GEOGRAFIA INFORMAL

Ipanema e Leblon redefinem sua “geografia informal“
João Pequeno, Jornal do Brasil


RIO - Assim como fluxos migratórios permanentes, a geografia informal nos bairros mais badalados da Zona Sul carioca se transforma, levando mais europeus aos albergues que se multiplicam e mais ipanemenses ao Leblon, sem contar as mudanças dentro de cada região.

Agora, a noite do Leblon é que brilha. Não pela acepção dada em 1995 pelo delegado Hélio Luz, então então chefe da Polícia Civil, referindo-se a um pesado consumo de cocaína. Mais pelos letreiros de neon do bar Itahy, que, entre as ruas Aristides Espínola e Rainha Guilhermina, tem a visão do Baixo Leblon “clássico” separada por um tapume de obras.

Mesmo “segregado”, ele passa a atrair jovens entre 20 e 30 anos, seja por preços mais baratos, seja pela maior permissividade em relação a uma característica comum dos grupos: o barulho.

– Frequentamos outros bares, mas algumas vezes fomos “convidados” a nos retirar por causa de barulho, o que ainda não rolou – conta, sem constrangimento, Vítor Paiva, baixista da banda Os Outros, 26 anos, ao lado de seis amigos.

No Jobi, segundo ele, não chegou a haver expulsão, mas os vizinhos de cima reclamavam.

Morador da Rua Aníbal de Mendonça, no “Quadrilátero do Charme” de Ipanema, o designer Cucko Martins, 30, confirma a atual vocação noturna do Leblon.

– Em Ipanema, de segunda a quinta, a essa hora (meia-noite) tudo fechou, menos o Empório.

A diferença entre o point tradicional e o novo era percebida na partida da Copa do Brasil entre Flamengo e Internacional, há 11 dias. Tanto Jobi quanto Itahy transmitiam a partida, mas enquanto o silêncio era (quase) respeitado no primeiro, o segundo parecia uma sucursal do Maracanã.

Dono do Jobi há 48 anos, o português Narciso Rocha ensina uma receita tão eficiente quanto a dos bolinhos de bacalhau da casa contra o barulho.

– Se gritarem, desligo a TV, porque os vizinhos reclamam.

É claro que o silêncio, em um bar, é relativo; a gaita da atriz Ursula Corona, 27, não causa reclamações, enquanto o cantor e compositor Bena Lobo, 36, namorado dela, encarnava a tranquilidade dali, preocupado só com a chuva.

– É, acho que amanhã não vou à praia – resignava-se, enquanto cultuava o Jobi, “lugar clássico”.

Baixo Méier?

Devido a um tapume, preços mais baratos e menor frequência de globais, houve quem apelidasse de “Baixo Méier” o quarteirão entre Itahy e a padaria Rio Lisboa. Na hora de explicar o termo, porém, ninguém quis ganhar fama de preconceituoso, e o filho feio permaneceu órfão.

Quem ouviu riu, mais do apelido em si do que do Itahy ou do Méier. Do economista Maurício Cavalcanti, 43, que, no Jobi, lembrava que o irmão mora no Méier, a Vítor Paiva, no Itahy, que disse achar “rock'n'roll” estar em um bar comparado ao subúrbio, em uma mesa na qual não faltava o indefectível amendoim de camelô.

Procurada por e-mail pelo JB, a Associação de Moradores do Méier, não respondeu até o fechamento desta edição.

Baixo Guilhem?

Enquanto em um lado do Leblon algo se transforma, no outro tudo se cria. Começou há cerca de cinco anos, com a abertura da sorveteria Itália, na esquina da avenida Ataulfo de Paiva com a rua Almirante Guilhem, onde o restaurante Alesandro e Frederico abre agora sua nova filial e um grupo de sócios inaugurou a lancheteria LeBronx e uma franquia da temakeria Koni Store. Para Maurício Nogueira, um dos sócios, a abertura do Shopping Leblon e a expansão do Rio Design Center mostraram que era um ótimo ponto o trecho entre o cinema e o Jardim de Alah, onde antes não havia quase nada.





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