PRAIA DE IPANEMA

Mancha de óleo aparece em Ipanema e Leblon

Fernanda Malta, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - O mar que banha as praias de São Conrado e Leblon amanheceu nesta terça-feira com uma imensa mancha marrom, na altura do Morro do Vidigal. O motivo, segundo o o Instituto Estadual do Ambiente (INEA), teria sido a chuva que caiu durante a madrugada e o início da manhã e fez escoar lixo, terra, resíduos, e até esgoto, das encostas da favela.

Embora a mancha tenha aparecido pela manhã, a direção do Inea só tomou conhecimento do fenômeno às 14h, após ser procurada pelo Jornal do Brasil.

– Neste período, é normal haver pancadas de chuva de repente. Como o Rio é uma cidade que fica entre o mar e a montanha, as águas das encostas acabam sendo despejadas no mar. Mas se dispersam rápido e não oferecem riscos à população – afirmou a gerente de qualidade ambiental do Inea, Fátima Soares.

Apesar de descartar os riscos para a saúde dos banhistas, ela classificou as águas da praia como impróprias para o banho. Mesmo assim, nenhum alerta foi dado às centenas de banhistas que aproveitaram o dia de sol sem saber do problema. A única providência do órgão foi colocar um aviso em seu site, visto apenas por quem acessou o endereço eletrônico à tarde.

– Não achamos necessário colocar placas na orla avisando que o banho está impróprio porque a mancha já havia se dispersado. A restrição aumenta nos locais próximos aos Canais do Jardim de Alah e Visconde de Albuquerque – disse Fátima.

Um salva-vidas que trabalha na praia, no entanto, garantiu que a marca de poluição esteve presente no mar até, pelo menos, 13h.

– É muito raro colocarem avisos de praia imprópria por aqui – disse Marcelo, que trabalha ali há 20 anos.


O microbiologista Roberto Martins Figueiredo discordou do Inea e afirmou que o problema gera riscos aos banhistas, como hepatite A e E, além de disenteria e desidratação.

– As chuvas, geralmente, “lavam” as cidades, carregam toda a sujeira para o mar. As águas se tornam uma espécie de ônibus, que transporta a sujeira até a pessoa, e junto com ela, os vermes. Na dúvida, o procedimento deveria ser isolar a água e fazer uma limpeza.

O médico também ressaltou que crianças e idosos, são mais suscetíveis a contrair doenças.

Falta de aviso provoca críticas de banhistas e é contra a lei


O Artigo 464 da Lei Orgânica Municipal é claro: “o Poder Executivo é obrigado a manter sinalização de advertência nos locais de despejo de esgotos sanitários, industriais ou patológicos, com o fim de esclarecer a população sobre a sua existência e os perigos para a saúde”.

Apesar disso, nenhum carioca, ou turista, foi informado nesta terça sobre a extensa mancha que se espalhou pela praia do Leblon, resultado do lixo escoado pela favela do Vidigal até o mar.

Após o alerta, feito somente pela reportagem, a moradora do bairro Denise Reis ficou revoltada.

– É um absurdo não ter um aviso na areia. Eu venho aqui com meus filhos pequenos e já tive Hepatite A devido à água suja. A gente fica exposta a riscos.

Após o mergulho na água, e no lixo, o estudante Gustavo Martins, 22, percebeu algo errado.

– A água está muito salgada, parece uma lagoa.

Mesmo com o problema, o estudante Ian Micharheles, 21, resolveu arriscar.

– Eu pego onda no Leblon há sete anos e, fora micose, nunca contraí nenhuma doença – afirmou o surfista.

Se, para quem vive na cidade, é uma decepção ver o mar impróprio, para quem vem de longe é ainda pior.

– Acho que deveriam ter mais cuidado com os turistas. É um desrespeito com a gente e com a natureza – disse a paraense Katriane Rocha, neófita no Rio.