TURISMO

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Conheça cinco bares onde a história foi feita

Denise Bobadilha

O bar La Bodeguita del Medio, na cidade de Havana, era freqüentado por Ernest Hemingway


Em suas mesas e balcões, intelectuais pensaram em revoluções, poetas se apaixonaram e assassinos escolheram suas vítimas. Saiba mais sobre cinco bares cuja fama vai muito além das bebidas e dos petiscos.

1. Garota de Ipanema, Rio de Janeiro O Veloso, bar a dois quarteirões da praia de Ipanema, era um dos muitos "pés-sujos" frequentados pela turma da bossa nova entre o final dos anos 50 e os anos 60 no Rio de Janeiro. Situado numa esquina, com mesas quase na calçada, petiscos simples e chope gelado, era ponto de encontro de Tom Jobim e Vinicius de Moraes - que, eternos apaixonados pelas mulheres, gostavam de observar o movimento privilegiado do pedaço. Eis que em 1962, numa tarde especial, os dois viram a jovem Helô Pinto (depois Pinheiro), 19 anos, entrando para comprar cigarros, e se encantaram. Dias depois, Tom compôs a música e Vinicius a letra, inspirados na moça - e naquele clima carioquíssimo do Veloso. A canção Garota de Ipanema debutou nas rádios em 1962 e nunca mais saiu. Tom e Vinicius continuaram por lá, assim como Leila Diniz, Ronaldo Bôscoli e a turma do combativo e sarcástico jornal O Pasquim. Em 1966, Tom Jobim estava bebendo lá quando Frank Sinatra telefonou (direto para o bar mesmo, onde era mais fácil achar o compositor brasileiro) para convidá-lo para uma gravação conjunta. Um ano depois, o bar Veloso adotou o nome Garota de Ipanema, que ostenta até hoje. E, mesmo depois de muitas reformas e de virar um ponto turístico obrigatório, o bar continua servindo os dois itens que lhe deram glória no passado: um chope sempre no ponto e um ponto privilegiadíssimo para ver os doces balanços a caminho do mar.
Bar Garota de Ipanema - Rua Vinicius de Moraes, 49, Ipanema, Rio de Janeiro.

2. The Ten Bells Pub, Londres Depois de uma noite fria nas ruas de Londres, as prostitutas do bairro Whitechapel terminavam a jornada de trabalho tomando uma cerveja num dos bares da região, entre eles o Ten Bells Pub. Muitas vezes, tinham que contar com a caridade de alguém para esse trago, já que a miséria imperava e a presença de um serial killer nas redondezas atrapalhava os negócios. Pelo menos uma mulher bebeu no Ten Bells seu último gole antes de ser retalhada por Jack, o Estripador, assassino de no mínimo cinco mulheres em 1888. Estudiosos acreditam que Jack pode ter oferecido um drinque às moças antes de levá-las para um esconderijo secreto e cortá-las sem piedade. Uma ou duas delas estavam no Ten Bells. The Ten Bells Pub é o único dos bares de Whitechapel a manter-se como naquele tempo. A vizinhança vive dias melhores do que a miséria dos tempos vitorianos, mas Whitechapel sempre teve vocação operária - não é das vizinhanças mais charmosas para o turista. Hoje, o som de DJ com as últimas da parada de sucesso (tipo a pop Lilly Allen) e o público de boné e agasalho de ginástica é que dão o clima. Mas os móveis de madeira escura, os papéis de parede esmaecidos e o painel bucólico na parede ainda arrepiam. Para sentir-se mais próximo daquele tempo, vá num domingo à noite, quando o movimento é menor, os atendentes estão no pico do mau humor e o clima lúgubre se sobressai. Só não aceite bebida de um estranho...
The Ten Bells Pub - 84 Commercial Street, metrô Shoreditch ou Aldgate East, Londres.

