Praia de Ipanema, vista do Arpoador - Foto de José Conde da Rocha
Ipanema era só felicidade...
Antes da "era Sérgio Dourado" esta frase definia bem aquela larga faixa de terra e areia que se situava entre o mar e a lagoa.

Quem viveu por aqui há uns trinta, quarenta ou mais anos deve estar lembrado da Churrascaria Pirajá e da jaguatirica que lá existia, do Cinema Astória (depois TV Excelsior), da Casa Reis (papelaria do meu amigo Manoel Reis, que está lá até hoje), do Foto Máximo (onde revelei os meus primeiros filmes), da Sorveteria do Morais.
Ainda existe o largo conhecido por Bar Vinte, assim chamado porque a Rua Visconde de Pirajá se chamava Rua Vinte de Novembro e havia um "Bar Vinte de Novembro" naquele local em que o bonde fazia a volta. Ali já houve um posto de gasolina e, quando criança, lá se vão mais de cinqüenta anos, era tratado como se automóvel fosse, tomando uma ducha ao voltar da praia. Era a época em que só havia casas e pequenos prédios em Ipanema.
Ipanema tem muitas histórias. Estas, espero, começarão a aparecer e a enriquecer esta página a ela dedicada.
Sabendo da minha intenção de escrever sobre Ipanema, amigos me telefonam dando suas idéias e sugestões:
-- Não esqueça de mencionar o Zepelin, e aquela Churrascaria que o Vinicius adorava freqüentar! Há muita coisa a recordar!
Ipanema está pronta para receber suas histórias.

IPANEMA - 110 ANOS
A história de Ipanema
Globo Online - 22 de abril de 2004Enquanto você lê este texto, um novo modismo deve estar surgindo em Ipanema. Apesar dos 110 anos, o bairro continua cheio de charme. E de novidades. A data do aniversário é comemorada em função da fundação da Villa Ipanema, 1894.Os primeiros moradores foram os índios tamoios. Por volta de 1575, os colonizadores portugueses dizimaram os índios e ali instalaram o Engenho Del Rei. Em 1609, as terras foram doadas a Sebastião Fagundes Varela, que trocou o nome do lugar para Engenho Nossa Senhora da Conceição. O Engenho foi acumulando prejuízos até ser desapropriado e leiloado pelo rei dom João VI, em 1808. A área era conhecida como Praia de Fora e mudou de mãos várias vezes até ser comprada pelo comendador Francisco José Fialho, que a repassou ao filho, José Antônio Moreira Filho. Mais conhecido como.... Barão de Ipanema.Quando o Barão de Ipanema herdou o terreno, em 1886, a área nada mais era que um desvalorizado areal da Fazenda Copacabana. Só era possível chegar de canoa, de barco ou a pé. Apesar dos obstáculos naturais, ele decidiu explorar a área comercialmente. A planta do futuro bairro já mostrava 19 ruas e duas praças. Em 1884 surgia a Villa Ipanema, com ruas e lotes colocados à venda.Em 1892, entra em funcionamento uma linha de bonde puxada a burro sobre trilhos de madeira móveis entre Botafogo e a atual Praça Serzedêlo Correia, em Copacabana. Em 1894, a linha foi estendida até o Posto 6, na época conhecido como Praia da Igrejinha. No mesmo dia, o barão inaugurou uma linha de bonde não oficial, ampliando o trajeto até a Villa Ipanema. Foi aí que o negócio deslanchou e o barão começou a vender suas terras, principalmente a imigrantes alemães, franceses, judeus e italianos.Ipanema cresceu, mesmo que um pouco isolada do resto da cidade. Nos anos 40 e 50 não existia sequer uma boate por ali. Mas a partir da década de 60, o bairro começou a exportar modismos. Foi lá que a bossa-nova se estabeleceu, que Leila Diniz brilhou, que a Banda de Ipanema passou. Nos anos 70, surgiram "as dunas do barato", o local de encontro da geração desbunde. Nos anos 80, o bairro viu nascer nas suas areias o Circo Voador. Ipanema teve verões marcantes como o "da lata" e o "do apito". E fez a moda entrar na moda com lojas que ficaram para a história como a Bibba, a Blu Blu e a Company.E agora mesmo, um passeio pelas ruas arborizadas do bairro pode revelar novos ateliês ou simpáticos cafés. O bairro não pára.

Pôr-do-sol em Ipanema - Foto de Percy Thompson
Visão do paraíso
Zuenir Ventura
A cerimônia se repete todo dia. No começo da noite, quando o sol acaba de cumprir o seu trajeto habitual e desaparece lá pelos lados do Vidigal, os banhistas da Zona Sul se levantam da areia e aplaudem de pé. Os moradores já estão acostumados com o ritual. De casa ouço o barulho das palmas, dos assovios, de gritos e exclamações que se espalham pela Praia de Ipanema entre 19h30m e 19h45m. Às vezes vou ver.São jovens que não eram nascidos no verão de 68/69, quando o costume foi lançado num "dia de exportação", como se dizia. Diante de um pôr-do-sol como esses de agora, o jornalista Carlos Leonam não se conformou: "Essa tarde merece uma salva de palmas!" Imediatamente, o grupo em que estava na altura do Posto 9 - Glauber Rocha, Jô Soares, João Saldanha, entre outros - deu início aos aplausos. Depois, o publicitário Roberto Duailib consagrou a cena, recriando-a num comercial de bronzeador para a televisão. A cidade que, segundo Nelson Rodrigues, vaiava até minuto de silêncio era capaz, também, de aplaudir o entardecer.De lá para cá, tudo mudou - o país, a cidade, o mar, a praia, menos o sol. Em forma de enorme bola de fogo, ele continua realizando sua lenta e cuidadosa operação de descida em direção ao mar. Durante os 10 minutos que leva para mergulhar por inteiro, a praia lotada permanece observando em contrito silêncio, à espera da explosão final.Na terça-feira passada, porém, foi diferente. O boletim do tempo informara que o céu estaria nublado e que a lua nova se encontrava em transição, como o país. O sol deveria se pôr às 19h43m, mas chegou um pouco atrasado e escondeu-se atrás de estranhas nuvens luminosas, estreitas, dispostas em grupos como se fossem pinceladas ralas e irregulares sobre o azul. A meteorologista Marlene Leal, a quem recorri no dia seguinte, explicou que aqueles "rabos-de-galos" eram formados por diminutos cristais de gelo situados a grandes altitudes. E que o delírio de luz e cor que me deslumbrara ocorria por causa da incidência dos raios solares sobre os cristais. Um mero fenômeno de reflexão chamado cirro-estrato.No entanto, para a jornalista da TV italiana que estava fazendo uma reportagem sobre a violência no Rio, era outra coisa. Das pedras do Arpoador, câmera na mão, ela não sabia o que admirar mais: se o espetáculo do pôr-do-sol ou o da salva de palmas. Viera atrás do inferno e estava ali, atordoada pela beleza, diante de uma visão do paraíso.


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