MONSTRENGO !

Rio Acima

- Obelisco, Asterisco e a estátua do ET

Marcelo Migliaccio

Toda vez que eu fico preso num engarrafamento ali naquele gargalo do Obelisco de Ipanema, olho para o monstrengo no meio da rua e lembro de um amigo que perguntou por que fizeram um monumento para o Obelisco se o Asterisco é que era o herói da história em quadrinhos. Tudo bem, essa é infâme, mas rigorosamente verdadeira.
O que eu queria mesmo é que Eduardo Paes entrasse para a História como o prefeito que removeu aquele delírio de vaidade e incompetência plantado no meio de uma das avenidas mais movimentadas da Zona Sul. Se, do outro lado do mundo, colocaram estátuas de Lênin e Stálin abaixo, por que aqui não podem implodir aquele falo gigante? Obelix não vai reclamar.

Aliás, o que há de prefeitos que esculhambaram cidades de norte a sul não é brincadeira.
Em Varginha (MG), um iluminado alcaide resolveu homenagear a personalidade local mais conhecida nacionalmente: o ET que teria sido encontrado lá em 1996. Parece incrível, mas quem entra na progressista cidade do interior mineiro dá de cara com um extra-terrestre de concreto em tamanho gigante. E, como o artista plástico contratado para a empreitada não era nenhum virtuoso, a comadre da minha ex-sogra, que é míope, quando viu o monumento ao alienígena fez o seguinte comentário: "Até que enfim uma justa homenagem a esse grande homem público que é o Marco Maciel..."

Minas, por onde andei recentemente, é um manancial. Em outra cidade, à beira do Rio Sapucaí, o prefeito viajou com a patroa a Miami e ficou maravilhado com a profusão de cores que encontrou na capital norte-americana da breguice. De volta à sua terra natal, o líder carismático resolveu colorir um pouco a paisagem e mandou pintar todas as árvores, postes, prédios públicos e até as placas de sinalização do trânsito da cidade de roxo e rosa. A Justiça brecou a caipiragem psicodélica nos sinais, mas o resto do município continuou colorido até o final do mandato.
Aqui mesmo no Estado do do Rio, numa cidade no caminho da Região dos Lagos, o prefeito cismou de fazer um grande banheiro público no meio da principal praça. Aquela tradicional confraternização, que antes tinha lugar nos bancos e jardins, agora acontece enquanto as pessoas fazem suas necessidades fisiológicas no Banheirão. Teve até um vereador delirante – da situação, claro – que falou em inscrever o escatológico ponto turístico no concurso das Sete Maravilhas do Mundo Moderno!

Vai longe a época romântica em que os municípios do interior eram tranqüilos recantos a embalar os sonhos utópicos de quem vive no estresse das metrópoles. Foi-se o tempo em que se dizia que "toda cidadezinha brasileira tem uma praça, uma igreja e um craque de futebol".
Hoje, no lugar dos craques, prolifera o crack, droga que vicia só de olhar. Para cada igreja, há 20 templos pentecostais. Em volta das praças, em vez das prosaicas charretes, agora circulam carros de som anunciando as ofertas do comércio num volume ensurdecedor. E as crianças que jogavam bola descalças no chão de paralelepípedos estão enfurnadas nas lan houses, dando tiros virtuais de AR-15 ou aplicando golpes mortais de luta livre. Bucólico, não?

O leitor Marcelo Virmond de Andrade, do Jardim Botânico, leu o texto de domingo passado e conta sua experiência traumática com um macaco – prego, pela descrição – que invadiu sua casa. Atraído por bananas que a sogra de Marcelo deixara madurando, o primata fartou-se e fez necessidades fisiológicas pelos quatro cantos do imóvel. Apesar de chocado, o leitor conta ter encontrado um motivo de satisfação: o invasor deixou sua marca na bolsa de maquiagem e em algumas calcinhas da mãe de sua esposa.

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