Papo com o guarda municipal
Começo da tarde de sexta-feira, dia útil, mesmo assim praia lotada, o barulho de buzina atrapalha a concentração. O motivo do engarrafamento são os carros estacionados irregularmente do lado direito da minha rua, para alegria do guardador, que cobra R$ 10 por veículo.
São 13 automóveis. O guarda municipal passa por eles, indiferente. Na quadra seguinte, há mais 19 carros parados de forma irregular à esquerda, e mais dois do lado direito, totalizando 34 veículos em apenas duas quadras.
Isso em plena sexta-feira, numa amostra do que vai ser o verão.
Vou atrás de um guarda municipal. Procuro nos cruzamentos. Nada. Como é dia de feira, passeio entre as barracas. Nada. Espio nos bares, lanchonetes e restaurantes, vendo se algum está filando uma boquinha. Nada. Em geral, eles são encontrados em grupos, batendo papo embaixo de uma árvore. Nada.
Até que encontro um na calçada. Explico a situação e o convido a me acompanhar para multar os infratores. Ele se desculpa:
- Não posso infracionar. Não cuido de trânsito. Só quem pode multar são os que têm boné branco - diz ele, apontando para o boné bege.
- Então o senhor faz o quê? - pergunto, com alguma ironia.
- Controle urbano. Não deixo camelô parar na calçada. Mas vou avisar para mandarem colegas e um reboque.
Ele pegou seu celular, discou um número e me passou o telefone. Falei com a moça da central, expliquei em detalhes a situação e ela prometeu enviar uma equipe, com reboque.
Enquanto conversamos, na movimentadíssima Avenida Visconde de Pirajá, em Ipanema, um carro com dois homens subiu com as quatro rodas a calçada, parando na transversal, e perguntou ao guarda se podia ficar ali. Não, foi a resposta óbvia.
- Mas a gente só vai esperar um amigo nosso que está no banco - justificam, nem aí para estarem atrapalhando totalmente o fluxo de pedestres.
O guarda voltou a negar autorização. E encerrou o assunto com uma pérola:
- Se eu não estivesse aqui, você poderia estacionar.
Ou seja, desde que o guarda não esteja vendo, o cidadão pode cometer qualquer irregularidade, mesmo que para isso infernize a vida dos outros.
Ah, o reboque e a equipe da Guarda Municipal não deram as caras na minha rua.
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