VERGONHA !!!

Praças do Rio têm brinquedos quebrados e presença de sem-teto

Ana Paula Verly, Jornal do Brasil

RIO - A Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, tem um espaço coberto por um ipê roxo. Ideal para se abrigar em dias como o desta segunda-feira, chuvosos, e ao mesmo tempo estar ao ar livre. Nesse ambiente, um morador de rua tirou um cochilo nesta segunda à tarde, esparramado no meio do longo banco de madeira, enquanto um casal de turistas com a filha se apressava em fugir das gotas cada vez mais grossas. Longe deles, Ane Justino, de 9 anos, cavava com a ponta dos dedos o que sobrou de areia no canteiro de brincadeiras. A cena é só uma amostra da herança maldita recebida pela atual administração da prefeitura: algumas praças e parques da cidade estão abandonados e acabam representando um perigo real para as crianças que, em plena época de férias, se arriscam a brincar nelas.

– Era mais legal, porque tinha areia para brincar, mais brinquedos e uma casinha de madeira – lembra a pequena Ane, que tem saudade da pracinha de uns anos atrás.

O pai dela, Valdek Justino, aponta carências mais sérias: falta segurança para afastar os pivetes e manutenção nos brinquedos. Os moradores de rua levam bolsas com comida e deixam os restos espalhados. O mau cheiro fica insuportável, e as crianças não podem brincar à vontade. A ferrugem nas correntes dos balanços deixa as mãos delas encardidas, pois precisam de cuidados, constata o pai zeloso.

– Falta um pouco de cada coisa para a praça voltar a ser o que era. Procure um guarda. Não tem – chama a atenção.

Para a fotógrafa Bernadete Lou, mãe de uma menina de 3 anos, fazem falta os brinquedos anteriores – de madeira e pneus – e os patos nadando no laguinho.

– Padronizaram os brinquedos. Os antigos eram diferentes, criativos, lúdicos. Antes havia ocas e uma ponte que balançava. Os brinquedos agora são de ferro, menos seguros. A praça era bem cuidada, tinha grama e flores. Atualmente, está abandonada – lamenta.

O que Lou diria, então, da Praça Antero de Quental, no Leblon, apontada por mães e babás como a pior do bairro? O descaso, acusam, já provocou um acidente grave no escorrega, sem uma das hastes de segurança há três meses. Uma criança pequena caiu do topo, por não ter onde se segurar, e foi para o hospital com o rosto sangrando.

– Tiraram a haste e até agora não recolocaram. Duas crianças também já caíram do balanço quebrado – conta, apontando o brinquedo pendurado por uma corrente.

Falta ainda religar a energia, capinar, reinstalar um balanço, duas peças de mármore de dois bancos e segurança para intimidar os moradores de rua, que fumam maconha e sujam o lugar.
– Há dias em que as crianças não podem brincar por causa do cheiro. Já presenciamos briga com faca. Nesse dia, chamamos a polícia. Essa praça tinha de ser gradeada e ter um vigia – sugere a advogada Evelin Souza, atenta a João, de 4 anos.

Evelyn tambem não gosta dos ônibus que estacionam no entorno e ocupam o ponto de embarque e desembarque. A babá Joseli Alves reclama da limpeza.

– Todo mundo fala que a pior é essa daqui. Ninguém quer mais trazer as crianças. Antes ficava cheia. Agora, é vazia – avalia.

Os problemas se repetem. Na Praça Serzedelo Correia, em Copacabana, também há menores inalando solvente em plena luz do dia, bancos com pedaços de madeira soltos e gangorra sem alças. A corretora de imóveis Maria Lúcia Oliveira, 66 anos, prefere levar os seus netos nas pracinhas de Jacarepaguá, onde moram.

– Não vale a pena trazer aqui. Depois das 17h, vem muito morador de rua – observa.

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