trabalho social do governo do estado, se quiser reverter os danos morais que foram impostos àquela comunidade.

Enquanto os traficantes de drogas estiverem ali entocados, a Secretaria de Segurança vai enfrentar dificuldades para convencer os moradores de que a UPP é pra valer. Mesmo no Dona Marta - que registrou a iniciativa pioneira, no final do ano passado - ainda há quem não confie totalmente na polícia e não tenha aderido ao projeto, sempre temendo a volta dos traficantes armados que durante décadas foram os donos do morro.

Se a reação do tráfico, por um lado, pode significar que o governo acertou na mão, por outro traz alguns indícios de que a situação está fora de controle. Pelo segundo dia consecutivo, o tráfico empregou no asfalto táticas com a clara intenção de aterrorizar a vizinhança e enfrentar a polícia. O incêndio de um ônibus em plena avenida mais importante do bairro que é o cartão-postal mais conhecido do Rio foi um ato de desespero dos bandidos, mas também de ousadia. No primeiro dia, a PM conseguiu prender três pessoas com uma granada e quatro litros de gasolina, que seriam usados para incendiar mais ônibus. Mas ontem os traficantes voltaram a atacar, dessa vez com uma bomba de fabricação caseira que, felizmente, não deixou feridos.

Outro sinal lamentável do episódio é que mais uma vez faltou uma operação de inteligência que mapeasse a reação dos traficantes. Ou alguém duvida que a polícia não foi pega desprevenida, com o incêndio do ônibus, em plena luz do dia e diante de jornalistas do mundo inteiro? Mas se até a imprensa já estava lá como a PM não conseguiu evitar que o ônibus fosse incendiado?

O governador Sérgio Cabral reafirma que vai manter a estratégia de ocupação. Se voltar atrás, o tráfico sem dúvida sairá fortalecido, acreditando ter ganho mais essa batalha (até hoje não se prendeu o responsável pela queda do helicóptero da PM, em 17 de outubro passado).

Além de prosseguir no firme propósito de fazer o que nenhum governo conseguiu nas últimas três décadas - ocupar, prender ou expulsar o tráfico armado das comunidades pobres do Rio - os setores de inteligência da Secretaria de Segurança têm desafio ainda maior, que é o de deter a banda podre que certamente está por trás da reação do tráfico em Copacabana. Mais importante do que conhecer o faturamento do tráfico é saber quanto desse dinheiro vai parar no "arrego" - a propina paga, em sua maioria, a policiais militares que atuam na área. É essa contabilidade que pode de fato desmobilizar o tráfico e levá-lo à definitiva conclusão de que realmente não vale mais a pena corromper policiais porque alguém do andar de cima vai dar trabalho a eles.

A cada implantação de UPP, as análises de inteligência da Secretaria de Segurança precisam prever que sempre haverá ttambém um grupo de policiais insatisfeitos com esse tipo de ocupação, pois poderão ver secar uma de suas fontes de renda - o varejo do narcotráfico. São os parasitas da economia do tráfico.

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