PARAÍSO EM IPANEMA


Rio tem dia mais quente do ano; previsão é de chuvas fortes em abril

Eduardo Tavares, Jornal do Brasil

RIO - O Rio viveu nesta sexta o dia mais quente do ano e quebrou seu recorde com a máxima de 39,3º na Praça Mauá. Segundo especialistas, o forte calor que levou os cariocas a abrirem guarda-chuvas para escapar do sol é fruto de dois fatores: o verão, que chegou atrasado, e uma massa de ar quente estacionada no Brasil Central.

Paradoxalmente, quem tentou se refrescar na Barra sofreu com a poluição do Canal de Marapendi, no trecho entre o Quebra-Mar e o Pepê. Como sempre, a mesma ameaça: as algas hepatotóxicas, que se proliferam rapidamente com o calor e a poluição e prometem infernizar os banhistas caso o calor continue.

– Essa massa impede que as frentes frias cheguem até o Rio. Elas são empurradas para o alto mar – explicou o ambientalista David Zee, professor do Departamento de Oceanografia da Uerj.
Segundo Zee, o verão entrou atrasado este ano, por isso os cariocas estão sofrendo com as elevadas temperaturas faltando apenas duas semanas para o fim da estação.

– As águas de março, na verdade, serão as águas de abril, este ano. Com este cenário de calor intenso, é bom os governantes ficarem atentos para os temporais – alertou. – A estação se desenvolverá com dias quentes após o mês de março.

De acordo com outro ambientalista, Mário Moscatelli, as altas temperaturas poderão comprometer ainda mais a qualidade do mar.

– O calor exagerado pode acarretar consequências desastrosas para os banhistas – afirmou. – Uma delas é a proliferação descontrolada das cianobactérias nas lagoas de Jacarepaguá.
Segundo Moscatelli, as águas da Bacia de Jacarepaguá, que desembocam na Barra, se tornarão “sopas de algas hepatotóxicas”.

– Elas atacam o fígado dos banhistas – frisou Moscatelli. – Quanto ao calor exagerado, os bairros afastados das áreas verdes, onde existe concentração de concreto edificado, sofrerão mais, já que não experimentarão a variação de clima frio durante o período da noite. O concreto age como uma estufa.

O recorde de temperatura registrado ontem também apresentou uma contradição nas praias do Rio. Enquanto em Ipanema os banhistas dispensaram os chuveirinhos para aproveitar o mar com águas transparentes, na Barra, altura do Quebra-Mar, o mau cheiro e a mancha escura na faixa de arrebentação irritou os frequentadores.

– A situação da Praia da Barra no trecho entre o Quebra-Mar e o Pepê me desanimou. Nestes dias em que a temperatura atinge os 40º, chego suada da faculdade, com vontade de dar um mergulho e desisto quando piso no calçadão, tamanho é o fedor da água – reclamou a estudante Ana Lima, moradora do Jardim Oceânico. – A opção passa a ser a pequena piscina do meu condomínio, sempre repleta de crianças. Pelo visto quem mora na Zona Sul é privilegiado nesse aspecto – disse.

O panorama da Praia da Barra contrastava com o cenário paradisíaco em Ipanema.

– A praia tem estado maravilhosa. Dispensei os concorridos chuveirinhos das barracas. Ipanema está como Cancun – elogiou a professora Bárbara Amorelli.
Segundo David Zee, o contraste apresentado entre a qualidade da água nas praias da Barra e de Ipanema se deve principalmente a um descaso de governos passados frente a questão do saneamento básico na Zona Oeste.

– Enquanto a Zona Sul conta com um interceptor oceânico que corre ao longo da orla, levando o esgoto das residências para o Emissário Submarino de Ipanema, que posteriormente lança os detritos a 2 km da costa, na Zona Oeste a história é outra – explica. – O emissário da Barra opera em fase inicial há praticamente um ano. Muitos condomínios ainda lançam esgoto nas lagoas e canais da região que chegam ao Canal da Joatinga e desembocam na Praia do Quebra-Mar.

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