ZUENIR VENTURA

Sou contra

Zuenir Ventura

O Globo, 17/12/2008

Quem viu o que eu vi no ano passado não deseja repeteco. A experiência do último réveillon em Ipanema, onde moro, foi um desastre. Invadidas por ambulantes com seus fogareiros a gás cozinhando churrasquinhos e cachorros-quentes, a pista e a calçada viraram um mafuá perigoso de se atravessar.

E não foi só. Se o risco de incêndio e a falta de higiene não bastassem, se fosse pouco as calçadas terem virado mictório, houve ainda as brigas e confusões que exigiram a presença do Batalhão de Choque da PM e causaram a morte de um homem com um tiro no abdômen - sem falar na poluição sonora daquele ritmo de bate-estaca que não deixou parte do bairro dormir (em Ipanema, a distância que o som tem de percorrer entre a areia e os prédios é bem menor do que em Copacabana). Qual é a compensação para tantos inconvenientes? Sei que há os que apóiam a festa alegando que é apenas uma noite de transtornos por ano e que se trata de uma atração para os jovens. Além do mais, o bairro é turístico e quem mora nele deve pagar um preço por isso. E por que só Copacabana, reclamam, tem direito a realizar um grande réveillon? Começando pelo último argumento. O fato de já acontecer ali perto a maior festa de virada do mundo me parece mais um motivo para a diversificação.

Por que não deixar para Ipanema a alternativa de um réveillon mais tranqüilo, com outro tipo de curtição, sem o agito do bairro vizinho? Há décadas que na noite de 31 de dezembro minha mulher e eu vamos a pé até Copacabana para assistir à queima de fogos - nós e famílias inteiras, algumas levando até filhos de colo. Com exceção do ano passado, íamos e voltávamos na santa paz de Deus. Dizia-se que era a única ocasião em que se podia andar pela Zona Sul às 3 horas da madrugada sem medo e sem risco.

Também não concordo com o argumento de que, além do IPTU alto, a gente tem que pagar em incômodo e desconforto por morar em área turística.

Cidades como Paris, capital do turismo, já ensinaram que é possível oferecer ao visitante as duas coisas: atração e ordem urbana. E faturar com isso.

Quem disse que turista gosta de bagunça? Por fim, o que fazer com os jovens, que preferem ser - não ver - o espetáculo? Querem dançar. É simples: se Ipanema não tem o ritual dos fogos, se o que oferece é apenas o espaço para o baile, por que não destinar outro lugar mais amplo e desimpedido, sem moradores próximos, sem limitações, onde 20 DJs possam tocar a todo o volume gêneros como o funk e a música eletrônica, que são por natureza mais espaçosos e barulhentos? A coordenadora do Projeto de Segurança de Ipanema dá a sugestão: os galpões do Cais do Porto. Lá, lembra a empresária Maria Ignez Barretto, não tem vizinhança.

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