3. La Bodeguita del Medio, Havana O escritor norte-americano Ernest Hemingway era um boêmio famoso. Bebeu em tantos lugares do mundo que em Madri há uma anti-homenagem a ele: o bar El Cuchi ostenta uma placa com os dizeres "Hemingway nunca bebeu aqui", para diferenciar-se dos estabelecimentos vizinhos. Piadas à parte, Hemingway conseguiu notabilizar muitos bares. Dois deles ficam em Havana (Cuba) e se destacam por manter exatamente o mesmo clima da época em que Hemingway tomava seus mojitos e daiquiris - ou seja, os anos 40 e 50. No La Bodeguita del Medio, em Habana Vieja, as fotos e objetos dos muitos frequentadores famosos contam a história dos tempos em que Cuba era o destino favorito dos intelectuais do continente americano e dos milionários que vinham esbanjar dinheiro e jogar suas fichas na ilha, tomada pela corrupção da ditadura de Fulgêncio Batista. A Revolução Cubana, em 1959, mudou o afluxo de visitantes e acabou congelando o ambiente para a posteridade. O bar Floridita é bem mais antigo - abriu as portas em 1917. Nele também são encontrados o mesmo clima e a reverência ao prêmio Nobel de Literatura de 1954 e a outros habitués ilustres. Nesses dois bares, Hemingway passou tardes e noites inteiras, bebendo (muito) e ouvindo histórias que depois transporia para seus livros, para orgulho dos locais - que lhe prestavam homenagem antes da revolução castrista e continuam prestando até hoje. La Bodeguita del Medio, Calle Empedrado, 206, Habana Vieja, Havana. Floridita, Calle Obispo, 557, Habana Vieja, Havana.

4. Café Tortoni, Buenos Aires Verdadeira instituição argentina, o Café Tortoni, fundado em 1858, recebeu todos os grandes nomes da nação em suas mesas, entre eles o escritor Jorge Luis Borges e o cantor Carlos Gardel (que não era argentino, e sim francês, mas isso é outra história). Seu período de ouro foi os anos 20 e 30, que marcam a ascensão do poeta e contista e o ápice da carreira do cantor de El Dia Que me Quieras. Políticos, pintores, escritores e intelectuais de todo o mundo sentavam-se aqui e discutiam os rumos de um mundo em ebulição. Eram abastecidos com cafés, vinhos e churros. Até mesmo Albert Einstein (quer nome menos familiar à boêmia?) frequentou o Tortoni. Hoje, mais do que pela qualidade do serviço, o Tortoni eterniza-se por seus ambientes elegantes. São pequenas salas em madeira escura, mármore, espelhos e peças de bronze, que abrigam até biblioteca, sala de jogos e espaço para shows (de tango e jazz). O cardápio inclui lanches, pratos rápidos, variações de cafés, sorvetes e vinhos. Há muitos turistas de todo o mundo (principalmente durante as apresentações de tango), mas o ambiente em ebulição continua, com discussões políticas acaloradas em suas mesas. Nem é preciso pendurar fotos nas paredes para lembrar os tempos dourados do Tortoni: eles continuam vívidos no ar que se respira neste café.
Café Tortoni, Avenida de Mayo, 825, Buenos Aires.

5. Café A Brasileira, Lisboa Não dá mais para ficar relaxado e preencher um postal, como nos velhos tempos, sentado ao lado da estátua do poeta Fernando Pessoa. A escultura continua lá, claro, e é uma fotografia obrigatória para quem vai a Lisboa. Mas as mesas do café A Brasileira costumam ficar tão lotadas, que o gesto perdeu um pouco o encanto. Fundado em 1905 como loja de café brasileiro (então uma bebida exótica para os europeus), o estabelecimento servia gratuitamente uma xícara (ou chávenas) para quem comprasse um quilo do pó. Aos poucos, o consumo da bebida ganhou mais importância do que a do produto seco, e A Brasileira virou ponto de encontro de boêmios portugueses nas décadas seguintes. O poeta Fernando Pessoa era o mais assíduo deles - dizem as más línguas que para combater os efeitos do absinto. Aqui, também se serviram o pintor e escritor Almada Negreiros e outros colegas de tintas, palavras e idéias, cujas obras podem ser vistas no belíssimo interior do café, adornado por um grande balcão que percorre todo o salão e pelas mesas com tampo de mármore. Só não espere um grande serviço: os atendentes não são os mais simpáticos do bairro Chiado.
Café A Brasileira, Rua Garrett 120, Chiado, Metrô Baixa-Chiado/bonde 28.

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