ATUALMENTE EM IPANEMA

Madrugada em claro em Ipanema

POR VANIA CUNHA, RIO DE JANEIRO

Rio - O risco de balas perdidas não tira só o sono, mas as esperanças de moradores de endereço nobre de Ipanema. Na Rua Nascimento Silva, por exemplo — onde moradores construíram paredes de concreto nas janelas para se proteger —, muitos só pensam em deixar o lugar, que já teve imóveis supervalorizados. Terça-feira, durante operação da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae), O DIA registrou imagens que revelam o medo de quem convive com a violência dos traficantes dos morros do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho.

“Já pensei em mudar daqui, mas não consigo quem compre o apartamento. Oferecem um valor muito abaixo do que realmente vale, pelo menos a metade. Não vou conseguir comprar outro, então, tenho que ir aguentando”, conforma-se um morador do prédio onde algumas janelas foram blindadas.

Um vizinho dele, que também teme se identificar, garante que perdeu as contas de quantas madrugadas ficou sem dormir pelo barulho dos tiros. “É um horror, parece que a guerra é dentro da minha sala. Certa vez, fiquei com tanto medo, que passei a noite sentado no corredor com a minha mulher, temendo que um tiro nos atingisse”, afirmou. Na portaria do edifício, o zelador confirma o temor dos moradores. “Uma bala atravessou a janela e atingiu o armário de uma mulher enquanto ela dormia. Trabalho aqui há 12 anos e a situação só piora”, disse.

Enquanto não conseguem a tão sonhada mudança para longe dos tiroteios, os moradores do asfalto se viram como podem: toldos abaixados, parede de tijolos maciços e janelas blindadas, tudo para se afastar da visão de traficantes armados e bocas-de-fumo. No entanto, a proteção pesa no bolso. “Uma parede de tijolos de 3 x 3 metros pode sair por R$ 800, contando a mão-de-obra e o acabamento”, afirmou um pedreiro que trabalha em reforma de apartamento na Rua Alberto de Campos.

Numa operação no Pavão-Pavãozinho, agentes da Drae prenderam Avelino Gonçalves, o Red Bull, armeiro do tráfico. Ele guardava em casa uma metralhadora Madsen 7.62, que dispara 450 tiros por minuto, além de 9 pistolas, três lunetas, 21 carregadores, cinco submetralhadoras e uma escopeta calibre 12. De acordo com policiais da 13ª DP (Ipanema), o alvo no Cantagalo é o traficante Leandro de Oliveira Rezende, o Azul, que tem mandado de prisão e extensa ficha criminal.

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